A
prioridade das prioridades
Pedro J. Bondaczuk
O maior defeito do Estado
brasileiro, entre os tantos que podem ser apontados, é a incompetência na
definição das prioridades nacionais. E não me refiro, especificamente, ao
governo atual, ao qual, aliás, apoio e aprovo (o que nunca escondi de ninguém),
sobretudo em decorrência dos avanços sociais que propiciou. Também ele,
todavia, peca nesse quesito. Não se pode, em sã consciência, classificar o
Brasil de país pobre. A rigor, não é. É, isso sim, injusto na partilha das
riquezas que tem e que gera. Nesse aspecto, infelizmente, está entre os piores
do mundo. Esta, todavia, é outra história. Mas o Brasil é rico. Afinal,
trata-se da sexta maior economia mundial de acordo com a classificação mais
recente, baseada no Produto Interno Bruto, que de uns tempos para cá cresce a
conta-gotas. Como se vê, não é pouco.
E olhem que nem estou levando em
conta os tantos e tantos recursos naturais inexplorados que o Brasil possui,
muitos dos quais não foram, ainda, sequer descobertos. Estes são imensos e são
cobiçados por vários povos, que não dispõem de tão grande potencial. O Brasil é
rico, sim senhores. É riquíssimo, posto que boa parte de sua riqueza permaneça
imobilizada, sem gerar os efeitos positivos que poderia e deveria para o
conforto e tranqüilidade do seu povo. Portanto, o problema brasileiro não é a
ausência de recursos. É sua má gestão. É seu subaproveitamento. É a
catastrófica falta de visão dos vários governos para direcionar capitais aos
setores prioritários, multiplicadores de riquezas.
E quais seriam as prioridades de
um Estado realmente equilibrado e que pretendesse exercer o seu papel
fundamental? São, basicamente, três: Educação, Saúde e Segurança, nesta ordem.
E dentro do setor educacional, é a valorização do ser humano, do agente
disseminador de conhecimentos, da fonte de todas as profissões que usam o
intelecto como ferramenta de trabalho. Claro que me refiro ao professor. Sem
ele, não existiriam o médico, o engenheiro, o advogado, o jornalista, o militar,
o escritor, o padre e assim por diante. É algo tão óbvio que seria até
desnecessário citar. Ou alguém acha que o conhecimento surge do nada, por
geração espontânea? Todavia, o que ocorre hoje com o mestre?
Alguém conhece alguma categoria
profissional relativamente pior remunerada do que esta, se for levada em conta
sua importância? Estive estes dias com a cópia do holerite de agosto do ano
passado de uma professora de nível 1, aposentada, após prestar 28 anos de
dedicado e contínuo trabalho. O valor da remuneração ali constante fez-me
entender, em sua verdadeira extensão, o principal motivo das sucessivas crises
que nos atormentam há tanto tempo com periodicidade de causar pasmo. Por uma
questão de respeito à mestra – respeito este que o Estado não tem com ela – não
irei citar o valor da sua remuneração. Deixo por conta do leitor especular qual
ela é. Só posso afirmar que é irrisória, muito inferior ao ganho de qualquer
pessoa que exerça trabalho braçal (sem nenhum menosprezo a esse tipo de
profissional).
Onde a lógica disso? E o Estado, ao invés de exercer seu
papel, atua como “empresário”, explorando petróleo, fabricando aço, produzindo
papel e outras coisas mais, que seriam atribuições exclusivas da iniciativa
privada, muito mais competente, racional e ágil no mundo dos negócios! As
folhas de pagamento das estatais são escandalosamente altas. Causam irritação
no mais cordato e pacato dos cidadãos, e com razão. E por que isso acontece?
Por incompetência na definição de prioridades. Por escandalosa inversão de
valores. E pensar que os professores, sem os quais nenhum desses gerentes,
engenheiros, economistas e sabe-se lá mais o que (cuja competência e capacidade
ninguém desmerece) das empresas estatais sequer existiria, ganham tão mal!
Governar é definir prioridades.
Qualquer pessoa minimamente instruída sabe disso. E há, por eventualidade, o
mínimo argumento contrário à atribuição da educação como a preocupação
prioritária de qualquer sociedade civilizada? E não me refiro, especificamente,
ao ensino, à instrução formal nos seus mais diversos níveis. Não é apenas de
“diplomados” que o País precisa. Refiro-me a algo mais amplo, à Educação no seu
real sentido, que abrange desde normas simples de civilidade e de cortesia às
complexas escolhas de ideais pelos quais batalhar. Do que carecemos não é de
medidas econômicas ortodoxas ou heterodoxas, como fomos “bombardeados” até
tempos não tão distantes, nem de capitais fartos do Exterior e muito menos de
sofisticada tecnologia alheia, inútil se não soubermos fazer uso dela.
Prescindimos também de novas
leis, ditadas de cima para baixo, ao contrário do que se verifica no Primeiro
Mundo. A maioria dessas normas está tão desvinculada da nossa realidade que
sequer “pega”. Cai no esquecimento por falta de uso. O Brasil carece de
educação! E nos dois sentidos. Tanto no significado lato do termo, quanto no
estrito, de estimular o cidadão a pensar. Há, é mister admitir, iniciativas
inteligentes e eficazes, aqui, ali e acolá neste Brasilzão enorme e tão
complexo.
As iniciativas positivas no País
– e há muitas, reitero, posto que a maioria delas o público raramente chega a
tomar conhecimento – em geral, e estranhamente, passam batidas, literalmente em
brancas nuvens. Deixam, pois, de obterem adesão, de se tornarem corriqueiras e
de serem imitadas do Oiapoque ao Chuí. Já os modismos estúpidos, chulos e
passageiros espalham-se com rapidez maior do que fogo em um capinzal seco. Está
mais do que na hora do Brasil deixar de ser o “País do futuro” e atentar para o
presente, para não perder o bonde da história. E a “máquina do tempo”, que fará
essa transposição num piscar de olhos, talvez com a velocidade da luz, é a
Educação. Esta tem que ser, de fato e não somente nos discursos vazios e
hipócritas dos políticos (cuja credibilidade está abaixo de zero), nossa
“prioridade das prioridades”.
No comments:
Post a Comment