Tuesday, March 19, 2013


Vulnerabilidade das cidades


Pedro J. Bondaczuk


O terremoto ocorrido anteontem à tarde na área da Baía de San Francisco (que ainda não é aquele “grande” previsto pelos geólogos para ocorrer nos próximos 25 anos), que atingiu sete cidades da Califórnia, mostra, mais uma vez, como o homem ainda é frágil diante das forças da natureza.

Sempre é bom ressaltar este ponto, pois os incríveis avanços da tecnologia, verificados neste século, fazem a maioria perder de vista a verdadeira dimensão dessa vulnerabilidade. Em casos de catástrofe, por melhor aparelhada que esteja uma comunidade, por mais treinada e preparada que ela seja para situações de emergência, seus aparatos de segurança e os urbanos entram de imediato em colapso.

A desorientação gerada pela surpresa do acontecimento fatalmente produz o pânico na maioria. E este costuma ser o maior responsável pelos elevados números de vítimas, mais do que o próprio cataclismo. Faróis de trânsito apagam, falta luz e a confusão impera.

Esta é uma das muitas desvantagens dos gigantescos aglomerados humanos, que são hoje as metrópoles mundiais, verdadeiras “torres de Babel” dos tempos modernos. A concentração maior de pessoas numa mesma área atingida por alguma espécie de catástrofe (natural ou mesmo provocada), logicamente tende a aumentar o número de vítimas.

Quem sabe este não é um mecanismo, posto que cruel, adotado pela natureza para controlar a superpopulação? É verdade que em ocasiões como esta, que está sendo vivida pela população do Norte da Califórnia, a solidariedade entre as pessoas tende a ser ressaltada. Pena é que apenas em tais situações ela venha a se manifestar, e assim mesmo de forma não generalizada.

Por exemplo, surgiram notícias, ontem, dando conta de tentativas de saques em estabelecimentos comerciais atingidos pelo terremoto. A guarda nacional norte-americana teria enfrentado grupos de jovens, armados com bastões de beisebol, em incidentes isolados. Aliás, como ressaltamos quando da passagem do furacão Hugo pela Carolina do Norte no mês passado, sempre que se verifica algum cataclismo é invariável a presença de saqueadores. Há casos até da necessidade da decretação de toque de recolher, para impedir atos de pilhagem, que punem duplamente os prejudicados.

Ou seja, com a destruição de suas propriedades pelo desastre e com o furto daquilo que restou por parte dos que não adquiriram o respeito que deveriam ter pelos bens alheios, para que possam viver harmoniosamente numa comunidade.

De qualquer forma, fica, mais uma vez, demonstrada a enorme fragilidade do ser humano no que diz respeito à autopreservação e à de suas obras, apesar dele já deter em suas mãos a possibilidade de destruição do próprio Planeta.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 19 de outubro de 1989).

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