Fases
da vida nacional
Pedro J. Bondaczuk
A
vida humana é composta, basicamente, de três fases, perfeitamente demarcadas e
com características próprias. Todos nos transformamos ao longo do tempo, a
ponto de parecermos outra pessoa. Na saída da infância para a adolescência,
somos ousados, propositivos, atrevidos até. É quando predominam os hormônios,
em detrimento dos neurônios. Na idade madura, nos achamos realistas e tentamos
dizer ao mundo a que viemos. Temperamos a ousadia da mocidade com a prudência
de quem já viveu o suficiente para entender que mero vigor físico mal
direcionado, impulsionado, apenas, pelo entusiasmo juvenil, ou seja, sem
estratégia definida e bem planejada, quase sempre nos conduz ao fracasso,
quando não ao desastre. E, na velhice,
não raro, entregamos os pontos, ou achando que já fizemos o máximo que
poderíamos ou nos dando por vencidos reconhecendo a impossibilidade de
conquista do ideal que nos moveu na juventude.
E
os países, passam por essas fases? Entendo que sim, guardadas as devidas
proporções. Estas considerações vêm a propósito do atual cenário
político-social brasileiro. Observo, para quem venha, eventualmente, a ler
estas reflexões num futuro distante, que redijo este texto em 5 de junho de
2014, há uma semana, portanto, da abertura da Copa do Mundo, que volta a ser
disputada no Brasil, após 64 anos da realização do outro Mundial que promovemos
em nossos domínios. O cenário daquele tempo era completamente diverso do que se
desenha agora, e em todos os aspectos, quer esportivos, quer não.
Em
1950, a situação, dos dias que precederam o início do evento, era completamente
diversa da que se verifica hoje. Naquela oportunidade, nosso país “quebrou o
galho” da Fifa, para que não se passassem outros quatro anos sem Copa, já que
ela deixara de ser disputada em 1942, auge da Segunda Guerra Mundial, e em
1946, quando o mundo tentava se recuperar da estúpida e dantesca devastação
causada pelo conflito. A Europa não estava em condições de organizar o evento,
atolada até o pescoço em problemas atinentes á reconstrução. Os Estados Unidos
não se interessaram em assumir essa responsabilidade, até porque o que chamamos
de futebol e eles chamam de “soccer” não era o esporte mais popular (ainda não
é, mas na ocasião era muitíssimo menos) do país. E o Brasil, estava em
condições de fazer isso? Nadava em dinheiro? Ora, ora, ora. Claro que não! Era
ainda muito mais pobre e problemático do que é hoje. Todavia, organizou, e viu
ser realizada, uma Copá do Mundo pelo menos digna, que só não foi próxima da
perfeição, coroada de pleno êxito, porque no terreno desportivo ocorreu o tal
do “Maracanazo”.
Contudo,
na ocasião, não houve manifestações populares, conforme se ensaiam agora. E
olhem que havia infinitamente mais motivos, então, do que há hoje. Levando em
conta a época, proporcionalmente, as despesas com o Mundial foram bem mais
representativas do que as de agora. Ou vocês pensam que construir um estádio
como o Maracanã, que até a recente reforma era o maior palco de futebol do
mundo, com capacidade para abrigar 200 mil pessoas, saiu barato? Para a
ocasião, teve um custo proibitivo. A economia nacional era infinitamente mais
medíocre do que a dos nossos dias. Porém, reitero, não houve multidões nas ruas
cobrando as autoridades da época. Os setores de Educação e Saúde eram melhores
do que são hoje? Ora, ora, ora. O dinheiro investido na promoção da Copa não
seria melhor aplicado caso fosse investido nessas áreas? É evidente que sim.
Mas... ninguém protestou.
Isso
não quer dizer que as manifestações atuais não sejam legítimas. São, com as
devidas ressalvas. São desde que sejam ordeiras e pacíficas, sem a presença de
vândalos, de arruaceiros, de integrantes do crime organizado (fala-se da
participação de membros do nefasto e ilegal PCC nas passeatas), de mascarados,
de blackbloks, de agitadores profissionais das extremas direita e esquerda que
atentem contra as instituições. São se forem
espontâneas, não comandadas por políticos oportunistas e covardes,
escondidos sob a capa do anonimato, querendo se aproveitar dos holofotes da
mídia internacional, que nunca se importou com a realidade do nosso país e que,
mesmo sem motivos (ou com eles, não importa) se esmerou em nos denegrir há já
tanto tempo.
Só
pessoas muito ingênuas acreditam que se não houvesse Copa, todo o dinheiro
investido na sua promoção iria para a Saúde e para a Educação, entre outras
áreas. Ademais, o problema desses dois setores não é, sequer, a falta de
recursos, mas sua péssima aplicação. Basta consultar os números. Mas suponhamos
que faltem alguns bilhões de reais para a excelência dessas áreas. Alguém
acredita que se o Mundial de 2014 não fosse realizado no Brasil, esse dinheiro
iria mesmo para Educação e Saúde? Por que não foi, então, desde 1950? Passamos
64 anos sem promover Copa, mas esses setores sempre estiveram como estão. Aliás,
as coisas já foram muito piores. Trata-se, pois, de argumento inconsistente, de
sofisma, que não resiste à mínima análise lógica.
Há
suspeitas de desvio de verbas para bolsos de espertalhões, mediante
superfaturamento de obras (de estádios, aeroportos, meios de transporte etc.) e
outras tantas mazelas que infelizmente se tornaram práticas comuns em nossa
sociedade. Isso sim tem que ser devidamente apurado e, caso se comprovem tais
fraudes, que os que as praticaram sejam rigorosamente punidos pelas leis. E
que, sobretudo, o que eventualmente tenha sido surrupiado seja devidamente
devolvido aos cofres públicos. Mas é mister, também, que os que se excederem,
nas manifestações, que depredarem patrimônio público e privado, que saquearem e
que agredirem quem não concorde com suas ações, paguem por seus delitos. E,
principalmente, que indenizem os prejudicados. .
O
filósofo Will Durant, no livro “Filosofia da vida”, escreveu: “A mocidade
propõe, a maturidade dispõe, a velhice se opõe. A mocidade domina nos períodos
revolucionários; a maturidade, nos períodos de reconstrução; e a velhice, nos
períodos de estagnação”. Convenhamos, não vivemos nenhuma etapa revolucionária.
Aliás, estamos fartíssimos de “revoluções salvadoras”, que nos atrasaram e desgraçaram
por tanto tempo. A época atual também não é de estagnação. O Brasil está longe
de ser um país envelhecido, esclerosado e sem energia. Reputo este período como
o de maturidade nacional. Estamos, nestas mais de duas décadas posteriores à
ditadura militar, num processo de reconstrução: da dfemocracia, das
instituições e da própria sociedade. Mostremo-nos, portanto, maduros,
equilibrados e responsáveis, sem o atrevimento inconsciente e sem rumo da
juventude, mas sem a acomodação da velhice.
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