O maior flagelo do século
Pedro J. Bondaczuk
O
século XX, decantado como sendo o "das luzes" quando começou,
revelou-se, na verdade, um dos mais tormentosos períodos para a humanidade. E a
menos de 14 anos de seu final, está sob ameaça de nem mesmo terminar, pelo
menos sem vida sobre a face da Terra. Estes últimos 86 anos foram marcados por
imensos flagelos, até mais graves do que as grandes pestes que dizimaram
populações inteiras na Europa, antes do advento de Louis Pasteur e de outros
grandes benfeitores da espécie humana.
Entre
estes, podem ser citados, não necessariamente na ordem de importância, as
guerras e revoluções, a ameaça nuclear, a fome, o terrorismo e o tráfico de
drogas. Todos, evidentemente, são males graves, mas, entre os piores, está, sem
dúvida, este último.
Milhões
de pessoas, especialmente os jovens, estão virtualmente condenadas a um mundo
torturante e a uma vida improdutiva, apenas para engordar os lucros de cínicos
criminosos, que dispõem dos seus semelhantes como se eles fossem objetos
inanimados.
O
crime organizado movimenta nos Estados Unidos, apenas num ano, a monumental
cifra de US$ 100 bilhões (equivalente à totalidade da dívida externa
brasileira). Dessa importância, 80% advêm das drogas, consumidas por
contingentes crescentes de pessoas, que embarcam, dessa forma, numa
"viagem" alucinada, da qual, provavelmente, jamais conseguirão
regressar. E o que mais dói, é que a maioria absoluta desses infelizes, que são
hoje entre 30 milhões a 40 milhões de pessoas (uma vez e meia a população da
Argentina), está na faixa etária dos 12 aos 20 anos. Crianças, portanto.
Adolescentes,
que abruptamente, em geral por mera curiosidade, caem nas garras de bandidos
insensíveis, em pouquíssimo tempo se transformam em semi-autômatos, mortos-vivos,
párias discriminados pelas famílias, pelos amigos e por toda a sociedade.
Mas
os norte-americanos, com a fibra dos velhos pioneiros que lhes é peculiar, não
estão dispostos a se submeter docilmente a esse prejuízo imenso, à perda
daquilo que o país possui de melhor e de mais dinâmico, que é a sua juventude.
A primeira-dama dos Estados Unidos, numa obra digna do Prêmio Nobel da Paz, vem
encabeçando, há dois anos, uma campanha, meritória sob qualquer aspecto que se
olhe, nesse sentido.
Nancy
Reagan vem se mostrando incansável em sua cruzada contra a toxicomania, cuja
principal estratégia é impedir que novas crianças sejam induzidas ao vício por
esses inimigos da espécie humana, que são os traficantes, geralmente
"cidadãos à prova de qualquer suspeita". Pessoas que chegam a assumir
postura de benfeitoras sociais, encabeçando entidades e campanhas
filantrópicas, freqüentando igrejas e detendo influência e poder políticos.
Esse disfarce torna mais árdua a luta contra tais indivíduos, que tripudiam
sobre todos os valores que o homem civilizado cultiva e acredita.
Uma
das entidades norte-americanas mais ativas contra a toxicomania, é a
"Fundação Diga Não às Drogas". Tem, portanto, um nome sugestivo, que
por si só ensina como uma pessoa de bom senso poderá ficar livre da
auto-anulação, do caminho da tragédia e do pesadelo que dificilmente tem volta,
de uma escravidão intolerável e raramente reversível. Enfim, da morte lenta e
agoniante, tanto física, quanto psicológica e social.
Campanhas
como a que Nancy Reagan encabeça, enobrece as pessoas que dela participam. São
dignas, não somente de um ou outro espaço na imprensa, mas de manchetes
enormes, por terem um valor incomensurável. Os pais de viciados sabem que não
estamos exagerando.
Os
que deram esse mau passo na vida, compreendem que tudo o que se diga para
enaltecer entidades deste tipo será pouco, diante da importância que elas têm.
Não é por acaso que organismos internacionais, como as Nações Unidas e a
Organização dos Estados Americanos, estudam dedicar o próximo ano ao combate ao
tráfico e consumo de drogas. Nem foi exagero da OEA quando, em 1985, considerou
os traficantes, num documento oficial firmado por todos os seus membros,
"inimigos de toda a humanidade". Falta, ainda, atribuir o Nobel da
Paz aos que combatem esses párias criminosos. E Nancy Reagan está entre os
merecedores mais destacados dessa grande distinção.
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 21 de maio de
1986)
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