Bolo volta a crescer
Pedro J. Bondaczuk
O clima no País, após a
eleição de Fernando Henrique Cardoso para a Presidência, logo no primeiro
turno, com uma votação espetacular, é de esperança, quase que de otimismo. Ao
fator da vitória do introdutor do Plano Real, homem de reconhecido talento de
negociador e de bagagem cultural indiscutível, sima-se um panorama
internacional favorável à retomada do desenvolvimento econômico brasileiro, que
acontecerá, fatalmente, caso haja senso de oportunidade e o momento propício
não venha a ser perdido por ausência de visão.
Há
consenso entre os economistas, não importa de que tendência – se ortodoxos,
heterodoxos, hetero-ortodos ou orto-heterodoxos – de que a recessão, de triste
memória e que se mostrou sobretudo desastrosa no aspecto social, é coisa do
passado.
Entendem
esses técnicos que, doravante, a economia nacional irá crescer de maneira
segura e contínua, pelo menos até 2005. As controvérsias residem somente no que
diz respeito às taxas desse crescimento e à destinação que se deve dar ao seu
fruto.
Alguns,
mais eufóricos, chegam a prever uma evolução anual do Produto Interno Bruto em
9%, 10% e até 13% (como a China). Outros, mais moderados, estimam que gire ao
redor de 6%, o que é razoável se for levado em conta que, mesmo com inflação
elevada, o PIB cresceu, no ano passado, mais de 5%.
A
expectativa generalizada é a de que o Plano Real vá ter os ajustes que se fazem
necessários para que não se transforme em mero “cabo eleitoral” de Fernando
Henrique, o que seria trágico.
Findas
as eleições, esfriado o calor das campanhas, amainadas as paixões, pode-se
dizer, com tranqüilidade, que doravante o programa de ajuste perde a
necessidade de ser vinculado a fulano, sicrano ou beltrano. Hoje é um projeto
sem donos, nacional, do todos os brasileiros, que de uma forma ou de outra
contribuíram para o seu relativo sucesso. Mesmo os que tentaram sabotar a nova
moeda, em virtude da perda do lucro inflacionário, posto que forçados, deram
sua parcela de contribuição.
Admitindo
um novo e saudável surto desenvolvimentista, é preciso que desta vez não se
incorra no mesmo erro da época que se convencionou chamar de “milagre
econômico” – que para seus defensores, mereceu a designação e para a maioria se
tornou uma expressão de ironia para um monumental fiasco – quando se dizia que
era necessário primeiro fazer o “bolo da riqueza” nacional crescer, para só
então distribuir as fatias entre os responsáveis por esse desenvolvimento.
O
País desenvolveu-se. Causou admiração e inveja no mundo pelas altas taxas de
crescimento que ostentou. Mas na hora da divisão...Bem, nem é preciso reiterar
o que aconteceu.
O
Brasil atual é a sociedade mais perversa do mundo em termos de distribuição de
renda. Pouquíssimos detêm a quase totalidade do que foi gerado no período
desenvolvimentista. A maioria da população, se não está na indigência (e o pior
é que está), sobrevive com migalhas microscópicas do tal “bolo”.
Que
desta vez a divisão seja simultânea ao crescimento e proporcional à
participação de cada um nele. Até para o mercado consumidor expandir-se na
mesma proporção do aumento vegetativo da população e não se restringir aos
mesmos 18 milhões a 20 milhões, que há mais de uma década constituem a
categoria dos que têm acesso ao consumo.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de outubro de 1994).
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