Não
tenha medo de se expor
Pedro J. Bondaczuk
Uma pessoa, que afirma ser
leitora assídua dos meus textos, quer no Literário, quer no Facebook, quer em
alguns outros veículos de que me utilizo, que diz ter os quatro livros que
publiquei (os quais garante ter lido com toda a atenção) e que se identifica
como Pedro Pereira, “aspirante a escritor”, pede-me conselhos sobre o que deve
fazer para ser bem-sucedido na atividade literária. Puxa, xará, mais?!! Não
bastam os cerca de 240 textos que já escrevi a propósito, neste espaço e em
tantos outros que você afirma ler constantemente?! Mas vamos lá.
Em princípio, digo-lhe, sem
nenhum constrangimento e sem medo de errar, que não existe nenhuma fórmula
mágica que nos garanta o sucesso sem possibilidades de erro. Não há nem nesta e
nem em nenhuma outra profissão. Há uma série de circunstâncias individuais que
favorecem ou atrapalham as pessoas de serem bem-sucedidas no que quer que
façam. Cada qual tem as suas.
E não basta apenas o talento para
se conseguir êxito no complexo e pantanoso campo da Literatura (como muitos
teóricos e arrogantes “donos da verdade” apregoam), embora sem ele não se vá a
lugar algum. Você tem, antes e acima de tudo, que gostar do que faz como
condição preliminar para dar, pelo menos, os primeiros passos em direção ao
sucesso. E esse “gostar” tem que ser profundo, apaixonante, definitivo e
absoluto. Implica em aprender tudo o que diga respeito à atividade escolhida e
muito além. Porém, isso não garante ao “aspirante a escritor” que vai ser
bem-sucedido. Nada garante.
Não me sinto, pois, habilitado a
aconselhar quem quer que seja no que, como e quando fazer. Mas já que você me
pede um conselho, reproduzo o de alguém muito mais habilitado, famoso e
bem-sucedido do que eu, o saudoso escritor João Ubaldo Ribeiro.
Confrontado, em certa ocasião,
por um jovem, como você, a lhe dar algumas indicações sobre como caminhar com
segurança pelos meandros da literatura, o consagrado romancista baiano
escreveu: “Em primeiro lugar desaconselharia o jovem candidato a escritor a
continuar; sugeriria que desistisse enquanto é tempo. Mas se isso for mesmo
impossível, eu diria: então está bem,
persista, vá em frente, leia muito, todas essas coisas que são lugares-comuns.
E principalmente, seja humilde, mas combine essa humildade com certa
obstinação. O resto, não é com você, amigo. É um mistério”. E é mesmo.
Uns fazem tudo de errado, passam
a vida escrevendo, e fracassando, e subitamente... Zás! Acertam na mosca!
Produzem uma obra que cai no gosto do público e, dessa forma, conquistam não só
o sucesso, como a glória.
Outros, por seu turno, seguem
todos os “cânones” conhecidos, lêem muito, pesquisam além da conta, são
observadores, apuram seus textos, treinam, treinam, treinam; persistem,
persistem e persistem.... e nada! Não conseguem conquistar o leitor e, sem
este, em literatura, nada feito. É, pois, como Ubaldo destaca: “um mistério”.
Há claro algumas coisinhas
básicas, que ajudam muito (e se não ajudarem, também não atrapalham), mas
estas, com certeza, você já está careca de conhecer. Não serei, pois redundante
e não cometerei a indelicadeza de tratá-lo como completo ignorante no assunto,
reproduzindo-as aqui.
Só posso recomendar-lhe que
comece pelo princípio. Ou seja, tente cativar leitores. Para isso, todavia,
você não pode ter medo de se expor. Mostre seus textos para todos os que se
disponham a lê-los, parentes, amigos, namoradas, amantes, o diabo a quatro.
Faça um blog, escreva para jornais, divulgue sua produção fartamente. Claro,
antes de tudo, terá que produzir muito, e bem, e cada vez melhor. Se não
mostrar aos outros o que você escreve, como eles irão julgar se é bom ou ruim?
Por telepatia? Creia, isso não existe.
Faça o seguinte: comece por se
juntar a nós. Em vez de ser meramente leitor eventual do Literário, como você
mesmo confessa que é, torne-se nosso “seguidor”. Já é um começo.
A seguir, envie-me seus textos.
Não tenha receio, não dói. Ninguém irá espancá-lo por isso. E prometo
publicá-los. Ninguém que já nos procurou ficou na mão. Tenha coragem.
Exponha-se. E não fique melindrado (como eu fico) quando (ou se) ninguém
comentar o que escreveu. Ou se o comentário lhe for desfavorável. Isso acontece
com uma regularidade contundente.
É o máximo que lhe posso
recomendar. O mais, com certeza, direi, mesmo que de passagem, nos próximos textos
que escrever sobre o assunto. Ou não, pois não posso garantir o que vai me
ocorrer nem mesmo no próximo minuto, quanto mais nos próximos dias, semanas,
meses e anos.
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