Ataques versus
retrancas
Pedro
J. Bondaczuk
A presente Copa do
Mundo vem se caracterizando pela eficiência dos ataques. Nem de todos,
ressalve-se. As seleções mais ofensivas, todavia, mostram imensas dificuldades
em furar ferozes retrancas. Caso específico é o do Brasil, que não encontrou o
caminho do gol diante do México, embora isso tenha se devido, em grande parte,
á excepcional partida do goleiro mexicano Ochoa, que fez, no mínimo, duas
defesas que eu diria “impossíveis” caso não tivesse feito. Mas... para nossa
frustração, fez.
O exemplo mais
característico dessa dificuldade foi o que aconteceu no Mineirão, entre
Argentina e Irã. O ataque tido e havido como o mais mortífero do mundo, e com
toda razão, só conseguiu derrubar o paredão iraniano graças à genialidade de
Lionel Messi e assim mesmo no período de descontos. E olhem que a “zebra” só
não desfilou galhardamente nos gramados mineiros graças a um erro de
arbitragem. O Irã foi prejudicado pela não marcação de uma penalidade máxima a
seu favor. E, embora retrancado, forçou o goleiro argentino, Romero, a praticar
pelo menos três grandes defesas.
Curiosamente, sistemas
defensivos que sempre se destacaram por serem retrancados e praticamente
intransponíveis, como os da Suíça e da Grécia, nesta Copa não conseguiram
evitar muitos gols adversários. Os gregos tomaram três da Colômbia e só não
levaram mais alguns do Japão por causa da falta de pontaria japonesa. Os
suíços, por seu turno, tomaram seis gols, sendo que cinco da França, o que não
deixa de ser uma das curiosidades desta Copa. Houve mundial em que a seleção
alpina foi eliminada, mas sem que sua meta fosse vazada uma única vez.
Todavia, apesar de
alguns sistemas defensivos (raros) mostrarem muita eficiência, a característica
desta competição, das mais emocionantes das que acompanhei tem sido, mesmo, a
ofensividade. Os ataques que mais chamaram a atenção até o momento, pela sua
efetividade, são os da Holanda, da França e da Alemanha, nesta ordem. Os
grandes astros, porém – à exceção de Messi que, no entanto, não mostrou ainda
nem 10% dos recursos técnicos que tem – ainda não luziram. Não, pelo menos, o
suficiente para satisfazer as expectativas generalizadas que há em torno deles.
Neymar, por exemplo, embora tenha feito dois gols na estréia (um dos quais de
pênalti), além de jogadas maravilhosas, não aproveitadas pelos companheiros, ou
neutralizadas pelo goleiro Ochoa, do México, ainda tem muito a oferecer. Tomara
que mostre a que veio no jogo contra Camarões.
Outro astro, em torno
do qual havia (e ainda há, por que não?) grandes expectativas, é o português
Cristiano Ronaldo, atual detentor do título de “melhor jogador do mundo”, da
Fifa. É certo que o atacante do Real Madrid e da Seleção Portuguesa, não está
nas melhores condições físicas. Ademais, a equipe do seu país, no único jogo
que fez, não mostrou nada. Foi goleada pela Alemanha. O que decepcionou nem
foi, propriamente, a derrota em si e nem mesmo o elástico placar. Foi a falta
de capacidade de reação portuguesa diante da adversidade. E Cristiano Ronaldo
“naufragou”, junto com toda a equipe.
Embora só um dos três
maiores astros potenciais da Copa do Mundo (no caso Messi, por sua eficiência;
os outros dois são, claro, Neymar e o “Gajo” lusitano) tenha aparecido até
aqui, outros bons jogadores, não tão badalados quanto esse trio midiático,
estão se destacando. Três são holandeses: Aaron Robben, Robin Van Persie (que
fez um dos gols mais bonitos de mundiais) e Blinden. Mas a França mostrou um
Benzema maduro, concentrado e eficiente, além de Pogba e Valbuena. O Chile
contou com o brilho e a eficiência de Alexis Sanchez, Vargas, Vidal e do
volante Aranguiz. A Itália teve até aqui a genialidade de Pirlo. Mas nenhum
deles empolgou tanto os amantes do bom futebol como o uruguaio Luizito Suarez.
Recorde-se que o
atacante do Liverpool, artilheiro de Premiere League na última temporada, foi
submetido a uma artroscopia no joelho há cerca de apenas trinta dias.
Duvidava-se, até mesmo, que pudesse jogar nesta Copa. Esteve a pique de ser
cortado e de nem vir ao Brasil. Contudo, para surpresa geral, não só jogou
contra a Inglaterra (o que já surpreendeu muita gente), como foi decisivo,
fazendo os dois gols da vitória uruguaia e mantendo-a viva na competição, após
o vexame dela na derrota diante da Costa Rica, em que o raçudo atacante não
jogou.
Sempre é bom lembrar –
porquanto os desavisados, sobretudo da mídia, parecem se esquecer – futebol é
esporte coletivo. Os jogadores mais habilidosos e decisivos só conseguem luzir,
e provar todas suas habilidades, se seus outros dez companheiros fizerem
convenientemente sua parte. Ou seja, se desempenharem com perfeição suas
respectivas funções. Ninguém vence sozinho nenhuma partida de futebol, nem
mesmo em peladas de fim de semana ou em jogos de várzea. Imaginem em uma Copa
do Mundo! Nem pensar! Isso valia no passado tanto para Pelé, Maradona,
Garrincha, Zico, Zidane etc.etc.etc. quanto vale no presente para Neymar,
Messi, Cristiano Ronaldo ou outro jogador genial qualquer.
Embora muitos me
contestem, quando trago o assunto à baila, considero a defesa brasileira se não
a melhor, uma das melhores do mundo. Não vejo em outras seleções zagueiros como
Thiago Silva e David Luís. Também não vejo outro volante marcador como Luiz
Gustavo. Há quem faça restrições aos nossos dois laterais, Daniel Alves e
Marcelo. Defensivamente, deixam, mesmo, muito a desejar, mas ambos contam com
eficiente cobertura. Ademais, são dois alas dos mais agudos, que já provaram
sua eficiência em seus respectivos clubes, não por acaso entre os dois melhores
do mundo: Barcelona e Real Madrid. Não vejo nenhuma outra seleção tão bem
servida nessa posição.
Apesar das críticas
feitas à Seleção Brasileira, nossa defesa – que não é retranqueira, óbvio –
levou um único gol e, assim mesmo, acidental. Foi aquela bola que,
caprichosamente, resvalou no pé de Marcelo, no jogo contra a Croácia, e que
fugiu do alcance de Júlio César. No mais... E não digam que não foi testada.
Foi e houve-se bem. Não analiso jogos sob o enfoque da paixão. Claro que, como
duzentos milhões de torcedores, gostaria de ver atuações exuberantes do nosso
selecionado, com placares elásticos a nosso favor e jogadas de tirar o fôlego.
Mas não crucifico o conjunto com base, apenas, em resultados. Afinal, como
tenho afirmado e reiterado incansavelmente, futebol não é ciência exata, mas um
jogo, sujeito, como todos os jogos, aos caprichos da sorte e do azar.
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