Água fria na fervura
Pedro J. Bondaczuk
O pronunciamento do ministro da
Fazenda, Eliseu Resende, no Senado, quando foi sabatinado por cerca de seis
horas, se na afastou de vez a crise política que estava se desenhando desde a
demissão de Paulo Haddad, no dia 1º, pelo menos jogou água gelada na fervura.
Alguns, mais afoitos, chegaram a
cogitar da substituição do presidente Itamar Franco, antecipando o processo
sucessório, como se com isso estivessem prestando um serviço ao País. Tais
inconseqüentes pensam que tudo não passa de um jogo. Esquecem-se que há milhões
de vidas envolvidas no processo. Que o Brasil carece de uma diretriz, que há
muito tempo não tem, e de tranqüilidade para trabalhar e retomar o difícil
processo de desenvolvimento, após 14 longos e perdidos anos de recessão.
É verdade que Itamar Franco
precisa medir suas palavras. Tem que entender que hoje não é mais um simples
parlamentar, mas o presidente de todos os brasileiros. E não somente dos que o
apóiam, mas também dos que se lhe opõem.
Nessa condição, pela própria
natureza da função que exerce, e em decorrência da armadilha deixada pela
Constituição de 1988 – eminentemente parlamentarista, para um regime
presidencialista – se requer dele diplomacia, tato, prudência e enorme
capacidade de liderança. Não se pode afirmar que o político mineiro (que na
verdade é baiano) não possua essas virtudes. Todavia, se as tem, e não há
porque duvidar que tenha, as esqueceu em Juiz de Fora.
Mas a recíproca é verdadeira. Não
é da competência de nenhum grupo parlamentar, ou empresarial, ou sindical, ou
seja lá do que for, cercear os atos do presidente naquilo que é a sua legítima
atribuição, como a escolha ou a demissão de ministros.
Neste aspecto, Itamar foi
coerente com o que sempre afirmou. Desde que assumiu o cargo, disse, em várias
oportunidades, e reiterou, sempre que provocado, que no momento em que qualquer
de seus auxiliares não merecesse mais a sua confiança, seria imediatamente
demitido. Foi o que ocorreu com Paulo Haddad.
Não se entra no mérito da questão
sobre se a troca foi justa ou injusta. Essa é atribuição exclusiva do
presidente e, convenhamos, a demissão não merecia tanto barulho. Até porque,
quando da escolha do agora ex-ministro, ainda para o recriado Ministério do
Planejamento, as críticas se sucederam.
O interessante é que, os mesmos
que criticaram a indicação, em outubro, trataram Paulo Haddad como se fosse um
salvador da pátria, sem o qual o País entraria em caos, quando da sua saída.
Incoerência! Incoerência pura!
Coincidência ou não, a tentativa
de desestabilização de um governo por si só frágil e inseguro, começou quase
que simultaneamente com o início da pífia campanha para o plebiscito. Há quem
queira “passar o carro na frente dos bois”, indiferente se este é o não o
melhor caminho para o País.
Eliseu Resende, em seu depoimento
no Senado, apenas confirmou o que todos sabiam, mas muitos se faziam de
desentendidos. Ou seja, que em momento algum se cogitou de choques,
congelamentos, prefixações, maxidesvalorizações e tantas outras bobagens
típicas de tecnocratas que entendem que o País é um laboratório para testar
suas teorias estapafúrdias.
Neste ínterim, muitos encheram
seus bolsos com o que não lhes competia, mas a economia brasileira viveu outro
de seus cíclicos terremotos, embora este sismo tenha sido, felizmente, de baixa
intensidade.
(Artigo publicado na página 2,
Opinião, do Correio Popular, em 12 de março de 1993).
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