No tempo certo
Pedro
J. Bondaczuk
O tempo, posto se trate
de conceito abstrato, de símbolo criado e convencionado pelo único animal
inteligente da natureza – pelo menos dos que se tem certeza que existam – não
deixa de ser, simultaneamente, concreto. Mesmo sem sua simbologia, caso não existisse,
perceberíamos (e percebemos) sua existência e, por consequência, seu transcurso
ou sua passagem. É tema inesgotável que, por mais que se escreva a propósito,
sempre se omitirá uma infinidade de aspectos.
A enciclopédia
eletrônica Wikipédia, por exemplo, com a objetividade que a caracteriza, traz
uma série extensíssima de informações sobre o assunto, mas, por mais objetiva
que possa ser, sequer se aproxima do seu esgotamento. Nem poderia. É
inesgotável. Entre minhas cerca de 2.200 crônicas, por volta de um terço tratam
do tempo, sob seus mais variados aspectos e, para dissecá-lo (já nem digo por
completo, mas de forma apenas remotamente aproximada), teria que viver dezenas
de vidas e dedicar todos os anos delas a escrever a propósito e, mesmo assim, não
conseguiria. Exagero? Longe disso.
Para que vocês entendam
a complexidade do tema, sequer existe uma definição desse conceito que seja
precisa, incontestável e, portanto, consensual. Tentem defini-lo. O que é o
tempo? Não me refiro a clima, uma de suas conseqüências e tomado (erroneamente)
como seu sinônimo. Nem às formas criadas pelo homem para sua medição. Muito
menos à sua padronização, que foi feita, apenas, por volta da primeira metade
do século XIX.
Não é sua conceituação
matemática que me interessa e muito menos a física, que se baseia, por sua vez,
nos conceitos matemáticos. É seu aspecto filosófico o que mais me intriga e
estimula o raciocínio (provavelmente ampliando as conexões de neurônios do
cérebro, expandindo sua capacidade. Afinal, esse nobre órgão, que comanda todos
os demais, requer, como eles, exercício
constante para permanecer saudável e se desenvolver).
Já que mencionei a
Wikipédia, transcrevo conceituações de alguns estudiosos do tema, citados pela
enciclopédia eletrônica. Um deles é o físico teórico norte-americano John
Archibald Wheeler, que afirmou que o tempo “é o jeito que a natureza deu para
não deixar que tudo acontecesse de uma vez”. Embora sua observação tenha um quê
de poético, não se tratou, óbvio, de um poeta. Foi um cientista (morreu em
2008) e dos mais respeitáveis, tendo, em seu currículo – além de ter sido um
dos últimos colaboradores de Albert Einstein – o pioneirismo na elaboração da
teoria da fissão nuclear, posteriormente comprovada na prática.
Já o “pai da teoria da
relatividade” definiu o tempo (conforme a Wikipédia informa) com uma só
palavra: ilusão. “Mas como?!!”, perguntará, atônito, o leitor, que esperava uma
conceituação mais precisa de um gênio dessa envergadura. Mas Albert Einstein
confirma sua constatação: “A distinção entre presente, passado e futuro não
passa de uma firme e persistente ilusão”. Há como contestar? De que forma?
Baseados no quê?
Ainda aproveitando as
informações da Wikipédia, a enciclopédia eletrônica cita antiga frase, que era
dita e repetida “n” vezes por dia pelos locutores da Rádio Relógio do Rio de
Janeiro, que considero um primor e com a qual concordo plenamente: “Cada
segundo que passa é um milagre que jamais se repete”. Há como contestar
afirmação tão óbvia, mas que quase nunca (ou nunca mesmo) nos damos conta?!
Claro que não!
Vocês certamente já
notaram que escrevi, escrevi e escrevi, que estas descompromissadas reflexões
de hoje estão chegando ao final e que ainda não dei uma única definição de
tempo, mesmo que remotamente aceitável. E é preciso? Em nosso íntimo, temos a
noção exata, posto que não verbalizada, do que se trata. Wikipédia informa que
crianças de colo não têm essa percepção e acrescenta que “adultos com certas
doenças neurológicas e/ou psiquiátricas podem perdê-la”.
Mas não quero deixar
vocês na mão. Se não tenho uma definição (mesmo que sumamente canhestra) desse
conceito abstrato, posto que de percepção concreta, reproduzo esta conceituação
(imprecisa, como todas que já li, mas que pelo menos nos dá uma idéia do que estamos
tratando) da Wikipédia:
“Com
base na percepção humana, a concepção comum de tempo é indicada por
intervalos ou períodos de duração. Pode-se dizer que um acontecimento ocorre depois de outro
acontecimento. Além disso, pode-se medir o quanto um acontecimento
ocorre depois de outro. Esta resposta relativa ao quanto é a
quantidade de tempo entre estes dois acontecimentos: à separação
temporal dos dois acontecimentos distintos dá-se o nome de intervalo de tempo;
à separação temporal entre o início e o fim de um mesmo evento dá-se o nome de
duração. Uma das formas de se definir depois baseia-se na assunção de causalidade”.
Como
se trata de tema recorrente em minhas abordagens – literárias ou filosóficas,
não importa – certamente voltarei a ele, em algum momento que julgar oportuno,
que tanto pode ser amanhã, como em dois, três ou mais anos. Afinal, respeito a
colocação feita por Salomão (tido e havido como um dos homens mais sábios do
remoto passado em que viveu), em um dos seus livros bíblicos, quando constatou:
“Tudo tem seu tempo certo debaixo do sol”. E não tem?
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