É preciso esclarecer a população
Pedro J. Bondaczuk
O
Unicef constatou, em seu relatório anual, que pelo menos 15 milhões de crianças
no Terceiro Mundo estão morrendo mais por falta de esclarecimento dos
respectivos pais, do que propriamente por falta de recursos materiais. Algumas
providências extremamente simples e baratas poderiam (e deveriam) ser adotadas
e muitas vezes não o são porque assuntos dessa natureza não são considerados
importantes para ganharem espaço nos noticiários. Mas são, e muito.
As medidas são tão óbvias, e de resultados tão
espetaculares, que o diretor executivo do Fundo Especial das Nações Unidas de
Ajuda à Infância (que é como é conhecido o Unicef), James Grant, não tem
dúvidas de as chamar de “revolução”.
Muitos desses métodos, sejamos justos, estão começando
a popularizar-se entre nós, moradores de regiões urbanas, entre os quais a
Terapia de Reidratação Oral, capaz de tornar a temível desidratação coisa do
passado. Mesmo assim, muitas crianças ainda morrem desse mal. Não porque seus
pais desejem isso, é evidente, mas porque são mal informados, em sua humildade
e miséria.
Outra das providências alinhadas pelo diretor do
Unicef é ainda bem mais simples. Nós, inclusive, tivemos a oportunidade de
abordar o assunto em página inteira, publicada sábado passado, no Correio
Popular. É o aleitamento materno, ainda encarado de maneira equivocada até por
pessoas bastante esclarecidas em outros assuntos, mas que neste se deixam
envolver por preconceitos absurdos e inconcebíveis.
Negar a um recém nascido um alimento criado pela
própria natureza (e o único de que ele precisa para adquirir defesas naturais
contra doenças, inclusive as decorrentes da miséria), chega a ser um absurdo.
Mas as estatísticas do IBGE demonstram que cerca de 15% das mães brasileiras
ainda fazem isso.
Caberia aos meios de comunicação de massas,
especialmente à televisão, que hoje tem penetração ampla em todas as camadas,
esse papel de esclarecimento. Não em forma de uma ou outra notícia esparsa a
esse propósito, mas até em demoradas campanhas, saturando, se for necessário,
os telespectadores, mas fazendo com que eles entendam a importância da adoção
dessas revolucionárias, mas tão simples práticas, apontadas pelo Unicef.
Se tais providências requeressem o uso de tecnologias
avançadas, embora fosse dever das autoridades da área de saúde torná-las
acessíveis a todos, ainda haveria alguma explicação para taxas de mortalidade
infantil tão elevadas no Terceiro Mundo. Mas isso não é necessário.
A verba requerida para a implantação desses programas
é relativamente irrisória, principalmente quando comparada com tanto dinheiro
que se desperdiça em autênticas aventuras, que a nada conduzem. O Unicef
garante que as mortes decorrentes dos piores efeitos da pobreza podem ser reduzidas,
numa hipótese pessimista, em 50%. Por que, então, não aderir a essa revolução
de bom senso e humanitarismo?
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 12 de dezembro de
1985).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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