Saturday, June 21, 2014

Ao sabor do aleatório

Pedro J. Bondaczuk

Quando afirmo que o futebol não é ciência exata (e nem mesmo é ciência), mas que é um jogo, sujeito, portanto, a “n” fatores aleatórios, puramente casuais, muitos me contestam, não raro até de forma mal educada, dando a entender que minha afirmação é um disparate. E olhem que estou me limitando a constatar o óbvio. A Copa do Mundo está se encarregando de comprovar o que afirmo e reitero. Vem derrubando vários prognósticos, tidos e havidos como lógicos e definitivos. Mas... o futebol não tem lógica. Daí despertar o fascínio que desperta.

Claro que não vamos exagerar. Num confronto, por exemplo, entre as seleções da Espanha e do Taiti, como ocorreu na Copa das Confederações, nenhuma circunstância fortuita faria os taitianos saírem vencedores da disputa. Pudera. Há um abismo intransponível de habilidade técnica e recursos financeiros entre ambos. Mas na Copa do Mundo não existe tanta diferença assim. As 31 seleções presentes (já que a do Brasil se classificou automaticamente, pelo fato do País sediar o evento), enfrentaram, e superaram uma fase eliminatória. Mostraram competência e conquistaram o direito de participar da Copa em campo, pelos seus méritos. Claro que há desníveis técnicos entre elas. Mas nenhum como o que envolvia Espanha e Taiti. Portanto, as surpresas que estão ocorrendo, se bem analisadas, nem são tão surpreendentes assim.

Quando a competição começou, quem, em sã consciência, prognosticaria que a seleção espanhola, que veio para o Brasil com a missão de defender o título conquistado na África do Sul, seria eliminada, e tão precocemente, ou seja, logo na segunda rodada da fase de classificação? Duvido que alguém tenha previsto isso, mesmo que por brincadeira. Pelo contrário, a imensa maioria dos palpites que vi, internet afora, colocavam a Espanha como favoritíssima para a conquista do bicampeonato. Mas... o futebol não é ciência exata. É um jogo, sujeito a “n” fatores aleatórios. Foi o que aconteceu com a ex-Fúria e atual “La Roja”.

Em qualquer outra circunstância, que não uma Copa do Mundo, as derrotas da Espanha para a Holanda e para o Chile seriam encaradas como normais. É certo que o placar de 5 a 1, frente aos holandeses, fugiu um pouco da normalidade. Mas não a derrota em si. Todavia, os espanhóis tiveram duas jornadas infelizes. Seus principais jogadores não renderam o esperado e deu no que deu. Se o futebol fosse ciência exata, isso não aconteceria. Mas... não é.

Quando a Copa do Mundo começou, quem ousaria prever, mesmo que por brincadeira, que a Seleção da Costa Rica obteria sua classificação para as Oitavas de Final no chamado Grupo da Morte, com a presença de três campeões mundiais? E mais, com duas vitórias, contra dois bichos-papões, como o Uruguai e a Itália? Pois é, foi o que aconteceu. E caso obtenha um empate, por qualquer contagem, contra a Inglaterra, terminará esta fase na primeira colocação. Se o futebol fosse ciência exata, certamente isso não aconteceria. Contudo... não é. É um jogo, sujeito a “n” fatores aleatórios. Nesse grupo, em vez da Costa Rica ser eliminada, os que ficarão de fora serão dois campeões mundiais. A Inglaterra já está confirmada que voltará para casa precocemente, e de mãos vazias. Uruguai e Itália decidirão qual será o outro eliminado nessa etapa.

Embora não tenha vencido e nem empatado, a Austrália surpreendeu a Holanda, ao endurecer o jogo entre ambos e vender caro sua derrota. Quem poderia prever isso, levando em conta que, em recente amistoso, a Seleção Brasileira “surrou” a australiana por 6 a 0? E a holandesa, na primeira rodada do seu grupo, na Copa do Mundo, “humilhou” os espanhóis, aplicando-lhes contundentes e sonoros 5 a 1. Se o futebol fosse ciência, estejam certos, o placar do Beira Rio seria algo como 7, ou 8 ou quem sabe 10 a 0 para os holandeses. Mas... não é.

Por isso, o bla-bla-blá arrogante dos supostos “especialistas”, dando como certa a conquista desta ou daquela seleção e como eliminadas aquela e aquela, é mera “chutometria”. Não são prognósticos, mas meros palpites. Por exemplo, quem garante que a Seleção Brasileira vai passar por Camarões, que não mostrou coisa alguma nos dois jogos que fez? Eu me contentaria com um empate, o que já seria suficiente para se classificar. Mas não ponho minha mão no fogo, apesar do Brasil ser o maior campeão da história, o que poderia ser igualado nessa Copa, mas não superado. Caso o futebol fosse ciência, isso seria líquido e certo. Mas... não é. Por tal razão, em vez de sair por aí, palpitando a torto e a direito, prefiro curtir os jogos e ver no que resultam. Claro, torcendo pela seleção do meu país.


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