O que conta é bola na
rede
Pedro
J. Bondaczuk
O futebol é um esporte,
e, sobretudo, um jogo, bastante simples. Consiste em fazer a bola entrar mais
vezes na meta adversária e impedir que o oponente faça o mesmo em suas redes.
Quem conseguir isso será o vencedor. Todavia, para que tal ocorra, inventam-se
táticas e mais táticas. Há toda uma teoria em torno da modalidade, cuja
invenção é atribuída aos ingleses. Não sei se alguma delas, ou se todas, ganham
jogos. Muitos acham que sim. Eu, da minha parte, tenho lá minhas dúvidas. As
estratégias que, guardadas as proporções, simulam as que até não muito eram
adotadas por generais à frente de seus exércitos em campos de guerra, variaram
e variam ao longo do tempo. Nenhum estrategista, no caso o chamado “técnico de
futebol”, jamais inventou uma tática absoluta, infalível, que garantisse a
vitória sempre, em todo e qualquer time e em todas as circunstâncias. Ela não
existe, claro.
No duro, no duro, o
sucesso ou o fracasso dependem é da habilidade dos jogadores, tanto dos que
defendem sua meta, quanto dos que atacam a adversária. No entanto... Criam-se
teorias às vezes tão complicadas como a que Albert Einstein estabeleceu na
Física, ou seja, a da Relatividade. Não faz muito, quando comecei a acompanhar
futebol, ainda na minha tenra infância, a estratégia dominante era a que ficou
conhecida como WM. A razão desse nome era óbvia. As colocações dos jogadores em
campo, vistas do alto, formavam essas duas letras. O W era a postura das
defesas e, por conseqüência o M, a dos ataques. Trocando em miúdos, não passava
do ultra conhecido e manjado 4-3-3 que algumas equipes, e não tão raras assim,
ainda adotam, posto que com múltiplas variações.
O que mais tem mudado
nas táticas é o que se refere às funções dos jogadores. Não faz muito, por
exemplo, o papel dos laterais era o de meramente defenderem. Quando Newton
Santos, no jogo de estréia do Brasil, na Copa de Mundo de 1958, contra a
Áustria, passou do meio de campo, em uma arrancada sensacional e fez um dos
três gols brasileiros, foi um escândalo. Uns criticaram sua “ousadia” e outros
viram nela possível inovação. Hoje, quem joga nos lados do campo da defesa tem
que ter pulmões de aço. Precisa atacar e defender o tempo todo, dependendo das
circunstâncias de jogo. Há, é verdade, técnicos que preferem que os laterais se
limitem apenas a defender. Mas... Com o surgimento dos chamados “alas”
extinguiram-se os pontas. Qual seria a função de Garrincha hoje? Não faço a
menor idéia.
A polêmica mais
recente, envolvendo táticas, refere-se à supressão do centroavante clássico,
aquele fixo, que fica no meio da zaga adversária, cuja função é a de servir de
pivô e, claro, a de arrematar para gol todas as vezes que surgirem brechas para
tal. O Barcelona, no auge, abriu mão dessa figura, Passou a adotar o que se
convencionou chamar de “falso 9”. A Seleção espanhola conquistou seu primeiro,
e único, título mundial, em 2010, na África do Sul, com essa estratégia, Deu
certo na ocasião, mas seu técnico, Vicente Del Bosque, resolveu mudá-la, aqui no
Brasil. E, logo na estréia... deu-se mal. Sua seleção foi humilhada pela da
Holanda, sofrendo vexatória goleada, por
5 a 1. Claro que a contundente derrota não pode ser atribuída a isso, ou
somente a isso. Mas os teóricos defensores do “falso 9”, insinuam que sim.
Deve-se olhar, todavia,
para o lado vencedor. A Holanda valeu-se do centroavante convencional,
incumbindo da tarefa o já veterano, mas ainda eficiente, Van Persie, que se
destaca na Liga Inglesa, agora defendendo as cores do Manchester United (time
até recentemente “bicho-papão” não somente da Inglaterra, mas da Europa). Foi
ele que deu início à goleada, ao empatar o jogo, que terminaria com placar
atípico, com um dos mais belos gols já marcados em copas do mundo. O que deu
errado para a Espanha – embora o único gol espanhol tenha surgido de um pênalti
duvidoso sobre seu camisa 9 tradicional, o brasileiro Diego Costa – deu certo,
muito certo para a Holanda.
Mano Menezes tentou
implantar na Seleção Brasileira essa tática consagrada pelo Barcelona. Deu
certo em alguns jogos e não funcionou em tantos outros. Da minha parte, sou
adepto do centroavante tradicional, embora cada vez mais escasso nos gramados
brasileiros. Atribuo a maior parte da culpa dessa escassez aos treinadores das
várias equipes de base. Em vez deles se preocuparem com a formação de atletas,
se preocupam em vencer competições da categoria cujas conquistas não levam a
lugar nenhum, optando, para isso, por cerradas táticas defensivas. Isso tem
resultado na formação de excelentes defensores, mas de quase nenhum e eficiente
atacante, desses chamados, metaforicamente, de “matadores”.
Apesar da escassez de
centroavantes, confio no titular da camisa 9 da Seleção Brasileira, ou seja, em
Fred. A única coisa que temo nele não se refere à sua eficiência na função, mas
à sua fragilidade muscular, que volta e meia o tem afastado por longos períodos
dos gramados. Entendo que ele, em boa forma física, tem plenas condições de
manter a tradição brasileira de contar com eficientes centroavantes, desde
Leônidas da Silva, passando por Ademir de Menezes, Mazola, Vavá, Dadá
Maravilha, Reinaldo, Roberto Dinamite, Sérginho Chulapa, Romário, Ronaldo,
Adriano e Luiz Fabiano, entre tantos e tantos outros.
Pelo menos no jogo de
estréia do Brasil, contra a Croácia, Fred cumpriu bem seu papel. É certo que
pegou poucas vezes na bola. Mas protagonizou o lance agudo e decisivo da
partida, o pênalti que sofreu – que para 99% das pessoas não existiu, mas que,
insisto, reitero e mantenho cada vez mais convicto minha opinião, houve Afinal, as táticas são importantes? Talvez
tenham lá sua importância, mas não entendo que sejam essenciais. O que conta,
de fato, é o talento dos onze jogadores de uma equipe. Se este existir, não
importa a estratégia que for adotada – se WM, se 4-2-4, 4-3-3, 5-3-2, 4-5-1,
“carrossel holandês” ou qualquer outra que se invente – a vitória e o título
dificilmente deixarão de vir. Até porque, queiram ou não, futebol é, em última
análise, bola na rede dos adversários e nenhuma em nossa. Ou estou errado?
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