Saturday, March 09, 2013


Negociações avançam

Pedro J. Bondaczuk

Os cinco presidentes da América Central estão em vias de conseguir um feito histórico, capaz de mudar não apenas a visão centro-americana acerca de sua própria capacidade de solucionar, por vias pacíficas, as pendências e problemas regionais, mas o conceito que o mundo sempre teve do povo dessa região.

Duas semanas depois da assinatura de um acordo de paz na Guatemala, por parte dos mandatários, o pacto já caminha, a passos largos, no sentido da sua concretização. Emk primeiro lugar, a guerrilha salvadorenha foi convocada para um diálogo, visando o cessar-fogo, um dos itens fundamentais da pretendida pacificação.

Uma das facções guerrilheiras, as Forças Democráticas Revolucionárias, respondeu afirmativamente. Resta, ainda, por responder, a Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional. Mas ela não deixará de aderir também ao diálogo. 

Simultaneamente a essa medida, o presidente nicaragüense, Daniel Ortega, tomou pelo menos três atitudes positivas nos últimos dias, que demonstraram que ele aderiu a esse acordo para valer. Em primeiro lugar, retirou, da Corte Internacional de Justiça de Haia, um processo contra a Costa Rica, cujo presidente, Oscar 
Arias Sanchez, foi o autor da presente iniciativa de paz.

A seguir, com a aprovação de seus pares, deslocou-se para Havana e obteve a adesão do presidente cubano, Fidel Castro, para o difícil processo de pacificação regional. Finalmente, convocou a Igreja e os partidos políticos nicaragüenses para que formassem uma comissão para negociar com o governo e apresentar as queixas da oposição.

A anuência dos “contras” ao pacto, dada ontem, em San Salvador, virtualmente fecha a primeira etapa da longa caminhada para a deposição de armas nesse pobre e sofrido continente. É verdade que ainda há muito a ser feito.

Existem perigos enormes de retrocessos, já que desavenças de várias décadas não se evaporam em horas, dias ou até meses, como num passe de mágica. Mas até aqui, os centro-americanos demonstraram que estão, de fato, dispostos a assumir seus próprios destinos, sem a tutela de ninguém, principalmente das superpotências.

Até um Parlamento de toda a América Central eles já planejam instituir, o que seria o máximo do requinte para países com retrospecto como esses têm. Oxalá nenhum sapo de fora meta o bedelho e venha chiar onde não está sendo chamado, para que a região possa, finalmente, respirar ares de democracia e entrar no século XX (deve estar, ainda, no XVIII), embora ele já esteja terminando para as demais áreas do mundo. 

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 22 de agosto de 1987)

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