Tuesday, March 05, 2013


Custo da reunificação

 Pedro J. Bondaczuk
  
A reunificação alemã, velha aspiração dos germânicos desde quando o país foi dividido após a derrota nazista na Segunda Guerra Mundial, está deixando agora o aspecto patriótico, propagandístico, retórico e entrando no terreno prático, da efetiva implementação. À medida em que o processo avança, a população dos dois lados verifica que será ela que terá que pagar as despesas de tudo. Tanto a da Alemanha Ocidental, quanto da Oriental. Mais a primeira, por ter uma economia sólida (a terceira maior do mundo capitalista), mais habitantes (54 milhões contra pouco mais de 16 milhões) e maior tecnologia. Todos vão passar um período de sacrifícios. Estes, evidentemente, tenderão a gerar descontentamento, já que o "órgão" mais sensível do homem contemporâneo, o "bolso", vai ser afetado.

No lado outrora governado pelos comunistas, os simples preparativos para a fase crucial da reunificação, ou seja, a unificação monetária, já estão produzindo efeitos. De repente os trabalhadores perceberam que os tempos são outros e que não têm mais vitaliciedade nos empregos. Empresas deficitárias estão fazendo dispensas em massa de pessoal, tentando sanear, enquanto isso for possível, suas finanças para evitar a falência. Esse risco, durante o regime comunista, elas não tinham. Agora, ou se tornam rentáveis, portanto viáveis, ou fecham suas portas. Calcula-se que o destino da maioria será mesmo a bancarrota.

Mas os alemães ocidentais não ficarão livres do flagelo do desemprego. O êxodo de seus compatriotas do Leste, iniciado em agosto de 1989 e que foi o detonador da implosão do sistema anterior da Alemanha Oriental, aumentou dramaticamente a oferta de mão de obra especializada e razoavelmente barata. E de acordo com a inflexível lei da oferta e da procura, os salários começaram a despencar. Cresceu, igualmente, a rotação de pessoal. Não precisa ser nenhum mago em economia para saber que uma redução sensível de custo, desde que mantida a produtividade e a qualidade dos produtos, tende a elevar os lucros. E estes são o saudável combustível do capitalismo.

Portanto, os alemães ocidentais estão ganhando "bilhete azul". Quem perde o emprego, porém, evidentemente não pode ficar satisfeito. Esse é o primeiro preço que os germânicos terão que pagar para ter seu país restaurado, embora não como era antes da aventura megalomaníaca de Adolf Hitler. Os problemas realmente sérios da reunificação, portanto, não estão na área externa, como se pode pensar. A principal questão não é, em absoluto, a que se refere à qual aliança a Alemanha unida irá pertencer. O tema mais explosivo é o atinente ao ganha pão de cada cidadão, dos dois lados. O resto não passa de retórica.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 10 de maio de 1990)

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