Os injustiçados
Pedro
J. Bondaczuk
Bjornstierne Bjornson,
Frédéric Mistral, José Echegaray Eizaguirre e Giosué Carducci. Você conhece
esses nomes? Não? Pois são ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura do início
do século XX. Enquanto isso, o nosso Machado de Assis sequer foi indicado para
essa honraria. É verdade que sua vasta e instigante obra só agora ficou
conhecida em âmbito internacional. Mas que merecia um reconhecimento pelos seus
méritos literários, creio não restar nenhuma dúvida.
Não cometerei a mesma
injustiça da Academia Sueca, encarregada da premiação e não direi que os (para
mim) ilustres desconhecidos não tenham reunido méritos para a premiação. Até
porque, nunca li nenhum livro deles. Não estou, pois, habilitado a avaliar o
seu talento. Mas o nosso Machadão também reuniu méritos para lá de
excepcionais, e com sobras. Foi, portanto, um dos milhões de injustiçados do
Nobel, que neste ano completa 115 anos de existência. Soube, por notícias
colhidas aqui e ali, que neste 2016 o Brasil tem candidato de peso para a
premiação. Aliás, trata-se de candidata: Lygia Fagundes Telles. Fosse um dos
membros da comissão julgadora do Nobel de Literatura, não teria nenhuma dúvida.
Premiaria, sem pestanejar, nossa competentíssima candidata. Mas...
Outros que mereceriam
ser laureados, e nunca foram lembrados, foram, por exemplo, Fernando Pessoa,
Jorge Luís Borges, John dos Passos, F. Scott Fitzgerald, Morris West e uma
infinidade de escritores, hoje tidos e havidos como autênticos clássicos. É
certo que nomes ilustríssimos foram lembrados e que, na época da sua premiação,
muitos deles foram contestadíssimos. Hoje, essa contestação já não existe mais.
Ninguém pode dizer, por
exemplo, que a premiação dada a Sully Prudhomme (o primeiro escritor a receber
um Nobel de Literatura) tenha sido injusta. Ou que as de Henryk Sienkiewicz
(autor de “Quo Vadis”), Rudyard Kipling, Rabindranath Tagore, Romam Roland,
Knut Hamsun, Anatole France, William Butler Yeats, George Bernard Shaw, Henri
Bérgson, Thomas Mann, Sinclair Lewis, Luigi Pirandelo, Eugene O’Neil, Pearl S.
Buck, Gabriela Mistral, Herman Hesse, André Gide, T. S. Elliot, William
Faulker, Bertrand Russell, François Mauriac, Ernest Hemmingway, Albert Camus,
John Steinbeck, Jean-Paul Sartre, Miguel Angel Astúrias, Pablo Neruda, Octávio
Paz ou Gabriel Garcia Márquez foram imerecidas. Foram lembranças oportunas,
justas, justíssimas.
Injustos foram os
esquecimentos de William Sommerset Maugham, Guimarães Rosa, Mário Vargas Llosa,
Carlos Drummond de Andrade e uma infinidade de gênios literários, que sequer
chegaram perto de uma indicação.
Tratei desse tema “n”
vezes e tratarei quantas vezes mais julgar necessário e oportuno, “provocado”
ou não por leitores, porque não me conformo com as omissões. Para muitos, o
Nobel não tem nenhuma importância. Discordo. É a premiação mais prestigiada e
conhecida e determina sucessos (ou fracassos) editoriais. Claro que nem todos
os que merecem (e são, sem nenhum exagero) não podem, por motivos lógicos, ser
premiados. Mas o que entendo como equívocos de julgamento da comissão
responsável pela atribuição do prêmio são grosseiros demais para não serem
notados.
Outra coisa que causa
estranheza é o baixo número de mulheres premiadas. Entre 114 escritores que já
receberam o Nobel de Literatura, elas foram, apenas, CATORZE! Isso mesmo,
praticamente só dez por cento do total. Foram as seguintes: : Selma Lagerlöf,
Grazia Deledda, Sigrid Undset, Pearl S. Buck, Gabriela Mistral, Nelly Sachs,
Toni Morrison, Nadine Gordimer, Wislawa Szymborska, Elfriede Jelinek, Doris
Lessing, Herta Mueller, Alice Munro e, por último, Svetlana Alexijevich, no ano
passado. Essa omissão fica ainda muito mais clara e evidente se atentarmos para
o fato que 51,5% da população mundial é composta por pessoas do sexo feminino.
Voltando às indagações
do início destas reflexões, você conhece, leitor amigo, o romancista francês
Jean-Marie Gustave Lê Clézio? Não? Eu o conheço apenas de nome. Ele foi o
ganhador do Nobel de Literatura de 2008. Qual dos seus livros está entre os
best-sellers, não digo mundiais, mas do seu país natal, a França? Nenhum! E
ainda assim, foi premiado como o melhor escritor do mundo de 2008! Dá para
entender isso? Qual o critério da Academia Sueca para premiar alguém? Você
conhece? Eu não conheço! Existe algum? Fica a indagação.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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