Saturday, March 09, 2013


O Octávio Paz político

Pedro J. Bondaczuk

O poeta, ensaísta, tradutor e diplomata mexicano Octávio Paz, que aos 76 anos foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura de 1990, foi, também, arguto e refinado analista de fatos políticos. Isso pode ser facilmente constatado não apenas pelos muitos dos seus lúcidos ensaios a propósito, mas por artigos que publicou em jornais e revistas, do México e de outras partes do mundo e até (diria principalmente) pelas inúmeras entrevistas que deu. E estas, compreensivelmente, foram em maior quantidade após ter sua obra finalmente reconhecida, não mais por um público relativamente restrito, mas em âmbito mundial, ao ser premiado com o Nobel.

Há quem não dê todo esse valor que a imprensa dá a esse prêmio. Todavia, ele tem um papel incomparável no sentido de dar amplitude às idéias e ao talento dos premiados, que deixam, subitamente, de serem conhecidos (e lidos) em âmbito meramente doméstico e se tornam, não raro, populares mundo afora. Afinal, trata-se da  maior premiação literária, em termos de prestígio, que existe. E por anos Octávio Paz foi, com admirável constância, potencial candidato. Como até “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, finalmente chegou a vez dele.

Tardou para que a Academia Sueca fizesse justiça a esse intelectual latino-americano, ela que deixou de premiar escritores do porte de Jorge Luís Borges, de Carlos Drummond de Andrade, de Juan Rulfo, de Júlio Cortázar, de Manuel Puig, de Jorge Amado e de tantos e tantos outros autores extraordinários do nosso hemisfério. Ainda bem que, num lapso de lucidez, teve o bom senso de premiar, por exemplo, os chilenos Gabriela Mistral e Pablo Neruda, o colombiano Gabriel Garcia Marquez e, mais recentemente, o peruano Mário Vargas Llosa. E, claro, o mexicano Octávio Paz.

Escrevi muito sobre esse escritor versátil e sumamente criativo, em ensaios, reportagens de jornal, crônicas etc. Para isso, li parte considerável de sua obra, para escrever com propriedade a seu respeito. Concentrei-me, como seria de se esperar, na sua atividade poética (que, ademais, foi a que lhe valeu o Nobel). E não foi por acaso. Octávio Paz foi um dos poetas mais prolíficos e publicados – e não somente de língua espanhola – tendo lançado cerca de vinte livros do gênero, o que é uma grande façanha, levando em conta as reservas que os editores têm em relação à poesia, cujas vendas tendem a ser muito inferiores às de romances e de novelas.

Não me limitei, todavia, à sua produção poética, que volta e meia releio com idêntica satisfação da leitura original. Colecionei, por anos, e antes do advento da internet que facilitou demais as pesquisas, artigos de Octávio Paz, em jornais e revistas, do México, dos Estados Unidos e do Brasil (estes em bem menor número). Entre estes tantos recortes, incluem-se algumas entrevistas que concedeu e o que mais me chamou a atenção nessa profusão de textos a seu respeito ou de sua autoria, foi sua coerência intelectual. Não detectei nesse material a mínima contradição, o que nem sempre (diria que raramente) ocorre com intelectuais do seu porte e com tamanha exposição pública.

Embora eu tenha escrito muito sobre a sua poesia – inclusive neste espaço – e destaco que, mesmo tendo morrido há já 14 anos, em 19 de abril de 1998, Octávio Paz é considerado, consensualmente, um dos maiores escritores do século XX e um dos maiores poetas hispânicos de todos os tempos, localizei em meus arquivos um ensaio que escrevi a propósito de suas idéias políticas. Nunca é demais trazê-las à baila. O que mais chama a atenção nelas é a atualidade que mantêm, mesmo passado tanto tempo de quando foram expostas.

O ensaio a que me refiro, intitulado “Octávio Paz vislumbra na democracia único caminho para o homem” foi escrito duas semanas depois que o escritor mexicano foi premiado com o Nobel de Literatura. Publiquei-o na edição de 28 de outubro de 1990, no Correio Popular de Campinas. É esse estudo que julgo oportuno trazer à baila, sem, contudo, reproduzi-lo, não pelo menos na íntegra. Ocorre que nestes 22 anos que medeiam a produção dessa peça ensaística e os dias atuais, meu estilo sofreu algumas transformações (que considero para melhor) que podem ser classificadas de “radicais”.

Na ocasião, minha linguagem era carregada de jargões característicos das disciplinas tratadas, o que hoje condeno, por limitar em demasia o universo de leitores. Firmei convicção de que o ato de escrever é uma atividade de comunicação. E para que essa seja eficaz e cumpra seus objetivos, o que comunicarmos tem que ser inteligível não apenas para os eruditos e “iniciados”, mas para “todos” os que vierem a ler nossos textos, indistintamente. Precisa ser entendido tanto pelo filósofo, psicólogo ou físico nuclear, quanto, por exemplo, pelo estudante secundarista ou até pelo gari, desde que (lógico) saiba ler e entenda minimamente o que lê.       

É disso, de algumas das idéias políticas de Octávio Paz, que me proponho a tratar oportunamente neste espaço nobre de reflexão diária. A historiadora Alicia Correa Perez observa – o que, no meu entender justifica essa decisão de analisar esse aspecto do pensamento do ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1990 –: “Octávio Paz, mais que gerador de um discurso exclusivamente poético, é o intelectual que criou um discurso literário muito sério, estético e comprometido; produto, por uma parte, de uma ideologia política pessoal, e, por outra, de um amplo e autêntico conhecimento da literatura e arte universais”.

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

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