Negociações
avançam
Pedro J. Bondaczuk
Os cinco presidentes da América Central estão em
vias de conseguir um feito histórico, capaz de mudar não apenas a visão centro-americana
acerca de sua própria capacidade de solucionar, por vias pacíficas, as pendências
e problemas regionais, mas o conceito que o mundo sempre teve do povo dessa
região.
Duas semanas depois da assinatura de um acordo de
paz na Guatemala, por parte dos mandatários, o pacto já caminha, a passos
largos, no sentido da sua concretização. Emk primeiro lugar, a guerrilha
salvadorenha foi convocada para um diálogo, visando o cessar-fogo, um dos itens
fundamentais da pretendida pacificação.
Uma das facções guerrilheiras, as Forças
Democráticas Revolucionárias, respondeu afirmativamente. Resta, ainda, por
responder, a Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional. Mas ela não deixará
de aderir também ao diálogo.
Simultaneamente a essa medida, o presidente
nicaragüense, Daniel Ortega, tomou pelo menos três atitudes positivas nos
últimos dias, que demonstraram que ele aderiu a esse acordo para valer. Em
primeiro lugar, retirou, da Corte Internacional de Justiça de Haia, um processo
contra a Costa Rica, cujo presidente, Oscar
Arias Sanchez, foi o autor da
presente iniciativa de paz.
A seguir, com a aprovação de seus pares, deslocou-se
para Havana e obteve a adesão do presidente cubano, Fidel Castro, para o
difícil processo de pacificação regional. Finalmente, convocou a Igreja e os
partidos políticos nicaragüenses para que formassem uma comissão para negociar
com o governo e apresentar as queixas da oposição.
A anuência dos “contras” ao pacto, dada ontem, em San Salvador ,
virtualmente fecha a primeira etapa da longa caminhada para a deposição de
armas nesse pobre e sofrido continente. É verdade que ainda há muito a ser
feito.
Existem perigos enormes de retrocessos, já que
desavenças de várias décadas não se evaporam em horas, dias ou até meses, como
num passe de mágica. Mas até aqui, os centro-americanos demonstraram que estão,
de fato, dispostos a assumir seus próprios destinos, sem a tutela de ninguém,
principalmente das superpotências.
Até um Parlamento de toda a América Central eles já
planejam instituir, o que seria o máximo do requinte para países com
retrospecto como esses têm. Oxalá nenhum sapo de fora meta o bedelho e venha
chiar onde não está sendo chamado, para que a região possa, finalmente,
respirar ares de democracia e entrar no século XX (deve estar, ainda, no
XVIII), embora ele já esteja terminando para as demais áreas do mundo.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 22 de agosto de
1987)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment