O Octávio Paz político
Pedro
J. Bondaczuk
O poeta, ensaísta,
tradutor e diplomata mexicano Octávio Paz, que aos 76 anos foi agraciado com o
Prêmio Nobel de Literatura de 1990, foi, também, arguto e refinado analista de
fatos políticos. Isso pode ser facilmente constatado não apenas pelos muitos
dos seus lúcidos ensaios a propósito, mas por artigos que publicou em jornais e
revistas, do México e de outras partes do mundo e até (diria principalmente)
pelas inúmeras entrevistas que deu. E estas, compreensivelmente, foram em maior
quantidade após ter sua obra finalmente reconhecida, não mais por um público
relativamente restrito, mas em âmbito mundial, ao ser premiado com o Nobel.
Há quem não dê todo
esse valor que a imprensa dá a esse prêmio. Todavia, ele tem um papel
incomparável no sentido de dar amplitude às idéias e ao talento dos premiados,
que deixam, subitamente, de serem conhecidos (e lidos) em âmbito meramente
doméstico e se tornam, não raro, populares mundo afora. Afinal, trata-se da maior premiação literária, em termos de
prestígio, que existe. E por anos Octávio Paz foi, com admirável constância,
potencial candidato. Como até “água mole em pedra dura tanto bate até que
fura”, finalmente chegou a vez dele.
Tardou para que a
Academia Sueca fizesse justiça a esse intelectual latino-americano, ela que
deixou de premiar escritores do porte de Jorge Luís Borges, de Carlos Drummond
de Andrade, de Juan Rulfo, de Júlio Cortázar, de Manuel Puig, de Jorge Amado e
de tantos e tantos outros autores extraordinários do nosso hemisfério. Ainda
bem que, num lapso de lucidez, teve o bom senso de premiar, por exemplo, os
chilenos Gabriela Mistral e Pablo Neruda, o colombiano Gabriel Garcia Marquez
e, mais recentemente, o peruano Mário Vargas Llosa. E, claro, o mexicano
Octávio Paz.
Escrevi muito sobre
esse escritor versátil e sumamente criativo, em ensaios, reportagens de jornal,
crônicas etc. Para isso, li parte considerável de sua obra, para escrever com
propriedade a seu respeito. Concentrei-me, como seria de se esperar, na sua
atividade poética (que, ademais, foi a que lhe valeu o Nobel). E não foi por
acaso. Octávio Paz foi um dos poetas mais prolíficos e publicados – e não
somente de língua espanhola – tendo lançado cerca de vinte livros do gênero, o
que é uma grande façanha, levando em conta as reservas que os editores têm em
relação à poesia, cujas vendas tendem a ser muito inferiores às de romances e
de novelas.
Não me limitei,
todavia, à sua produção poética, que volta e meia releio com idêntica
satisfação da leitura original. Colecionei, por anos, e antes do advento da
internet que facilitou demais as pesquisas, artigos de Octávio Paz, em jornais
e revistas, do México, dos Estados Unidos e do Brasil (estes em bem menor
número). Entre estes tantos recortes, incluem-se algumas entrevistas que
concedeu e o que mais me chamou a atenção nessa profusão de textos a seu
respeito ou de sua autoria, foi sua coerência intelectual. Não detectei nesse
material a mínima contradição, o que nem sempre (diria que raramente) ocorre
com intelectuais do seu porte e com tamanha exposição pública.
Embora eu tenha escrito
muito sobre a sua poesia – inclusive neste espaço – e destaco que, mesmo tendo
morrido há já 14 anos, em 19 de abril de 1998, Octávio Paz é considerado,
consensualmente, um dos maiores escritores do século XX e um dos maiores poetas
hispânicos de todos os tempos, localizei em meus arquivos um ensaio que escrevi
a propósito de suas idéias políticas. Nunca é demais trazê-las à baila. O que
mais chama a atenção nelas é a atualidade que mantêm, mesmo passado tanto tempo
de quando foram expostas.
O ensaio a que me
refiro, intitulado “Octávio Paz vislumbra na democracia único caminho para o
homem” foi escrito duas semanas depois que o escritor mexicano foi premiado com
o Nobel de Literatura. Publiquei-o na edição de 28 de outubro de 1990, no
Correio Popular de Campinas. É esse estudo que julgo oportuno trazer à baila,
sem, contudo, reproduzi-lo, não pelo menos na íntegra. Ocorre que nestes 22
anos que medeiam a produção dessa peça ensaística e os dias atuais, meu estilo
sofreu algumas transformações (que considero para melhor) que podem ser
classificadas de “radicais”.
Na ocasião, minha
linguagem era carregada de jargões característicos das disciplinas tratadas, o
que hoje condeno, por limitar em demasia o universo de leitores. Firmei
convicção de que o ato de escrever é uma atividade de comunicação. E para que
essa seja eficaz e cumpra seus objetivos, o que comunicarmos tem que ser
inteligível não apenas para os eruditos e “iniciados”, mas para “todos” os que
vierem a ler nossos textos, indistintamente. Precisa ser entendido tanto pelo
filósofo, psicólogo ou físico nuclear, quanto, por exemplo, pelo estudante
secundarista ou até pelo gari, desde que (lógico) saiba ler e entenda
minimamente o que lê.
É disso, de algumas das
idéias políticas de Octávio Paz, que me proponho a tratar oportunamente neste
espaço nobre de reflexão diária. A historiadora Alicia Correa Perez observa – o
que, no meu entender justifica essa decisão de analisar esse aspecto do
pensamento do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1990 –: “Octávio Paz,
mais que gerador de um discurso exclusivamente poético, é o intelectual que
criou um discurso literário muito sério, estético e comprometido; produto, por
uma parte, de uma ideologia política pessoal, e, por outra, de um amplo e
autêntico conhecimento da literatura e arte universais”.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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