Thursday, June 26, 2014

Capitalismo de pílhagem


Pedro J. Bondaczuk


Os conceitos óbvios são, não se sabe porque, os mais difíceis de as pessoas assimilarem, em especial quando se trata de tema econômico. Exemplo disso é a constatação do escritor E. Schumacher, quando afirma que “a economia como conteúdo de vida é uma doença mortal, porque o crescimento infinito não se ajusta a um mundo finito”.

Em resumo, cada vez mais o homem precisa achar uma atividade que lhe permi9ta obter o sustento para si e para a família. As riquezas mundiais concentram-se, crescentemente, em menos mãos. Pode-se dizer, hoje, que metade da humanidade sobrevive em condições cada vez piores, parte considerável da qual na linha geralmente aceita como abaixo da pobreza, que é a miséria.

Há pouco tempo julgava-se que miseráveis existissem somente no chamado Terceiro Mundo. Ou que fosse o lado perverso do capitalismo. A desagregação da União Soviética e a adesão da China à economia de mercado mostram que o comunismo estava longe, muito distante de criar a sonhada sociedade igualitária, sem classes, onde tudo seria dividido por igual.

O caso chinês é o mais expressivo. Enquanto os moradores das grandes cidades, como Pequim e Xangai, passaram a conhecer a prosperidade e a ter recursos para investir no supérfluo, hordas enormes de camponeses vegetam nos limites da resistência, assoladas pela fome, pelas doenças e pela ignorância que se torna endêmica.

A poderosa Europa Ocidental, os Estados Unidos e o Japão (em menor proporção) também têm os seus mendigos, seus desabrigados, seus “homeless” (sem-teto). Na França, por exemplo, o Abade Pierre renova a campanha que fez no pós-guerra em favor dos miseráveis. Nos Estados Unidos, eles já chegam a 37,5 milhões. No Brasil, nem é bom tornar a falar, pelo menos neste artigo.

Vivemos o que o cientista social francês Loic Wacquant chamou de “capitalismo de pilhagem”, no qual “cada vez mais pessoas são empurradas para fora do setor de atividade, para fora do emprego precário. Torna-se uma espécie de população supérflua, mas que precisa viver. Então, desenvolve uma economia informal na rua”.

Este é um problema que os estadistas e, em especial, os cientistas políticos precisam resolver, sob pena de o homem, em médio prazo, perder seu verniz civilizatório e retroagir à barbárie. 
 
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de fevereiro de 1994)


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