Saturday, July 09, 2016

Literatura a quatro mãos

Pedro J. Bondaczuk

A Literatura é “sempre” uma atividade solitária e, sobretudo, individual. Certo? Errado! Erradíssimo! Nem sempre ocorre isso. Há inúmeros casos de livros escritos a quatro mãos e, às vezes, até a seis, como é o caso de “A volta”, escrito pelo trio Andréia Leininger, Bruce Leininger e Ken Gross.

“E essa parceria funciona?”, pergunta um leitor, com o qual levantei a questão, em uma de nossas periódicas trocas de e-mails, muito antes de cogitar de trazer o tema a baila. A resposta é: provavelmente “sim”. Caso contrário, é óbvio, não haveria tantas publicações de obras que contam com co-autorias.

Apenas numa relação colhidas a esmo, cito quatro livros escritos dessa forma. São eles: o já citado “A volta”; “Cartas entre amigos”, de Fábio de Melo e Gabriel Chalita; “Maioridade penal”, do jornalista e repórter do canal de televisão a cabo ESPN André Pilhal e do goleiro Rogério Ceni e “Eu, Christiane F.”, de Kal Hermann e Horst Rieck.

O par (ou o trio, ou o quarteto, ou seja lá o que for), em geral divide tarefas. Enquanto um se encarrega das pesquisas, da digitação final e da revisão, o outro fica responsável pelo texto. Há casos, contudo, em que os parceiros dividem, também, a redação, o que fica evidente na leitura, dadas as diferenças de estilos, perfeitamente detectáveis.

Na maior parte das vezes, estas parcerias ocorrem na produção de livros científicos, de educação, psicologia, sociologia etc. É o caso da dupla norte-americana William Masters e Virginia E. Johnson, que escreveu inúmeras obras sobre o comportamento sexual dos casais. Ou do trio Professor José Dornelles, Stephen Spinelli e Andrew Zakarakhis”, autores de “Empreendedorismo”..

Outro livro com essas características é o imperdível “O elo perdido da Medicina” – cuja leitura recomendo. Foi escrito por uma dupla de ases, cada qual na sua especialidade. Da união de talentos do eminente, competente, experiente e sábio médico, Dr. Eduardo Almeida, e do não menos competente, proficiente e hábil escritor e jornalista Luís Peazê, nasceu esta obra polêmica, instigante e sumamente útil, lançada há uns dez anos pela Imago Editora.  

Mas nem sempre a parceira é feita para a produção de obras científicas. A dupla francesa Émile Erkmann e Alexandre Chatrian, por exemplo, escreveu inúmeros romances de sucesso, entre os quais destaco “Waterloo”, em que mistura fatos históricos reais com ficção.

Há escritores que, para dividir custos e somar forças na hora de divulgar sua obra, se unem para publicar contos, dividindo o volume meio a meio, ou alternando histórias, ou seja, intercalando as de um e as de outro. Já li, também, poesia, e da boa, respeitando esse tipo de parceria.

Presumo, pois, que isso funcione, e muito bem. Só não sei como os parceiros fazem para dividir os direitos autorais. Provavelmente redigem e assinam um contrato prévio ou, simplesmente, ficam apalavrados e honram a palavra empenhada (o que, hoje em dia, infelizmente, não é tão comum assim).

Como se vê, a palavra “sempre”, assim como sua antônima “nunca”, tem que ser utilizada com extrema parcimônia e em ocasiões específicas. Ambas sugerem, em graus opostos, eternidade, característica que, claro, ser humano algum tem.


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