Geração
em débito
Pedro J. Bondaczuk
A presente geração de escritores
deve, ainda, a produção de uma obra literária marcante, consistente,
instigante, dessas que, finda a leitura, nos levem a exclamar, entusiasmados e
convictos: “merece o Prêmio Nobel de Literatura!!” (ou o Pulitzer, o Goncourt,
o Cervantes ou outra qualquer premiação relevante).
É possível, até, que essa
obra-prima já tenha sido escrita – na Austrália, Nova Zelândia, China,
Azerbaijão, Rússia, Suécia etc. ou até mesmo aqui no Brasil – e falte, apenas,
ser traduzida para várias línguas e amplamente difundida. Meios de difusão,
atualmente, é que não faltam. Claro que há essa possibilidade.
Pode ser que sequer essa obra
fenomenal tenha sido publicada ainda. É possível (não sei se provável) que os
editores estejam “comendo mosca” e não a tenham identificado ou valorizado
devidamente. Isso, não raro, acontece. O fato é que ainda não se vislumbra no
horizonte a existência de algum livro excepcional, com essas características.
Não há indicações, por exemplo,
de que haja sido escrito algum ensaio que sequer se aproxime da magnitude de um
“Walden, ou a vida nos bosques”, de Henry David Thoreau. Ou reflexões como as
de Ralph Waldo Emerson, ou de Will Durant, ou de René Descartes ou de tantos outros
filósofos, sociólogos, psicólogos ou quejandos. Ou romances como “Crime e
Castigo”, de Fedor Dostoievski, “Os miseráveis”, de Victor Hugo, “Guerra e
paz”, de Leon Tolstoi, “Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”, do
nosso Machado de Assis e vai por aí afora.
Não há poeta algum que se
aproxime, sequer remotamente, de Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Walt Whitman,
Rainer Marie-Rilke, Bertolt Brecht, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de
Andrade, Manuel Bandeira, Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Jorge Luís
Borges, Octávio Paz e tantos e tantos outros grandes astros do verso.
Convenhamos, esta geração de escritores está em débito com a Literatura e com
os leitores.
Em nenhuma outra época da
história houve tamanha facilidade de acesso à informação e ao esclarecimento.
Jamais houve uma profusão tão grande recursos para se escrever e difundir
textos. O computador, por exemplo, favorece uma escrita cômoda, rápida e,
sobretudo, limpa, sem a necessidade de mil rasuras e nem de desperdício de
papel.
A internet possibilita a leitura
de qualquer clássico, bastando conhecer o link da biblioteca que tem o livro
pretendido, devidamente digitalizado. Além disso, temos a televisão a cabo,
trazendo à nossa casa todo o tipo de programas, filmes e documentários, com uma
infinidade de informações (úteis e inúteis, não importa), suscitando toda a
sorte de reflexões.
Ainda muito recentemente, no
início da década de 50 do século XX (mais especificamente, no seu primeiro ano)
contávamos com um único, solitário e pioneiro canal de televisão, a Tupi (que
há muito sequer existe mais). Hoje, com o advento das antenas parabólicas,
temos 600 ou mais à nossa disposição.
Emissoras como a National
Geographic, The History, Discovery Science, Discovery Travel, Discovery Civilizatuion
e tantas e tantas outras, trazem à baila tudo de tudo. Será que ninguém se
inspira nessa variedade de temas para aprofundar o que já se conhece e se fez e
escrever algo, de tamanha qualidade, envergadura e relevância, que supere em
criatividade tudo o que já se fez? Definitivamente, esta geração de escritores
está em débito.
Vocês imaginaram se um Balzac, um
Hugo, um Baudelaire, um Valéry e tantos outros gênios literários, tivessem
acesso aos recursos de que dispomos? O que não poderiam haver produzido?! Não
que eles não tenham legado à humanidade obras que podem ser consideradas
eternas. Muito pelo contrário!
Dispondo de escassíssimos meios
de informação e de produção, esses escritores geniais nos presentearam com as
preciosidades que hoje nos encantam, nos ilustram e nos causam pasmo e
admiração. Caso contassem com as facilidades que contamos, desconfio que
produziriam maravilhas ainda mais miraculosas e fantásticas.
Por melhores que possam ser os
argumentos em defesa da atual geração de escritores, queiram ou não, discordem
ou concordem, ela está em débito com o seu tempo. Deve uma obra consistente,
original e maiúscula.
Quem sabe você, que neste momento
torce o nariz a estas observações, considerando-as inoportunas, impertinentes,
sacrílegas, tolas e até chulas, não será o sujeito que fará esse resgate e
construirá essa obra consistente, genial e a salvo de quaisquer reparos?! Quem
sabe... Em vez de perder tempo com críticas e rabugices, que tal arregaçar as
mangas, deixar de lado a obsessão da atual geração pelo lazer e a alienação e
começar a produzir? Que tal? Você pode!!!
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