Vulnerabilidade das cidades
O
terremoto ocorrido anteontem à tarde na área da Baía de San Francisco (que
ainda não é aquele “grande” previsto pelos geólogos para ocorrer nos próximos
25 anos), que atingiu sete cidades da Califórnia, mostra, mais uma vez, como o
homem ainda é frágil diante das forças da natureza.
Sempre é bom ressaltar este ponto, pois os incríveis
avanços da tecnologia, verificados neste século, fazem a maioria perder de
vista a verdadeira dimensão dessa vulnerabilidade. Em casos de catástrofe, por
melhor aparelhada que esteja uma comunidade, por mais treinada e preparada que
ela seja para situações de emergência, seus aparatos de segurança e os urbanos
entram de imediato em colapso.
A desorientação gerada pela surpresa do
acontecimento fatalmente produz o pânico na maioria. E este costuma ser o maior
responsável pelos elevados números de vítimas, mais do que o próprio
cataclismo. Faróis de trânsito apagam, falta luz e a confusão impera.
Esta é uma das muitas desvantagens dos gigantescos
aglomerados humanos, que são hoje as metrópoles mundiais, verdadeiras “torres
de Babel” dos tempos modernos. A concentração maior de pessoas numa mesma área
atingida por alguma espécie de catástrofe (natural ou mesmo provocada), logicamente
tende a aumentar o número de vítimas.
Quem sabe este não é um mecanismo, posto que cruel,
adotado pela natureza para controlar a superpopulação? É verdade que em
ocasiões como esta, que está sendo vivida pela população do Norte da
Califórnia, a solidariedade entre as pessoas tende a ser ressaltada. Pena é que
apenas em tais situações ela venha a se manifestar, e assim mesmo de forma não
generalizada.
Por exemplo, surgiram notícias, ontem, dando conta
de tentativas de saques em estabelecimentos comerciais atingidos pelo
terremoto. A guarda nacional norte-americana teria enfrentado grupos de jovens,
armados com bastões de beisebol, em incidentes isolados. Aliás, como
ressaltamos quando da passagem do furacão Hugo pela Carolina do Norte no mês
passado, sempre que se verifica algum cataclismo é invariável a presença de
saqueadores. Há casos até da necessidade da decretação de toque de recolher,
para impedir atos de pilhagem, que punem duplamente os prejudicados.
Ou seja, com a destruição de suas propriedades pelo
desastre e com o furto daquilo que restou por parte dos que não adquiriram o
respeito que deveriam ter pelos bens alheios, para que possam viver
harmoniosamente numa comunidade.
De qualquer forma, fica, mais uma vez, demonstrada a
enorme fragilidade do ser humano no que diz respeito à autopreservação e à de
suas obras, apesar dele já deter em suas mãos a possibilidade de destruição do
próprio Planeta.
(Artigo
publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 19 de outubro de
1989).
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