Corporativismo
e reputação
Pedro J. Bondaczuk
O espírito corporativista que se manifesta no
Congresso em relação à Comissão Parlamentar de Inquérito, com membros da CPI
buscando proteger parentes, amigos e correligionários, é uma atitude, além de
imoral, impatriótica e insensata. Apenas contribui para maior descrédito do
Poder Legislativo, o que é uma injustiça em relação aos homens públicos probos,
honestos e dispostos a exercer seu mandato com dignidade, que, felizmente, são
a maioria, embora o cidadão duvide disso.
Uma maçã podre, num cesto de frutas sadias, ameaça
as demais. A esse propósito o filósofo Leandro Konder, num artigo intitulado
“Honestidades”, publicado no jornal “O Globo” de 31 de outubro de 1993,
apresentou uma tese válida, que é a seguinte: “Na ação coletiva, a ética
interfere mais profundamente na política e afeta a credibilidade (a eficácia)
das instituições. Uma corporação que expulsa um de seus integrantes que
fraquejou sofre as conseqüências do descrédito ocasionado pela desonestidade
individual da pessoa punida, mas sempre pode recuperar seu prestígio junto à
opinião pública, porque o povo compreende o que há de ‘casual’, de ‘acidental’,
nesse tipo de ocorrência”.
Todavia, a ausência de expurgo dos corruptos, dos
que traficam influências em benefício próprio e de terceiros, dos que não
mantêm o decoro parlamentar em seu sentido mais amplo, tanto em sua atuação na
Câmara e no Senado, quanto na promoção e participação das famosas “festinhas de
embalo” de que Brasília está cheia, equivale a um consentimento implícito a
tais atitudes. Afinal, como reza o surradíssimo clichê, “quem cala, consente”.
Daí a necessidade urgente de expulsão daqueles que
representaram mal os que lhes conferiram procuração nas urnas para atuar em seu
nome. Konder, no referido artigo, levanta outra questão, de imensa relevância:
“Como os educadores convencerão as crianças de que devem ser honestas se elas
tiverem à sua frente, como modelos, cidadãos bem-sucedidos, parlamentares
corruptos que venham a ser protegidos por seus partidos?”.
O bom nome é o principal capital do homem público.
Uma vez manchada a reputação, não haverá solvente que a possa limpar.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 12 de dezembro de 1993)
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