Aberta a temporada de seqüestros de aviões
Pedro J.
Bondaczuk
Os seqüestros de aviões, como o ocorrido na sexta-feira da
semana passada com o Boeing 727 da empresa norte-americana TWA, no espaço aéreo
da Grécia, que fazia o vôo 847 entre Atenas e Roma, são fenômenos corriqueiros
nesta época do ano. E isto uma explicação bastante simples e lógica.
Este período marca o final da
Primavera e início do Verão no Hemisfério Norte, ocasião em que a enorme
indústria do turismo se reativa. E cidadãos norte-americanos e europeus se
dispõem a gastar, a partir de junho, os dólares acumulados muitas vezes durante
todo o ano. Se o leitor observar bem, verá que tivemos fatos semelhantes em
1984, 1983, etc. E as ocorrências se dão sempre ao sabor das grandes questões políticas
de ocasião.
No ano passado, por exemplo, o
caso mais quente das manchetes em fins de junho e princípios de julho era a
invasão do Exército indiano ao Templo Dourado dos sikhs, na cidade de Amritsar,
Estado do Punjab. Para vingar tal incursão, os membros dessa seita
seqüestraram, no dia 14 de julho, um Airbus A-300 da Indian Airlines, com 264
pessoas a bordo, desviando-o para o Paquistão.
Após tensas negociações (como
sempre acontece, compreesivelmente, em tais casos), tudo terminaria bem no dia
seguinte. Como a maioria dos seqüestros. A questão libanesa, também, forneceu
fartas desculpas para a prática desses atos de pirataria internacional, assim
como a guerra do Golfo Pérsico.
No dia 21 de julho, por exemplo,
os 140 passageiros de um jato da Midle East Airlines passaram pelo dissabor de
serem reféns, apenas porque um libanês cismou que, com seu gesto terrorista,
poderia forçar Israel a sair do Sul do Líbano.
No dia 1º de agosto era a vez dos
iranianos darem o seu showzinho, ocupado, à força, um Boeing 737, no trajeto
Frankfurt-Paris, aparelho este pertencente à Air France. A empresa francesa
teria menos sorte do que outras, que tiveram seus aparelhos seqüestrados. A
caríssima aeronave voaria pelos ares, mas mediante uma explosão, no aeroporto
de Teerã, dois dias depois.
No dia 8 de agosto, peregrinos
muçulmanos, que iam para Meca, teriam o dissabor de ver a cidade santa errada,
indo parar, repentinamente, em Roma, quando um adversário do aiatolá Khomeini
resolveu escapulir do Irã.
Os norte-americanos, a exemplo do
que vem ocorrendo no presente caso (do Boeing da TWA) não escapariam a esse
gostinho de aventura para contarem depois aos seus netos. Passariam pela
experiência de serem reféns, no dia 8 de dezembro, no interior de um Airbus
A-300 do Kuwait, que tinha o destino do Paquistão, mas que acabou, por obra e
graça da “Jihad Islâmica”, indo parar no perigoso Aeroporto de Mehrabad, em
Teerã.
Dois cidadãos norte-americanos
seriam assassinados na oportunidade e vários outros, teriam a infelicidade de
ser barbaramente espancados. Observe o leitor que em nenhum desses seqüestros o
aeroporto de Atenas esteve envolvido.
Por isso, não se compreende o
motivo do presidente Ronald Reagan estar aconselhando os cidadãos do seu país a
evitarem a descida na capital grega, exatamente no período melhor do ano para o
turismo. Que aa Casa Branca esteja irritada com o povo desse país, por este ter
outorgado, nas urnas, uma vitória expressiva aos socialistas, nas recentes
eleições parlamentares, ainda se compreende. Mas afirmar que o aeroporto de
Atenas é uma grande zona de risco para seqüestros, chega a soar como pilhéria.
Qual não é, no período de
temporada de caça? O de Frankfurt, o de Paris, o de Roma, o do Kuwait? Os fatos
desmentem isso. O apelo de Reagan só pode ser entendido como um recado ao
gabinete de Andréas Papandreou, para que pare de exigir a retirada das bases
norte-americanas da Grécia. Só que, dado o equívoco da estratégia, e sua
inoportunidade, o tiro pode acabar saindo pela culatra.
(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 21
de junho de 1985).
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