O fantasma do silêncio
Pedro
J. Bondaczuk
Nada assusta mais um
escritor, e nem o aborrece tanto, do que a mera possibilidade dos seus textos
passarem em branco e não serem lidos por ninguém. É o que muitos chamam de “o
fantasma do silêncio”. Se fosse para não ser lido, ele sequer perderia tempo e
esforço (e põe esforço nisso) para escrever o que quer que seja.
Não conheço um só
escritor que não se preocupe e não se aborreça com isso. Muitos podem, até,
dizer que não ligam a mínima. Vários deles dizem isso, de fato. Mas, estejam
certos, ligam sim. E muito!O que os aterroriza, sobretudo, é a sempre possível
sombra do encalhe de seus livros.
E olhem que nessa época
de tantos perigos e ameaças, motivos para terror é que não faltam. Estamos
todos assistindo, por exemplo, sem que nenhuma providência prática seja
adotada, o cada vez mais acelerado processo de aquecimento global,
possivelmente já irreversível, com a probabilidade de ocorrência de uma
tragédia anunciada, de proporções apocalípticas, cada vez mais iminente, apenas
questão de tempo, para se configurar.
Vemos, volta e meia,
novos e poderosos vírus aparecendo (muitos dos quais, suspeita-se, criados em
laboratórios com o objetivo de serem armas bacteriológicas), ameaçando
exterminar multidões, com incontroláveis pandemias. Entre estes, os mais
recentes são os da gripe aviária, que ainda não tem meios eficazes de
imunização e a assustadora, tão propalada e já atuante “gripe suína”. E há,
ainda, dezenas, centenas, milhares, milhões, bilhões de chateações, de todos os
tamanhos e intensidades, a nos azucrinarem no cotidiano.
De tudo isso, porém, o
que mais assusta o escritor é a possibilidade de ser ignorado. Não que ele seja
alienado, longe disso. Pelo contrário, ninguém é tão bem informado quanto quem se
dedica a essa atividade. Afinal, informação e realidade são matérias-primas do
seu “métier”, às quais acrescenta os indispensáveis ingredientes do talento, da
sensibilidade e, sobretudo, da criatividade.
Imaginem, por exemplo,
a chateação de um escritor que seja colunista de um jornal, ou uma revista
(qualquer um, famoso ou não, entre os quais me incluo), ao não receber um único
e reles comentário, de quem quer seja, nem mesmo dos parentes mais próximos
(mulher, filhos, sobrinhos etc.etc.etc.) àquilo que tão generosamente partilhou
com tanta gente!
Na maioria das vezes,
não recebe a mínima manifestação, nem mesmo um “gostei”, ou “detestei”, ou
“concordo com suas opiniões”, ou “discordo delas”. O retorno é zero, é o nada,
é o silêncio, o que nos deixa a desagradável sensação de estarmos pregando num
desolador deserto, para pedras, cactus, dunas e, eventualmente, para uma ou
outra aranha, escorpião, lagarto ou solitário chacal. Ou de estarmos falando
sozinhos, numa movimentada avenida, agindo como se tivéssemos ao nosso lado
algum interlocutor invisível, passando por malucos aos olhos dos transeuntes.
Destaque-se que o
quadro de colunistas dos principais jornais e revistas é constituído por
profissionais do texto, que vivem de escrever, todos vencedores (caso
contrário, nem seriam cogitados, quanto mais contratados). Nem sempre (ou
raramente) são remunerados pelas empresas responsáveis por tais veículos de
comunicação. Aceitam colaborar sobretudo para divulgar seus nomes, com vistas a
incrementar a venda de seus livros.
Normalmente, esses
escritores cobram (e muito caro, caríssimo!) por tudo o que escrevem (e com
razão). E, para sua felicidade (salvo as exceções de sempre), clientes é que
não lhes faltam. Pelo contrário, poderiam ser até em menor número, já que têm
que se desdobrar em cansativas jornadas de 14 horas diárias de produção, se não
mais. São raros os leitores que podem usufruir dos seus textos gratuitamente. É
certo que jornais e revistas têm preço. O leitor paga por eles. Mas o montante
despendido não tem comparação com o custo de algum livro, não importa qual. Ele
tem, portanto, acesso à produção de consagrados escritores quase de graça, além
de contar com outras tantas atrações que tais veículos trazem. O que se estranhas, todavia, é que, os que
podem usufruir dessa geralmente ótima produção literária não a usufruam. Por
que não aproveitar este privilégio? Sim por que não? Eu, como leitor,
aproveito, e muito.
Pregar no deserto
cansa! Falar sozinho, numa movimentada avenida, como um maluco, chateia. Em
alguns casos, admito, a culpa até pode ser nossa. Pergunto agora aos escritores
(pergunta que também me faço milhares de vezes): que tal espantarmos, e rápido,
exorcizando-o de vez, o horrendo e inconveniente “fantasma do silêncio”,
fazendo a nossa parte? Como? Produzindo textos cada vez melhores, que sejam,
simultaneamente, atrativos e instrutivos que, ao mesmo tempo que divirtam,
informem, eduquem, induzam as pessoas a pensar e tornem os leitores melhores?!
É um desafio? Sem dúvida! E dos maiores. É impossível de atingir esse grau de
excelência? Não sei! Mas nunca saberemos se não tentarmos. Tentemos pois!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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