Friday, June 20, 2014

O maior flagelo do século

Pedro J. Bondaczuk

O século XX, decantado como sendo o "das luzes" quando começou, revelou-se, na verdade, um dos mais tormentosos períodos para a humanidade. E a menos de 14 anos de seu final, está sob ameaça de nem mesmo terminar, pelo menos sem vida sobre a face da Terra. Estes últimos 86 anos foram marcados por imensos flagelos, até mais graves do que as grandes pestes que dizimaram populações inteiras na Europa, antes do advento de Louis Pasteur e de outros grandes benfeitores da espécie humana.

Entre estes, podem ser citados, não necessariamente na ordem de importância, as guerras e revoluções, a ameaça nuclear, a fome, o terrorismo e o tráfico de drogas. Todos, evidentemente, são males graves, mas, entre os piores, está, sem dúvida, este último.

Milhões de pessoas, especialmente os jovens, estão virtualmente condenadas a um mundo torturante e a uma vida improdutiva, apenas para engordar os lucros de cínicos criminosos, que dispõem dos seus semelhantes como se eles fossem objetos inanimados.

O crime organizado movimenta nos Estados Unidos, apenas num ano, a monumental cifra de US$ 100 bilhões (equivalente à totalidade da dívida externa brasileira). Dessa importância, 80% advêm das drogas, consumidas por contingentes crescentes de pessoas, que embarcam, dessa forma, numa "viagem" alucinada, da qual, provavelmente, jamais conseguirão regressar. E o que mais dói, é que a maioria absoluta desses infelizes, que são hoje entre 30 milhões a 40 milhões de pessoas (uma vez e meia a população da Argentina), está na faixa etária dos 12 aos 20 anos. Crianças, portanto.

Adolescentes, que abruptamente, em geral por mera curiosidade, caem nas garras de bandidos insensíveis, em pouquíssimo tempo se transformam em semi-autômatos, mortos-vivos, párias discriminados pelas famílias, pelos amigos e por toda a sociedade.

Mas os norte-americanos, com a fibra dos velhos pioneiros que lhes é peculiar, não estão dispostos a se submeter docilmente a esse prejuízo imenso, à perda daquilo que o país possui de melhor e de mais dinâmico, que é a sua juventude. A primeira-dama dos Estados Unidos, numa obra digna do Prêmio Nobel da Paz, vem encabeçando, há dois anos, uma campanha, meritória sob qualquer aspecto que se olhe, nesse sentido.

Nancy Reagan vem se mostrando incansável em sua cruzada contra a toxicomania, cuja principal estratégia é impedir que novas crianças sejam induzidas ao vício por esses inimigos da espécie humana, que são os traficantes, geralmente "cidadãos à prova de qualquer suspeita". Pessoas que chegam a assumir postura de benfeitoras sociais, encabeçando entidades e campanhas filantrópicas, freqüentando igrejas e detendo influência e poder políticos. Esse disfarce torna mais árdua a luta contra tais indivíduos, que tripudiam sobre todos os valores que o homem civilizado cultiva e acredita.

Uma das entidades norte-americanas mais ativas contra a toxicomania, é a "Fundação Diga Não às Drogas". Tem, portanto, um nome sugestivo, que por si só ensina como uma pessoa de bom senso poderá ficar livre da auto-anulação, do caminho da tragédia e do pesadelo que dificilmente tem volta, de uma escravidão intolerável e raramente reversível. Enfim, da morte lenta e agoniante, tanto física, quanto psicológica e social.

Campanhas como a que Nancy Reagan encabeça, enobrece as pessoas que dela participam. São dignas, não somente de um ou outro espaço na imprensa, mas de manchetes enormes, por terem um valor incomensurável. Os pais de viciados sabem que não estamos exagerando.

Os que deram esse mau passo na vida, compreendem que tudo o que se diga para enaltecer entidades deste tipo será pouco, diante da importância que elas têm. Não é por acaso que organismos internacionais, como as Nações Unidas e a Organização dos Estados Americanos, estudam dedicar o próximo ano ao combate ao tráfico e consumo de drogas. Nem foi exagero da OEA quando, em 1985, considerou os traficantes, num documento oficial firmado por todos os seus membros, "inimigos de toda a humanidade". Falta, ainda, atribuir o Nobel da Paz aos que combatem esses párias criminosos. E Nancy Reagan está entre os merecedores mais destacados dessa grande distinção.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 21 de maio de 1986)


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