Angústia
e expectativa
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil viveu, desde o primeiro dia deste mês, um
clima de comoção nacional com a morte de Ayrton Senna, na curva Tamburello, na
sétima volta do Grande Prêmio de San Marino, disputado no circuito de Ímola, na
Itália. Afinal, tratava-se de um dos raros brasileiros que ainda conseguiam dar
alguma alegria a este sofrido povo, que mostrou saber reconhecer o valor e o
talento daqueles que têm essas virtudes.
Mas a vida continua e devemos é olhar para a frente,
tendo no passado, somente, um conjunto de lições que orientam nossos
procedimentos. Da mesma maneira com que o País se vestiu de luto, neste maio
tenso e tormentoso, certamente explodirá em festa a qualquer momento, quando
menos se esperar, em conseqüência de algum acontecimento positivo, que torne a
despertar o adormecido patriotismo da população, mas desta vez sem a dor
causada pelo desaparecimento do nosso campeão. Assim é a vida: cheia de
alternâncias e surpresas, a maioria não muito agradáveis.
No plano econômico, já sabemos a data da entrada em
vigor da nova moeda, o real, que vai ocorrer em 1º de julho próximo, e o
ceticismo da maioria contrasta, de forma acentuada, com as declarações
otimistas do governo e de certos economistas que apostam no sucesso do novo
plano.
Greves e mais greves vêm sendo deflagradas por todas
as partes, com os grevistas reivindicando a reposição de possíveis perdas
salariais e atormentando ainda mais o dia-a-dia do já atribulado cidadão.
Como
se observa, trata-se de um período de tristeza, decorrente da morte de Ayrton
Senna, e de incertezas quanto ao amanhã, que se afigura cada vez mais nebuloso
e tensionante.
Haja coração para tudo isso! Mas as possibilidades
de mudanças são concretas e estão em nossas mãos, embora nos sintamos impotentes
diante de tantas dificuldades. No terreno esportivo, da mesma forma que surgiu
o pranteado campeão, outros podem aparecer e resgatar o nosso orgulho de
vencedores. É possível (e provável) que eles até já existam, à espera, apenas,
de uma oportunidade, ou, quem sabe, do acaso, para poderem se projetar.
Vem aí, por exemplo, a Copa do Mundo dos Estados
Unidos, e as chances do Brasil obter o tetra são reais e estão longe de se
constituir num mero sonho. Mesmo no automobilismo, é injusto não dar um voto de
confiança à nova geração, a Rubens Barrichello, a Christian Fittipaldi, a Gil
de Ferran e a outros menos conhecidos, que lutam para conseguir o seu espaço no
coração dos brasileiros.
Quanto à nova moeda, embora o ceticismo seja
justificável, dadas as experiências malogradas anteriores, temos uma íntima
convicção de que, em curto prazo, sua introdução vai deter a escalada
inflacionária. No dia 10 passado, o chamado “menino prodígio” da economia
mundial, Jeffrey Sachs, responsável direto pelo êxito boliviano em derrubar uma
inflação de 40.000% anuais para algo próximo de zero, além de ter assessorado
os governos do polonês Lech Walesa e do russo Boris Yeltsin, participando de
uma palestra em São Paulo, afirmou que a atual estratégia brasileira é absolutamente
correta.
Previu, sem sombra de dúvidas, que o plano vai dar
certo, já que tecnicamente é viável e não traz em si, como os anteriores, o
ranço do imediatismo. Tomara que sim! Porque o clima reinante no País não é dos
melhores. Greves, ocupações de prédios públicos e de terras, a violência urbana
e o generalizado descontentamento deixam clara, claríssima a ameaça de uma
explosão social de conseqüências imprevisíveis. Oxalá, por trás dessas nuvens
de tempestade, estejam dias de intensa alegria e tranqüilidade.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 14 de maio de 1994)
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