Custo da reunificação
A reunificação alemã, velha aspiração dos germânicos
desde quando o país foi dividido após a derrota nazista na Segunda Guerra
Mundial, está deixando agora o aspecto patriótico, propagandístico, retórico e
entrando no terreno prático, da efetiva implementação. À medida em que o
processo avança, a população dos dois lados verifica que será ela que terá que
pagar as despesas de tudo. Tanto a da Alemanha Ocidental, quanto da Oriental.
Mais a primeira, por ter uma economia sólida (a terceira maior do mundo
capitalista), mais habitantes (54 milhões contra pouco mais de 16 milhões) e
maior tecnologia. Todos vão passar um período de sacrifícios. Estes,
evidentemente, tenderão a gerar descontentamento, já que o "órgão" mais
sensível do homem contemporâneo, o "bolso", vai ser afetado.
No lado outrora governado pelos comunistas, os
simples preparativos para a fase crucial da reunificação, ou seja, a unificação
monetária, já estão produzindo efeitos. De repente os trabalhadores perceberam
que os tempos são outros e que não têm mais vitaliciedade nos empregos.
Empresas deficitárias estão fazendo dispensas em massa de pessoal, tentando
sanear, enquanto isso for possível, suas finanças para evitar a falência. Esse
risco, durante o regime comunista, elas não tinham. Agora, ou se tornam
rentáveis, portanto viáveis, ou fecham suas portas. Calcula-se que o destino da
maioria será mesmo a bancarrota.
Mas os alemães ocidentais não ficarão livres do
flagelo do desemprego. O êxodo de seus compatriotas do Leste, iniciado em
agosto de 1989 e que foi o detonador da implosão do sistema anterior da
Alemanha Oriental, aumentou dramaticamente a oferta de mão de obra
especializada e razoavelmente barata. E de acordo com a inflexível lei da oferta
e da procura, os salários começaram a despencar. Cresceu, igualmente, a rotação
de pessoal. Não precisa ser nenhum mago em economia para saber que uma redução
sensível de custo, desde que mantida a produtividade e a qualidade dos
produtos, tende a elevar os lucros. E estes são o saudável combustível do
capitalismo.
Portanto, os alemães ocidentais estão ganhando
"bilhete azul". Quem perde o emprego, porém, evidentemente não pode
ficar satisfeito. Esse é o primeiro preço que os germânicos terão que pagar para
ter seu país restaurado, embora não como era antes da aventura megalomaníaca de
Adolf Hitler. Os problemas realmente sérios da reunificação, portanto, não
estão na área externa, como se pode pensar. A principal questão não é, em
absoluto, a que se refere à qual aliança a Alemanha unida irá pertencer. O tema
mais explosivo é o atinente ao ganha pão de cada cidadão, dos dois lados. O
resto não passa de retórica.
(Artigo
publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 10 de maio de
1990)
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