Thursday, March 28, 2013


Angústia e expectativa


Pedro J. Bondaczuk

O Brasil viveu, desde o primeiro dia deste mês, um clima de comoção nacional com a morte de Ayrton Senna, na curva Tamburello, na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino, disputado no circuito de Ímola, na Itália. Afinal, tratava-se de um dos raros brasileiros que ainda conseguiam dar alguma alegria a este sofrido povo, que mostrou saber reconhecer o valor e o talento daqueles que têm essas virtudes.

Mas a vida continua e devemos é olhar para a frente, tendo no passado, somente, um conjunto de lições que orientam nossos procedimentos. Da mesma maneira com que o País se vestiu de luto, neste maio tenso e tormentoso, certamente explodirá em festa a qualquer momento, quando menos se esperar, em conseqüência de algum acontecimento positivo, que torne a despertar o adormecido patriotismo da população, mas desta vez sem a dor causada pelo desaparecimento do nosso campeão. Assim é a vida: cheia de alternâncias e surpresas, a maioria não muito agradáveis.

No plano econômico, já sabemos a data da entrada em vigor da nova moeda, o real, que vai ocorrer em 1º de julho próximo, e o ceticismo da maioria contrasta, de forma acentuada, com as declarações otimistas do governo e de certos economistas que apostam no sucesso do novo plano.

Greves e mais greves vêm sendo deflagradas por todas as partes, com os grevistas reivindicando a reposição de possíveis perdas salariais e atormentando ainda mais o dia-a-dia do já atribulado cidadão. 

Como se observa, trata-se de um período de tristeza, decorrente da morte de Ayrton Senna, e de incertezas quanto ao amanhã, que se afigura cada vez mais nebuloso e tensionante.

Haja coração para tudo isso! Mas as possibilidades de mudanças são concretas e estão em nossas mãos, embora nos sintamos impotentes diante de tantas dificuldades. No terreno esportivo, da mesma forma que surgiu o pranteado campeão, outros podem aparecer e resgatar o nosso orgulho de vencedores. É possível (e provável) que eles até já existam, à espera, apenas, de uma oportunidade, ou, quem sabe, do acaso, para poderem se projetar.

Vem aí, por exemplo, a Copa do Mundo dos Estados Unidos, e as chances do Brasil obter o tetra são reais e estão longe de se constituir num mero sonho. Mesmo no automobilismo, é injusto não dar um voto de confiança à nova geração, a Rubens Barrichello, a Christian Fittipaldi, a Gil de Ferran e a outros menos conhecidos, que lutam para conseguir o seu espaço no coração dos brasileiros.

Quanto à nova moeda, embora o ceticismo seja justificável, dadas as experiências malogradas anteriores, temos uma íntima convicção de que, em curto prazo, sua introdução vai deter a escalada inflacionária. No dia 10 passado, o chamado “menino prodígio” da economia mundial, Jeffrey Sachs, responsável direto pelo êxito boliviano em derrubar uma inflação de 40.000% anuais para algo próximo de zero, além de ter assessorado os governos do polonês Lech Walesa e do russo Boris Yeltsin, participando de uma palestra em São Paulo, afirmou que a atual estratégia brasileira é absolutamente correta.

Previu, sem sombra de dúvidas, que o plano vai dar certo, já que tecnicamente é viável e não traz em si, como os anteriores, o ranço do imediatismo. Tomara que sim! Porque o clima reinante no País não é dos melhores. Greves, ocupações de prédios públicos e de terras, a violência urbana e o generalizado descontentamento deixam clara, claríssima a ameaça de uma explosão social de conseqüências imprevisíveis. Oxalá, por trás dessas nuvens de tempestade, estejam dias de intensa alegria e tranqüilidade.            

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 14 de maio de 1994)

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