De
incidente em incidente...
Pedro J. Bondaczuk
Os
Estados Unidos, que deslocaram para o Golfo Pérsico o mais extraordinário
efetivo bélico naval já concentrado num só lugar desde a Segunda Guerra
Mundial, acabam de protagonizar outro incidente armado com o Irã. Desta feita,
dois helicópteros MH-6, idênticos aos que torpedearam o navio "Iran
AJR", dias atrás, incendiaram duas lanchas velozes iranianas, numa
escalada quantitativa do conflito nessa zona, que desde 17 de maio passado,
somente se alastrou.
Até
a ocasião em que a fragata norte-americana "USS Stark" foi atingida
por um Exocet do Iraque, a conflagração tinha entrado num compasso mais lento.
Os ataques a petroleiros tinham diminuído e os bombardeios a cidades até tinham
cessado por completo.
É
verdade que os persas estavam virtualmente inviabilizando a navegação de
navios-tanques do Kuwait, a quem acusavam de prestar assistência econômica ao
seu adversário. Foi então que o presidente Ronald Reagan resolveu intervir,
embaralhando de vez a cabeça de todo o mundo e levando turbulência maior a uma
zona por si só agitada.
Na
época, o escândalo "Irã-contras" estava no auge, com revelações após
revelações de envio de armas norte-americanas ao regime dos aiatolás.
Subitamente, os "ventos" da Casa Branca voltaram a mudar de rumo.
Passaram a soprar contra Teerã. Haverá novas mudanças? Para onde eles podem se
virar?
Ameaças,
dos dois lados, sucederam-se. Das palavras para os atos foi só um pulo. Afinal,
não é assim que nascem as grandes guerras? Num piscar de olhos, quando a
opinião pública de "Tio Sam" se deu conta, lá estava mais uma
vez o país metido em outra formidável confusão. Ao que consta, a solução do
conflito nessa zona tão estratégica não passa pelo recurso das armas. Pensar ao
contrário não passa de insensatez.
A
interferência norte-americana, a favor virtualmente do Iraque, somente
conseguirá unir ainda mais os persas em torno dos aiatolás. O crítico até se
atreve a dizer que se não fosse a conflagração de sete anos nessa região, o
regime iraniano já teria caído de maduro. Afinal, ele significa um recuo, em
termos institucionais e econômicos, para o "ex-gendarme do Golfo".
Mas o patriotismo, o nacionalismo falam muito mais alto, em qualquer lugar, do
que diferenças internas. Isto já está mais do que provado.
A
médio prazo, as perspectivas na "jugular do petróleo" do Ocidente não
são nada animadoras. Choques, como o informado ontem pelo Pentágono, tendem a
ser mais freqüentes. E a cada novo cadáver que surgir, mais fundo ficará o
fosso dos antagonismos a ser ultrapassado.
Uma
escalada, como a que está se verificando sob as vistas da comunidade
internacional, pode ser imprevisível. Não que o Irã enfrente os Estados Unidos
de igual para igual ou represente risco real para a superpotência, pois isto é
impossível. Mas sabe-se lá que seqüelas essas escaramuças poderão deixar e a
que custo. Vale a pena essa "diplomacia dos canhões?"
(Artigo publicado no Correio Popular de
9 de outubro de 1987).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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