Monday, June 23, 2014

Objeto de estudos de pesquisadores

Pedro J. Bondaczuk

O futebol é uma das atividades (e não me refiro apenas às esportivas) mais estudadas e analisadas na atualidade. São inúmeras as teses acadêmicas, notadamente sociológicas (mas não só estas), tentando determinar a influência dessa modalidade no comportamento social das pessoas, e não somente no Brasil (embora as várias a que tive acesso refiram-se especificamente ao nosso país). Foi, por exemplo, e não faz muito, importante fator de integração racial no Brasil, embora o processo não tenha sido tão pacífico como os desavisados possam pensar. O negro teve imensas dificuldades para ser aceito no meio futebolístico, como protagonista, a despeito do seu reconhecido talento e da habilidade que sempre demonstrou como atleta. Afinal, o futebol, “importado” da Inglaterra, foi tido e havido, em seus primórdios por aqui, como “esporte da elite”. Bobagem, claro.

Consta que a primeira entidade profissional a aceitar negros em seu elenco foi o Clube de Regatas Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Esse pioneirismo foi acompanhado, em São Paulo, pela Associação Atlética Ponte Preta de Campinas, a mais antiga organização esportiva dedicada exclusivamente ao futebol. Tenho certeza que a esta altura, muito leitor já está prestes a me contestar, não sem certa dose de razão. Afinal, o Sport Club Rio Grande, da cidade gaúcha do mesmo nome, foi fundado pouco menos de um mês antes que a agremiação campineira, ou seja, em 18 de julho de 1900. A fundação do clube de Campinas deu-se, apenas, em 11 de agosto do mesmo ano.

Ocorre que o Rio Grande interrompeu, em várias oportunidades, suas atividades futebolísticas, embora sempre as retomasse e exista até hoje. Já a Ponte Preta... nunca sofreu nenhuma interrupção. Portanto, o clube gaúcho é mais antigo, por 24 dias. Mas a agremiação campineira tem a primazia, por sua continuidade. Esta é mais uma das tantas polêmicas (e, certamente, não a mais importante) envolvendo o futebol fora dos gramados. O que importa é que os dois clubes existem, permanecem vivos, ativos, e arregimentando adeptos. Em termos de prestígio, quer no cenário nacional, quer no internacional, com todo o respeito que o Rio Grande merece, não há comparação entre ambos. A Ponte Preta, por exemplo, além de disputar, em várias oportunidades, campeonatos da divisão de elite do futebol brasileiro (atualmente, está na série B), ainda recentemente, no ano passado, foi vice-campeã da Copa Sul-Americana. Só não conquistou o cobiçado título por haver perdido na decisão para o Lanus, em Buenos Aires, por 2 a 0.

Aliás, em termos regionais, o clube campineiro, por cinco vezes, esteve muito próximo da consagração, disputando primazia no futebol paulista. Todavia, em todas as oportunidades, teve que se conformar com vice-campeonatos. Mas isso comprova que, quando entra em alguma disputa, a Ponte Preta não se limita a ser mera coadjuvante. Faz questão de ser protagonista. É, sobretudo, exemplo de perseverança. Um dia, certamente, ainda chegará lá. É, pelo menos, o que sua numerosa, fiel e apaixonada torcida tanto espera.

Mas, como eu ia dizendo, antes deste longo parêntese, o futebol é importante mecanismo de ascensão social. Pessoas procedentes das camadas mais humildes e desassistidas da população têm oportunidade, através dele, que outras atividades não oferecem – não, pelo menos, com tanta profusão – de melhorar de vida, de obter status. de ganhar manchetes na imprensa e de garantir, por conseqüência, melhor e mais tranqüilo futuro, em termos sobretudo econômicos, para si e para as respectivas famílias. E isso ocorre não apenas no Brasil, mas em várias partes do mundo, notadamente na África (e até mesmo na Europa).

A Seleção da Alemanha conta em seu grupo com vários atletas, filhos de imigrantes (turcos, africanos etc.), quando não de pessoas que nasceram alhures e que foram tentar a sorte nesse país, se naturalizando. Miroslav Klose, por exemplo, que se igualou a Ronaldo como o maior goleador na história das Copas, nasceu na Polônia.  O mesmo fenômeno ocorre, em maior ou menor número, com a França, a Suíça, a Bélgica, a Itália, a Espanha, Portugal, os Estados Unidos e a Croácia, dos que me lembro.

Apenas de brasileiros, defendendo as cores de outros países, nesta Copa do Mundo, há cinco: Samir e Eduardo, na Seleção Croata, Thiago Mota, na Italiana, Pepe, na Portuguesa e Diego Costa, na Espanhola. São atletas que saíram muito cedo do Brasil, onde não encontraram as oportunidades que sonharam, mas que se destacaram em outros países. E tanto ao ponto de serem selecionados para representá-los em uma Copa do Mundo. Há inúmeros outros casos de brasileiros defendendo outros selecionados que, todavia, não estão presentes neste Mundial.

Aliás, o sonho dos garotos bons de bola, do Oiapoque ao Chuí, não é mais o de defender clubes tradicionais brasileiros, como Flamengo, Corinthians, Atlético Mineiro, Internacional de Porto Alegre, etc.etc.etc., como ocorria até não faz muito. Hoje suas pretensões são de integrar clubes multimilionários da Europa, como Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique, Chelsea, Arsenal, Manchester United e Manchester City, entre tantos e tantos e tantos outros. Poucos conseguem, é verdade, o que seria até de se esperar. Mas os que alcançam esse objetivo, não só garantem tranqüilidade financeira e prestígio social, mas marcam seus nomes na história deste fascinante esporte das multidões.  

As várias teses – acadêmicas ou não, sociológicas, históricas, econômicas ou até mesmo filosóficas e de outras naturezas – tentam explicar, principalmente, causas e conseqüências desses fenômenos, o que, admito, não estou habilitado a fazer. E sequer é minha intenção fazê-lo, nestes simples e descompromissados comentários à margem, feitos por um “curioso” na matéria, mas que ama o futebol e busca sempre saber mais a seu respeito.


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