Campinas reverencia
dois grandes mitos
Pedro
J. Bondaczuk
As cidades, salvo
exceções, têm seus próprios heróis. São figuras representativas de seus ideais
e tradições, cujas populações reverenciam, geração após geração, por anos,
décadas, séculos e vai por aí afora. Alguns ganham projeção nacional. Outros
projetam-se, até, internacionalmente. Mas é na sua terra natal que são, de
fato, reverenciados. Nela ganham monumentos, seus nomes batizam ruas, praças,
escolas e entidades (públicas e particulares). Enfim, tornam-se símbolos de
suas comunidades, que se orgulham de sua existência. Com o tempo, suas vidas e
seus feitos findam por se misturar a lendas. Assim, essas pessoas acabam por serem transformadas em
mitos, numa espécie de semideuses. Adquirem a desejada “imortalidade”, na
medida (sempre relativa e precária) a que esta é acessível a nós, humanos,
seres perecíveis, passageiros e efêmeros.
Campinas, em seus 242
anos de existência (que serão completados na próxima quinta-feira, 14 de julho
de 2016), teve dezenas, quiçá centenas ou mesmo milhares de filhos ilustres,
que se projetaram tanto localmente, quanto nacional e internacionalmente pelos
seus feitos, nas mais diversas áreas de atividades. Dois deles, todavia, se
destacam no imaginário popular e na reverência de seus concidadãos (sem
demérito a nenhum outro menos lembrado), ambos artistas, e de artes distintas,
mas que se relacionam e se complementam:
música e poesia. No primeiro caso está o maestro e compositor Antonio
Carlos Gomes (o “Nhô Tonico”, como gostava de ser chamado e como muitas vezes
se assinava), que, se vivo estivesse, estaria completando, neste 11 de julho de
2016, 180 anos de nascimento. No segundo, insere-se quem ostentou por décadas o
título, que tão bem lhe coube, de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, que de
fato foi: Guilherme de Almeida.
A exemplo do seu mítico
conterrâneo, o magnífico escritor campineiro também nasceu no mesmo mês do
maestro, e mais, no da cidade que serviu de berço a ambos: julho. Foi em 24 de
julho de 1890. Completará, portanto, dentro de treze dias, 126 anos em que,
pela primeira vez, viu a luz do mundo, nesta vibrante metrópole, que um dia foi
chamada de “terra das andorinhas” e que hoje é, para mim, a “terra dos
bentevis”, tantas que são, por aqui, estas temperamentais aves. A diferença é
que Guilherme de Almeida, ao contrário do maestro, deixou este mundo também em
um mês de julho (num dia 11, de 1969) data em que “se encantou”, pois como
costumava dizer o mineiro João Guimarães Rosa, “o poeta não morre, fica
encantado”. Coincidentemente, todavia, seu “encantamento” deu-se no dia exato
em que os campineiros celebravam mais um aniversário de nascimento de Carlos
Gomes. Grande coincidência!!!
Não trarei dados da
vida e nem da obra destes dois mitos campineiros, nestes meus canhestros
comentários diários, por serem rigorosamente redundantes e, portanto,
dispensáveis. Afinal, há inúmeras biografias de ambos, escritas por figuras intelectualmente muito mais competentes e
qualificadas do que eu. Além disso, suas realizações e suas façanhas (pelo
menos as principais) são de amplo conhecimento por parte de boa parcela dos
seus conterrâneos. Campinas dedica, anualmente, uma semana inteira para cultuar
a memória de Guilherme de Almeida (neste ano ela foi do dia 4 ao dia 11,
portanto hoje), sobretudo por parte deste templo do saber literário, que é a
Academia Campinense de Letras. Carlos Gomes, por sua vez, vem sendo
reverenciado, desde esta precisa data, com uma série de eventos promovidos por
várias instituições artísticas e culturais, o que, há tempos, já se tornou
tradição na cidade.
O escritor inglês do
século XVIII, Thomas de Quincey, afirmou, em certa ocasião: “Não existe o
esquecimento total: as pegadas impressas na alma são indestrutíveis”. Por isso,
Carlos Gomes e Guilherme de Almeida seguirão sendo reverenciados enquanto
Campinas existir. Os “rastros” de seu imenso talento são ostensivos demais para
que sejam esquecidos pelos campineiros de hoje e das gerações vindouras. Seus
aniversários, assim como o desta “jovem senhora” de 242 anos, são, também, em
certa medida, o nosso. Afinal, somos nós que damos vida a esta cidade. Somos a
sua memória nesta geração. Somos nós que asseguramos seu vigor, beleza e destino.
Somos nós, o corpo, o cérebro, a voz e a alma de Campinas. E estamos, pois,
todos de parabéns por mais esta etapa vitoriosa na sua, que igualmente é a
nossa, já magnífica trajetória.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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