Tuesday, July 19, 2016

Corporativismo e reputação


Pedro J. Bondaczuk


O espírito corporativista que se manifesta no Congresso em relação à Comissão Parlamentar de Inquérito, com membros da CPI buscando proteger parentes, amigos e correligionários, é uma atitude, além de imoral, impatriótica e insensata. Apenas contribui para maior descrédito do Poder Legislativo, o que é uma injustiça em relação aos homens públicos probos, honestos e dispostos a exercer seu mandato com dignidade, que, felizmente, são a maioria, embora o cidadão duvide disso.

Uma maçã podre, num cesto de frutas sadias, ameaça as demais. A esse propósito o filósofo Leandro Konder, num artigo intitulado “Honestidades”, publicado no jornal “O Globo” de 31 de outubro de 1993, apresentou uma tese válida, que é a seguinte: “Na ação coletiva, a ética interfere mais profundamente na política e afeta a credibilidade (a eficácia) das instituições. Uma corporação que expulsa um de seus integrantes que fraquejou sofre as conseqüências do descrédito ocasionado pela desonestidade individual da pessoa punida, mas sempre pode recuperar seu prestígio junto à opinião pública, porque o povo compreende o que há de ‘casual’, de ‘acidental’, nesse tipo de ocorrência”.

Todavia, a ausência de expurgo dos corruptos, dos que traficam influências em benefício próprio e de terceiros, dos que não mantêm o decoro parlamentar em seu sentido mais amplo, tanto em sua atuação na Câmara e no Senado, quanto na promoção e participação das famosas “festinhas de embalo” de que Brasília está cheia, equivale a um consentimento implícito a tais atitudes. Afinal, como reza o surradíssimo clichê, “quem cala, consente”.

Daí a necessidade urgente de expulsão daqueles que representaram mal os que lhes conferiram procuração nas urnas para atuar em seu nome. Konder, no referido artigo, levanta outra questão, de imensa relevância: “Como os educadores convencerão as crianças de que devem ser honestas se elas tiverem à sua frente, como modelos, cidadãos bem-sucedidos, parlamentares corruptos que venham a ser protegidos por seus partidos?”.

O bom nome é o principal capital do homem público. Uma vez manchada a reputação, não haverá solvente que a possa limpar.      

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 12 de dezembro de 1993)


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk       

No comments: