Evasão e repetência
Pedro J. Bondaczuk
Os
políticos brasileiros, em especial os candidatos a cargos executivos ---
prefeituras, governos de Estado e Presidência da República --- sempre que em
campanha, nomeiam, invariavelmente, a educação como sua prioridade. Não estão
errados nessa escolha.
Todavia,
após eleitos, ou não cumprem suas solenes promessas de palanque, ou mostram que
possuem uma visão distorcida, quando não mal intencionada, da questão ou forjam
justificativas descabidas para sua falta de competência. Quando investem nesse
setor, invariavelmente o fazem no sentido físico. Ou seja, na construção de
prédios escolares, não raro superfaturados, deixando de lado o essencial: o
ensino.
Sempre
se disse que o principal problema educacional brasileiro era a evasão escolar.
Não há dúvida de que é algo a ser levado em consideração. Dados de 1988 davam
conta que mais de 80% das crianças em todo o País não completavam o primeiro
grau.
Informes
mais recentes, do Ministério da Educação, que foram repassados este ano ao
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), situam esse percentual em
39%, que ainda assim é alto.
Todavia,
um estudo, que acaba de ser divulgado, elaborado pelo Laboratório Nacional de
Computação Científica do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e
Tecnológica, sob a orientação do físico e educador Sérgio Costa Ribeiro,
detecta um problema ainda mais grave, raramente mencionado ou levado em conta
por políticos, pedagogos e planejadores. Trata-se da repetência. O índice dos
que repetem é altíssimo e aumenta de ano a ano. Hoje a taxa situa-se em cerca
de 50% já na primeira série do primeiro grau.
Nas
escolas particulares, além de se constituir num ônus (muitas vezes intolerável
para os pais), a reprovação traumatiza os alunos. Alguns têm toda sua vida
modificada em decorrência disso. Adquirem complexos, criam bloqueios e não
conseguem, de forma alguma, obter as notas necessárias para passar dde ano.
Recebem (e assumem) a pecha de "burros".
Nas
unidades públicas, a única diferença é a ausência do prejuízo material, da
perda total do dinheiro despendido com as mensalidades. Não são poucos os casos
de pais que, após a segunda repetência do menino ou menina, concluem,
desalentados: "Filho, você não é bom da cabeça. Não dá para o estudo. É
melhor aprender uma profissão que não dependa de diploma e arranjar
emprego". E muitas vocações acabam sendo sufocadas dessa maneira.
A
culpa, todavia, raras vezes é do aluno. Os autores do estudo supracitado
asseguram: "Hoje, parte destas repetências são induzidas pela própria
escola com argumentos de que é melhor que o aluno não faça as provas finais
porque seus professores já decidiram que ele será reprovado. Uma forma perversa
de dizer que o fracasso do aluno é culpa dele, de seus pais, da cor da sua pele
ou do nível sócio-econômico de sua família".
Não
é por acaso que o Brasil ocupa o último lugar no ranking do ensino básico, que
reúne 129 países. Perde para o Gabão, o Haiti e a Arábia Saudita em termos de
evasão escolar. A repetência induz à desistência. E o País soma mais alguns
pontinhos em seu imbatível recorde mundial de desperdício, ao jogar fora tanto
potencial humano.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 23 de setembro de 1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment