Tuesday, July 19, 2016

Não tenha medo de se expor


Pedro J. Bondaczuk


Uma pessoa, que afirma ser leitora assídua dos meus textos, quer no Literário, quer no Facebook, quer em alguns outros veículos de que me utilizo, que diz ter os quatro livros que publiquei (os quais garante ter lido com toda a atenção) e que se identifica como Pedro Pereira, “aspirante a escritor”, pede-me conselhos sobre o que deve fazer para ser bem-sucedido na atividade literária. Puxa, xará, mais?!! Não bastam os cerca de 240 textos que já escrevi a propósito, neste espaço e em tantos outros que você afirma ler constantemente?! Mas vamos lá.

Em princípio, digo-lhe, sem nenhum constrangimento e sem medo de errar, que não existe nenhuma fórmula mágica que nos garanta o sucesso sem possibilidades de erro. Não há nem nesta e nem em nenhuma outra profissão. Há uma série de circunstâncias individuais que favorecem ou atrapalham as pessoas de serem bem-sucedidas no que quer que façam. Cada qual tem as suas.

E não basta apenas o talento para se conseguir êxito no complexo e pantanoso campo da Literatura (como muitos teóricos e arrogantes “donos da verdade” apregoam), embora sem ele não se vá a lugar algum. Você tem, antes e acima de tudo, que gostar do que faz como condição preliminar para dar, pelo menos, os primeiros passos em direção ao sucesso. E esse “gostar” tem que ser profundo, apaixonante, definitivo e absoluto. Implica em aprender tudo o que diga respeito à atividade escolhida e muito além. Porém, isso não garante ao “aspirante a escritor” que vai ser bem-sucedido. Nada garante.

Não me sinto, pois, habilitado a aconselhar quem quer que seja no que, como e quando fazer. Mas já que você me pede um conselho, reproduzo o de alguém muito mais habilitado, famoso e bem-sucedido do que eu, o saudoso escritor João Ubaldo Ribeiro.

Confrontado, em certa ocasião, por um jovem, como você, a lhe dar algumas indicações sobre como caminhar com segurança pelos meandros da literatura, o consagrado romancista baiano escreveu: “Em primeiro lugar desaconselharia o jovem candidato a escritor a continuar; sugeriria que desistisse enquanto é tempo. Mas se isso for mesmo impossível, eu diria:  então está bem, persista, vá em frente, leia muito, todas essas coisas que são lugares-comuns. E principalmente, seja humilde, mas combine essa humildade com certa obstinação. O resto, não é com você, amigo. É um mistério”. E é mesmo.

Uns fazem tudo de errado, passam a vida escrevendo, e fracassando, e subitamente... Zás! Acertam na mosca! Produzem uma obra que cai no gosto do público e, dessa forma, conquistam não só o sucesso, como a glória.

Outros, por seu turno, seguem todos os “cânones” conhecidos, lêem muito, pesquisam além da conta, são observadores, apuram seus textos, treinam, treinam, treinam; persistem, persistem e persistem.... e nada! Não conseguem conquistar o leitor e, sem este, em literatura, nada feito. É, pois, como Ubaldo destaca: “um mistério”.

Há claro algumas coisinhas básicas, que ajudam muito (e se não ajudarem, também não atrapalham), mas estas, com certeza, você já está careca de conhecer. Não serei, pois redundante e não cometerei a indelicadeza de tratá-lo como completo ignorante no assunto, reproduzindo-as aqui.

Só posso recomendar-lhe que comece pelo princípio. Ou seja, tente cativar leitores. Para isso, todavia, você não pode ter medo de se expor. Mostre seus textos para todos os que se disponham a lê-los, parentes, amigos, namoradas, amantes, o diabo a quatro. Faça um blog, escreva para jornais, divulgue sua produção fartamente. Claro, antes de tudo, terá que produzir muito, e bem, e cada vez melhor. Se não mostrar aos outros o que você escreve, como eles irão julgar se é bom ou ruim? Por telepatia? Creia, isso não existe.

Faça o seguinte: comece por se juntar a nós. Em vez de ser meramente leitor eventual do Literário, como você mesmo confessa que é, torne-se nosso “seguidor”. Já é um começo.

A seguir, envie-me seus textos. Não tenha receio, não dói. Ninguém irá espancá-lo por isso. E prometo publicá-los. Ninguém que já nos procurou ficou na mão. Tenha coragem. Exponha-se. E não fique melindrado (como eu fico) quando (ou se) ninguém comentar o que escreveu. Ou se o comentário lhe for desfavorável. Isso acontece com uma regularidade contundente.

É o máximo que lhe posso recomendar. O mais, com certeza, direi, mesmo que de passagem, nos próximos textos que escrever sobre o assunto. Ou não, pois não posso garantir o que vai me ocorrer nem mesmo no próximo minuto, quanto mais nos próximos dias, semanas, meses e anos.


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk 

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