Como “brigar com
bêbado”
Pedro
J. Bondaczuk
A vitória da Seleção
Brasileira diante de Camarões foi incontestável, embora possam ser feitas
muitas restrições. Não, claro, no que diz respeito à arbitragem, que foi quase
perfeita. Todos os 5 gols – os 4 do Brasil e o único camaronês – foram
legítimos. Tecnicamente, os comandados de Felipão se houveram relativamente
bem, embora com oscilações, sobretudo no Primeiro Tempo. Alguns jogadores
confirmaram má fase, casos de Daniel Alves e de Paulinho e Fernandinho, por sua
vez, que substituiu o ex-volante do Corinthians, esbanjou categoria e pode ter
conquistado vaga na equipe titular. Quais as restrições feitas à Seleção
Brasileira, então, se ela terminou a fase de classificação em primeiro lugar e galgou,
posto que discretamente, os três primeiros dos sete degraus que conduzem ao
topo, ao título da Copa do Mundo?
Bem, esta vitória dos
donos da casa pode ser comparada (se mal comparando) a uma briga com bêbado
(com todo o respeito a Camarões). Quando você se engalfinha com uma pessoa
embriagada, nunca leva vantagem – não, pelo menos, a moral – seja qual for o
desfecho. Se apanhar do antagonista, será alvo de chacota, por não conseguir
derrotar nem um adversário sem plenas condições físicas e principalmente
mentais. Às vezes acontece. Em caso contrário, também não receberá nenhuma
medalha. Sempre aparecerá alguém para observar: “Também, bater em bêbado até
uma criancinha bate!!!”.
A Seleção Camaronesa
quase nem veio para a Copa. Seus jogadores ameaçaram fazer greve face
indefinição da confederação local no que diz respeito à premiação. Foi uma das
últimas a chegar ao Brasil. No jogo de estréia, contra o México, mesmo
beneficiada pela arbitragem, que anulou dois gols legítimos dos mexicanos, não
chegou nem mesmo a ameaçar a vitória adversária. Na partida seguinte, o vexame
foi ainda maior, tanto técnico quanto disciplinar. Tomou quatro gols da Croácia
e em momento algum ameaçou a seleção européia. Pior, o meiocampista Song,
jogador experientíssimo, que integra o elenco do Barcelona, agrediu, de forma
ridícula e despropositada, um atleta croata nas vistas do árbitro e, claro, foi
expulso. O único craque camaronês de verdade, Samuel Etoo, veio ao Brasil
apenas para fazer turismo. Oficialmente, estava contundido no joelho. Há,
porém, quem ponha em dúvida a contusão. O fato é que, quando entrou, em jogo
anterior, sequer disse a que veio. Contra o Brasil permaneceu no banco de
reservas.
Para culminar, e
ampliar o vexame, dois jogadores da Seleção Camaronesa, que há tempos não prima
pela união, quase chegaram às vias de fato, no jogo contra a Croácia. Trocaram
empurrões e o árbitro só não os expulsou por complacência. Talvez porque já
havia expulsado Song. Os camaroneses, então, entraram em campo contra o Brasil
apenas para cumprir tabela? No que diz respeito à classificação, sim. Não
tinham a mais remota chance de se classificar para a fase seguinte.
Esperava-se, porém, que jogassem “pela honra”. Ou seja, para que o vexame de
sua participação não fosse completo. E jogaram mesmo. Pelo menos na primeira
meia hora de jogo.
Para a Seleção de
Camarões – ao contrário da brasileira – o resultado pouco importava. Seus
atletas jogaram sem preocupação nenhuma. E adversários nessas condições são
perigosíssimos. Já os comandados de Felipão demoraram para controlar os nervos.
Não fosse a genialidade de Neymar, que resolveu as coisas na hora em que
deveria resolver, é possível que o “bêbado” vencesse a briga. Embora não tenha
vencido, deu um calorão no briguento sóbrio. No segundo tempo, porém, as coisas
foram postas nos devidos lugares. Prevaleceu a técnica da seleção melhor, que
venceria mesmo em circunstâncias normais. Com todo respeito aos camaroneses,
convenhamos, em termos de futebol, Camarões nunca foi páreo para o Brasil
(exceção feita à nossa equipe olímpica, eliminada pelos africanos, nas
Olimpíadas de Sidney, quando eles estavam com apenas nove jogadores contra
nosso time completo. Mas isso é apenas história).
A pergunta que fica é:
o que os pentacampeões estão jogando é suficiente para avançar nas fases
seguintes e se credenciar à conquista do hexa? Bem, lembro, pela milésima vez,
que futebol não é ciência exata, mas jogo. Cada partida tem sua história e nem
sempre é a considerada “lógica”. Acredito no crescimento técnico da Seleção
Brasileira, que ainda não apresentou nem 50% do seu potencial. Se isso será
suficiente ou não para a conquista, não sei e ninguém sabe.
O que se pode fazer é
apenas palpitar. E, como em todo palpite, podemos acertar ou errar. Um simples
lance fortuito, por exemplo, pode pôr tudo a perder. Como também pode redimir
uma equipe que venha claudicando e que, ao sabor do acaso, finde por conquistar
vitórias inesperadas. Tudo isso é para lá de óbvio. Todavia, muitos
pseudo-especialistas não entendem e acham que podem aplicar a lógica a algo tão
ilógico. Seus prognósticos, porém, admitam ou não, não passam apenas de
palpites. São meros “chutes”. E, como tal, podem ou não dar certo. Como, aliás,
ocorre com todo e qualquer palpite. A diferença, nas próximas fases, é que
ninguém irá “bater em bêbado”. Todos os que chegaram a ela têm as mesmíssimas
pretensões. Palpite por palpite, no entanto, prefiro apostar no Brasil. Mas que
essa preferência tenha a mais rêmora lógica, estou absolutamente convicto, não
tem mesmo.
No comments:
Post a Comment