Capitalismo
de pílhagem
Pedro J. Bondaczuk
Os conceitos óbvios são, não se sabe porque, os mais
difíceis de as pessoas assimilarem, em especial quando se trata de tema
econômico. Exemplo disso é a constatação do escritor E. Schumacher, quando
afirma que “a economia como conteúdo de vida é uma doença mortal, porque o
crescimento infinito não se ajusta a um mundo finito”.
Em resumo, cada vez mais o homem precisa achar uma
atividade que lhe permi9ta obter o sustento para si e para a família. As
riquezas mundiais concentram-se, crescentemente, em menos mãos. Pode-se dizer,
hoje, que metade da humanidade sobrevive em condições cada vez piores, parte
considerável da qual na linha geralmente aceita como abaixo da pobreza, que é a
miséria.
Há pouco tempo julgava-se que miseráveis existissem
somente no chamado Terceiro Mundo. Ou que fosse o lado perverso do capitalismo.
A desagregação da União Soviética e a adesão da China à economia de mercado
mostram que o comunismo estava longe, muito distante de criar a sonhada
sociedade igualitária, sem classes, onde tudo seria dividido por igual.
O caso chinês é o mais expressivo. Enquanto os
moradores das grandes cidades, como Pequim e Xangai, passaram a conhecer a
prosperidade e a ter recursos para investir no supérfluo, hordas enormes de
camponeses vegetam nos limites da resistência, assoladas pela fome, pelas
doenças e pela ignorância que se torna endêmica.
A poderosa Europa Ocidental, os Estados Unidos e o
Japão (em menor proporção) também têm os seus mendigos, seus desabrigados, seus
“homeless” (sem-teto). Na França, por exemplo, o Abade Pierre renova a campanha
que fez no pós-guerra em favor dos miseráveis. Nos Estados Unidos, eles já
chegam a 37,5 milhões. No Brasil, nem é bom tornar a falar, pelo menos neste
artigo.
Vivemos o que o cientista social francês Loic
Wacquant chamou de “capitalismo de pilhagem”, no qual “cada vez mais pessoas
são empurradas para fora do setor de atividade, para fora do emprego precário.
Torna-se uma espécie de população supérflua, mas que precisa viver. Então,
desenvolve uma economia informal na rua”.
Este é um problema que os estadistas e, em especial,
os cientistas políticos precisam resolver, sob pena de o homem, em médio prazo,
perder seu verniz civilizatório e retroagir à barbárie.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 5 de fevereiro de 1994)
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