Ao sabor do aleatório
Pedro
J. Bondaczuk
Quando afirmo que o
futebol não é ciência exata (e nem mesmo é ciência), mas que é um jogo,
sujeito, portanto, a “n” fatores aleatórios, puramente casuais, muitos me
contestam, não raro até de forma mal educada, dando a entender que minha
afirmação é um disparate. E olhem que estou me limitando a constatar o óbvio. A
Copa do Mundo está se encarregando de comprovar o que afirmo e reitero. Vem
derrubando vários prognósticos, tidos e havidos como lógicos e definitivos.
Mas... o futebol não tem lógica. Daí despertar o fascínio que desperta.
Claro que não vamos
exagerar. Num confronto, por exemplo, entre as seleções da Espanha e do Taiti,
como ocorreu na Copa das Confederações, nenhuma circunstância fortuita faria os
taitianos saírem vencedores da disputa. Pudera. Há um abismo intransponível de
habilidade técnica e recursos financeiros entre ambos. Mas na Copa do Mundo não
existe tanta diferença assim. As 31 seleções presentes (já que a do Brasil se
classificou automaticamente, pelo fato do País sediar o evento), enfrentaram, e
superaram uma fase eliminatória. Mostraram competência e conquistaram o direito
de participar da Copa em campo, pelos seus méritos. Claro que há desníveis
técnicos entre elas. Mas nenhum como o que envolvia Espanha e Taiti. Portanto,
as surpresas que estão ocorrendo, se bem analisadas, nem são tão surpreendentes
assim.
Quando a competição
começou, quem, em sã consciência, prognosticaria que a seleção espanhola, que
veio para o Brasil com a missão de defender o título conquistado na África do
Sul, seria eliminada, e tão precocemente, ou seja, logo na segunda rodada da
fase de classificação? Duvido que alguém tenha previsto isso, mesmo que por
brincadeira. Pelo contrário, a imensa maioria dos palpites que vi, internet
afora, colocavam a Espanha como favoritíssima para a conquista do bicampeonato.
Mas... o futebol não é ciência exata. É um jogo, sujeito a “n” fatores
aleatórios. Foi o que aconteceu com a ex-Fúria e atual “La Roja”.
Em qualquer outra
circunstância, que não uma Copa do Mundo, as derrotas da Espanha para a Holanda
e para o Chile seriam encaradas como normais. É certo que o placar de 5 a 1,
frente aos holandeses, fugiu um pouco da normalidade. Mas não a derrota em si.
Todavia, os espanhóis tiveram duas jornadas infelizes. Seus principais
jogadores não renderam o esperado e deu no que deu. Se o futebol fosse ciência
exata, isso não aconteceria. Mas... não é.
Quando a Copa do Mundo
começou, quem ousaria prever, mesmo que por brincadeira, que a Seleção da Costa
Rica obteria sua classificação para as Oitavas de Final no chamado Grupo da
Morte, com a presença de três campeões mundiais? E mais, com duas vitórias,
contra dois bichos-papões, como o Uruguai e a Itália? Pois é, foi o que
aconteceu. E caso obtenha um empate, por qualquer contagem, contra a
Inglaterra, terminará esta fase na primeira colocação. Se o futebol fosse
ciência exata, certamente isso não aconteceria. Contudo... não é. É um jogo,
sujeito a “n” fatores aleatórios. Nesse grupo, em vez da Costa Rica ser
eliminada, os que ficarão de fora serão dois campeões mundiais. A Inglaterra já
está confirmada que voltará para casa precocemente, e de mãos vazias. Uruguai e
Itália decidirão qual será o outro eliminado nessa etapa.
Embora não tenha
vencido e nem empatado, a Austrália surpreendeu a Holanda, ao endurecer o jogo
entre ambos e vender caro sua derrota. Quem poderia prever isso, levando em
conta que, em recente amistoso, a Seleção Brasileira “surrou” a australiana por
6 a 0? E a holandesa, na primeira rodada do seu grupo, na Copa do Mundo,
“humilhou” os espanhóis, aplicando-lhes contundentes e sonoros 5 a 1. Se o
futebol fosse ciência, estejam certos, o placar do Beira Rio seria algo como 7,
ou 8 ou quem sabe 10 a 0 para os holandeses. Mas... não é.
Por isso, o bla-bla-blá
arrogante dos supostos “especialistas”, dando como certa a conquista desta ou
daquela seleção e como eliminadas aquela e aquela, é mera “chutometria”. Não
são prognósticos, mas meros palpites. Por exemplo, quem garante que a Seleção
Brasileira vai passar por Camarões, que não mostrou coisa alguma nos dois jogos
que fez? Eu me contentaria com um empate, o que já seria suficiente para se
classificar. Mas não ponho minha mão no fogo, apesar do Brasil ser o maior
campeão da história, o que poderia ser igualado nessa Copa, mas não superado.
Caso o futebol fosse ciência, isso seria líquido e certo. Mas... não é. Por tal
razão, em vez de sair por aí, palpitando a torto e a direito, prefiro curtir os
jogos e ver no que resultam. Claro, torcendo pela seleção do meu país.
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