A doença do preconceito
Pedro J. Bondaczuk
O
preconceito, seja de que espécie for, de raça, de religião, de sexo, de
condição econômica ou social, é uma doença do espírito, que muitas vezes atinge
surtos epidêmicos e causa grandes tragédias. Basta que nos lembremos que foi
ele quem esteve por trás da desastrosa Segunda Guerra Mundial.
Dois
fatos ocorridos durante a semana, entre tantos outros que vêm ocorrendo e que
acabam não merecendo a devida reflexão, devem servir de alerta para os líderes
autênticos e os que acreditam na possibilidade humana de convivência pacífica e
até harmoniosa entre desiguais.
Um
foi o atentado a bomba que destruiu a sede da Associação Mutual Israelita
Argentina (Amia), no centro de Buenos Aires, causando pelo menos 45 mortes,
número que tende a passar de 110, dada a grande quantidade de desaparecidos.
O
fato de a explosão haver ocorrido num edifício da comunidade judia levanta
suspeitas em várias direções, embora nenhuma ainda possa ser comprovada. Mas
tudo leva a crer que o preconceito estúpido, cego, irracional e nesse caso
criminoso esteja por trás do trágico episódio.
Por
outro lado, há fortes indícios de que a queda de um avião, na terça-feira, no
Panamá, também tenha se tratado de um ato terrorista. Vinte e uma pessoas
morreram no desastre, por enquanto sem explicações. A forma como a aeronave
explodiu no ar, induz as autoridades, que investigam o caso, a suspeitarem de
que havia uma bomba a bordo.
O
aparelho conduzia vários membros da comunidade judia, o que reforça os indícios
da existência de uma campanha de terror, tendo por palco a América Latina.
Finalmente,
temos a tragédia de Ruanda, que chega ao ápice, por estranho que pareça,
exatamente ao cabo da sangrenta guerra civil de quatro anos nesse país,
dividida em dois atos, antes e depois da morte do presidente Juvenal
Habyarimana, em 6 de abril passado, que causou um número de mortos que ameaça
chegar, ou até passar de um milhão.
Qual
a razão desse conflito, bem no coração da África, popularizado, recentemente, pela
televisão, com o filme "A Montanha dos Gorilas"? Rivalidades étnicas!
Ou seja, racismo! Tratam-se de seqüelas ainda do período colonialista, quando
as grandes potências européias reuniram, num mesmo território por elas
administrado, povos que mantinham rivalidades milenares e ódios há muito
represados.
No
período em que ingleses, franceses, portugueses, espanhóis, alemães, belgas e
italianos mantiveram seu domínio no continente africano, a pretexto de
"civilizarem" esses povos, apenas exploraram seus recursos naturais,
não muito abundantes por sinal, carrearam as parcas riquezas existentes na
região para seus próprios cofres e deixaram, como maldita herança, populações
inteiras desnorteadas.
Nem
conseguiram fazer com que sua cultura fosse assimilada e nem permitiram que as
locais se conservassem. Deu no que deu. Hoje a África, salvo raras exceções, se
transformou num autêntico inferno sobre a Terra.
Indigência,
violência, prepotência e falta de perspectivas foram os legados que os europeus
deixaram a povos com extraordinária tradição de humanismo. O preconceito, de
qualquer espécie ou natureza, tem apenas isso a oferecer: o caos!
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de julho de 1994).
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