Clima e devastação florestal
O clima terrestre está mudando dramaticamente, disto pouca
gente, agora, ousa ter mais dúvidas. As razões dessas alterações, no entanto,
são objetos de controvérsias. E, mais uma vez, como não ocorreu no passado,
vários setores internacionais atribuem à exploração irracional da Amazônia a
causa principal desse descontrole climático.
Isso não deixa de ser um pouco de
cinismo, por parte de determinados grupos, que nunca esconderam seu desejo de
se apropriar dessa vasta área de floresta, a maior reserva verde do Planeta,
mas não para que sirva de patrimônio da humanidade, conforme apregoam, mas
certamente para o seu próprio proveito.
É um fato que milhares e milhares
de hectares de árvores têm sido devastados, insensatamente, praticamente todos
os dias, para projetos que, no final das contas, se revelam inviáveis.
No ano passado, por exemplo, não
apenas na Amazônia, mas em diversas outras reservas florestais brasileiras, as
chamas devoraram, em horas, aquilo que a natureza, em alguns casos, levou
milhões de anos para produzir.
Mas, o que dizer das florestas
tropicais africanas, dizimadas, quase que por completo, para atender à “fome”
por madeira (para fabricar móveis e principalmente papel) das nações industrializadas?
O que falar das selvas asiáticas, praticamente desaparecidas e transformadas em
cinzas? E, virtualmente, por nada.
Das reservas florestais européias
nem há o que mencionar. Simplesmente inexistem! Hoje restaram apenas alguns
poucos bosques, onde antes floresceram matas enormes. E mesmo estes estão
constantemente sujeitos ao fenômeno das “chuvas ácidas”, provocado pela intensa
poluição industrial.
Portanto, se a chamada
“comunidade internacional” (expressão vaga demais para ser sequer considerada)
não soube zelar por esse patrimônio terrestre, por que saberia cuidar da
Amazônia? Por que justamente dessa região, cheia de armadilhas e doenças, que
costuma punir duramente quem não a conhece, onde os europeus ou os
norte-americanos dificilmente iriam se adaptar? E quem iria fazer essa
fiscalização, numa área tão extensa?
O caminho da preservação do
chamado “pulmão do mundo”, portanto, não passa por sua internacionalização. A
melhor estratégia seria, sem dúvida, a da conscientização acerca da importância
da mata amazônica para o equilíbrio climático do Planeta.
Nesse aspecto, a campanha, movida pela imprensa mundial,
até que é válida. Mas que não se mostre, apenas, a devastação das nossas matas.
Que se exiba, por exemplo, o que aconteceu na China, na Malásia, na Tailândia e
em outras partes da Ásia. Que se fale da dizimação florestal da África, num
processo, também, irreversível. Que se divulgue que são as corporações do
chamado Primeiro Mundo (exatamente o que está insinuando a tese da
internacionalização da Amazônia) que estimularam, e vêm estimulando, a
exploração irracional das reservas verdes para alimentar suas indústrias.
Se o assunto é a proteção do meio
ambiente, que se diga a verdade por inteiro e não pela metade, pois
meia-verdade é muito mais danosa do que a mentira completa!
(Artigo publicado na página 13,
Internacional, do Correio Popular, em 28 de fevereiro de 1989).
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