Reflexões sobre a fama
Pedro
J. Bondacauk
A fama é, entre as
situações possíveis na vida de uma pessoa, uma das mais polêmicas e menos
consensuais das tantas e tantas que conheço. Há, por exemplo, quem batalhe a
vida inteira por sua obtenção e se frustre, ou quando consegue ou quando não
tem êxito.. Algumas pessoas não a obtêm jamais enquanto vivas. Em alguns casos
(nem tão raros assim), a fama, todavia, lhes surge depois de mortos, quando já
não lhes serve para nada. Aliás, tenho dúvidas se ela serve para alguma coisa.
Mas depois de mortos... é ironia das ironias!
Há quem fuja da fama e
prefira viver para sempre no maior anonimato possível. Ironicamente, muitas
pessoas que pelas mais variadas razões tenham esse tipo de empenho, fracassam
nesse esforço. Acabam famosas à revelia. A fama, afinal, depende de terceiros
e, convenhamos, de uma imensa quantidade deles. Há quem se decepcione com ela,
por perceber que essa condição que tanto quer não é o que julgam. Lamenta,
principalmente (mas não só), a perda da privacidade que dela deriva. Mas...
depois de obtida já é tarde para não querer.
Há muitas e muitas
outras situações que, por mais que eu atente e me esforce, não conseguirei
lembrar. Não, pelo menos, de todas. Há, por exemplo, quem se destaque pela
bondade, que no íntimo saiba que não tem. Existe, também, o oposto (caso mais
comum), ou seja, o de indivíduos lembrados por maldades, vícios, corrupção e
até por atrocidades supostamente cometidas, mas que sabem nunca terem cometido.
Todavia, na memória e na boca do povo fica assente que cometeram. E nada e
ninguém conseguem desfazer esse equívoco. É um dos preços da fama e dos mais
caros.
Há, ainda, os que
prefiram o simples e manso reconhecimento pelo que são ou pelo que fazem ou
fizeram (pelo menos é o que dizem, alegando que nunca quiseram ser famosos,
embora no íntimo quase sempre tenham desejado ardentemente isso). E vai por aí
afora. Escrevi, em várias ocasiões, a esse propósito, sob os mais variados
enfoques, e sequer cheguei a “arranhar” o assunto, tão amplo que ele é.
Aliás, não fui o único,
e muito menos o “melhor”, a abordar esse polêmico tema. Uma infinidade de
escritores escreveu a respeito, ora inserido em poemas, ora em contos, ora em
romances, ora em extensíssimos ensaios com análises filosóficas a propósito e,
mesmo assim, restaram infinitas lacunas à espera que alguém as preencha com
textos inteligentes e convincentes. Fiz uma pesquisa um tanto aleatória e
rápida, para redigir estas considerações, e encontrei, sem fazer muita força,
de cara, quatro menções a essa situação, e sob enfoques bem diversos e
conclusões da mesma natureza.
O filósofo inglês
Francis Bacon, por exemplo, comentou sobre os equívocos que levam alguém a ser
famoso (pelo próprio empenho ou mesmo à revelia). Afirmou: “A fama é como um
rio, que mantém à superfície as coisas leves e infladas, e arrasta para o fundo
as coisas pesadas e sólidas”. Noto, nestas considerações, um defeito básico e
recorrente no que se refere a citações, principalmente quando tomadas
isoladamente, fora do contexto em que foram feitas: o das generalizações. Não
sei se Bacon estava mesmo convicto – ou se fez alguma ressalva a propósito em
outro ou em outros textos – que isso que afirmou ocorre “sempre”. Se estava,
obviamente, pisou na bola. Há casos e casos de fama, com intensidades e por
razões diferentes e positivas.
Não há dúvida que
muitos se tornam famosos por motivos errados, ou seja, por alguma picuinha que
despertaram, ou episódio eventual que protagonizaram ao qual não deram maior
importância, ou por característica que os outros consideraram “anormal” ou por
outras tantas causas menores, em detrimento de uma obra sólida ou de uma
conduta exemplar, ou de ambas coisas. Mas muitos, também, obtêm fama por
virtudes e méritos que deveriam sempre prevalecer para tornar alguém famoso.
Cada vez me convenço mais de que a constatação de Nelson Rodrigues, de que
“toda generalização é burra”, é muito mais do que mera frase de efeito, como
alguns acham.
Outra citação a
propósito é do filósofo norte-americano Ralph Waldo Emerson, que afirmou que “a
fama é a prova que as pessoas são crédulas”. E não são? Afinal, ninguém se
torna famoso se os outros não “acreditarem” em seus méritos (ou em seus
deméritos, no caso de obter renome por seus vícios, maldades e/ou burrice).
Essa citação, mesmo fora de contexto, é auto-explicativa, pois trata de uma
generalização válida e lógica. Concordo com ela.
A terceira citação que
separei (aleatoriamente) é de um homem tido e havido como gênio, por haver
explicado o inexplicável, ou seja, as noções de matéria, energia, tempo e
espaço, enfim, a relatividade. Claro que me refiro a Albert Einstein, que
escreveu: “A fama é para os homens como o cabelo: cresce depois da morte,
quando já lhe é de pouca serventia”. Como frase de efeito, é perfeita. Como
verdade, porém, comete também o pecado mortal da generalização. Nem sempre
alguém se torna mais famoso depois que morre. Aliás, o mais comum é se tornar
até mesmo “menos”. Quanto aos cabelos...
óbvio, está coberto de razão.
Eu poderia parar por
aqui, que meu “peixe estaria bem vendido” (ou, pelo menos, razoavelmente). Mas
trago à baila uma última citação, das tantas que selecionei a propósito, de
cuja exatidão não tenho a mínima certeza. Ora, sinto-me tentado a contestá-la
liminarmente, ora a concordar com ela, com poucas ou mesmo sem nenhuma
restrição. Foi feita por um dos meus poetas favoritos, Rainer Maria Rilke, e
diz: “A fama é a soma dos mal-entendidos que se reúnem em volta de um homem”.
Qual é a sua opinião a respeito, paciente e atento leitor? Você concorda com a
citação? Discorda? Em um caso ou no outro, a concordância (ou a discordância) é
total ou parcial? Pense nisso!!! Ponha os neurônios a funcionar. É um ótimo
exercício para o cérebro.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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