Wednesday, June 25, 2014

É preciso esclarecer a população


Pedro J. Bondaczuk


O Unicef constatou, em seu relatório anual, que pelo menos 15 milhões de crianças no Terceiro Mundo estão morrendo mais por falta de esclarecimento dos respectivos pais, do que propriamente por falta de recursos materiais. Algumas providências extremamente simples e baratas poderiam (e deveriam) ser adotadas e muitas vezes não o são porque assuntos dessa natureza não são considerados importantes para ganharem espaço nos noticiários. Mas são, e muito.

As medidas são tão óbvias, e de resultados tão espetaculares, que o diretor executivo do Fundo Especial das Nações Unidas de Ajuda à Infância (que é como é conhecido o Unicef), James Grant, não tem dúvidas de as chamar de “revolução”.

Muitos desses métodos, sejamos justos, estão começando a popularizar-se entre nós, moradores de regiões urbanas, entre os quais a Terapia de Reidratação Oral, capaz de tornar a temível desidratação coisa do passado. Mesmo assim, muitas crianças ainda morrem desse mal. Não porque seus pais desejem isso, é evidente, mas porque são mal informados, em sua humildade e miséria.

Outra das providências alinhadas pelo diretor do Unicef é ainda bem mais simples. Nós, inclusive, tivemos a oportunidade de abordar o assunto em página inteira, publicada sábado passado, no Correio Popular. É o aleitamento materno, ainda encarado de maneira equivocada até por pessoas bastante esclarecidas em outros assuntos, mas que neste se deixam envolver por preconceitos absurdos e inconcebíveis.

Negar a um recém nascido um alimento criado pela própria natureza (e o único de que ele precisa para adquirir defesas naturais contra doenças, inclusive as decorrentes da miséria), chega a ser um absurdo. Mas as estatísticas do IBGE demonstram que cerca de 15% das mães brasileiras ainda fazem isso.

Caberia aos meios de comunicação de massas, especialmente à televisão, que hoje tem penetração ampla em todas as camadas, esse papel de esclarecimento. Não em forma de uma ou outra notícia esparsa a esse propósito, mas até em demoradas campanhas, saturando, se for necessário, os telespectadores, mas fazendo com que eles entendam a importância da adoção dessas revolucionárias, mas tão simples práticas, apontadas pelo Unicef.

Se tais providências requeressem o uso de tecnologias avançadas, embora fosse dever das autoridades da área de saúde torná-las acessíveis a todos, ainda haveria alguma explicação para taxas de mortalidade infantil tão elevadas no Terceiro Mundo. Mas isso não é necessário.

A verba requerida para a implantação desses programas é relativamente irrisória, principalmente quando comparada com tanto dinheiro que se desperdiça em autênticas aventuras, que a nada conduzem. O Unicef garante que as mortes decorrentes dos piores efeitos da pobreza podem ser reduzidas, numa hipótese pessimista, em 50%. Por que, então, não aderir a essa revolução de bom senso e humanitarismo?

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 12 de dezembro de 1985).


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