Monday, July 11, 2016

Emoções fortes


Pedro J. Bondaczuk


O segundo semestre do ano, que começa nesta sexta-feira, reserva emoções fortes para os brasileiros, embora o primeiro também não fosse dos mais tranqüilos. Além do trauma causado pelo ídolo da Fórmula 1, Ayrton Senna, em maio, a população viveu (e vive) período de incerteza com a expectativa da introdução do Real.

A fase mais aguda do plano de estabilização econômica é aguardada com um misto de desencanto, de temor, mas com uma pontinha de esperança. Na próxima segunda-feira, por outro lado, a participação da seleção brasileira na Copa do Mundo atinge sua fase aguda, com o início das oitavas de final, em que cada partida é decisiva. Uma derrota e outro sonho vai para o espaço.

Findo o burburinho da introdução do Real e acabada a tentativa da conquista do tetra --- que todos esperam e confiam que será coroada de êxito --- novas emoções fortes aguardam os brasileiros. A campanha para as eleições presidenciais, para os governos dos Estados, Assembléias Legislativas e Congresso Nacional vão esquentar e, provavelmente, pegar fogo.

Em agosto, a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão terá início, com possibilidades de alterar os resultados das pesquisas. Economia, futebol e política, três paixões nacionais, que nos últimos tempos têm se constituído em fontes de frustrações e aborrecimentos, terão momentos decisivos.

O ideal é que em todos esses setores o País seja coroado de êxito. Que o Brasil, finalmente, possa ter uma moeda que mereça esse nome e que, a partir daí, surjam investimentos para a geração de empregos e haja uma arrecadação mais volumosa de impostos em valor real, e não apenas nominal, para que possam ser construídas mais estradas, hospitais, escolas e ocorra um resgate social de milhões de pessoas alijadas da cidadania.

No campo esportivo, as possibilidades de que o trauma do tetra finalmente seja superado nunca foram tão concretas quanto agora. E nas urnas, espera-se que o eleitor, finalmente, entenda o significado do seu voto e não o dê para qualquer aventureiro bem apessoado, que fale bonito mas que não aja de acordo com as palavras.

Todavia, é uma atitude de prudência ir pensando em alternativas no caso do País fracassar em uma, duas ou nas três empreitadas, para que a euforia de hoje não torne a descambar para o derrotismo paralisante, que impeça que os brasileiros recomecem, até que venham a acertar.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de junho de 1994).


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