Futurologia
econômica
Pedro J. Bondaczuk
O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso,
condiciona o sucesso de sua estratégia econômica, para o último ano do governo,
ao ajuste fiscal. Prefere não falar em planos, para não dar conotação de
“trucagem”, das tantas que o País assistiu desde a época de José Sarney, embora
circulem especulações mil, servindo de pretexto para a “indústria da inflação”
fazer sua marola e assaltar o bolso do atormentado e indefeso trabalhador.
A sociedade ainda não se convenceu (porque há os que
agem para que ela não se convença) de que não haverá nenhuma espécie de choque,
até a posse do próximo presidente. Aliás, três coisas caracterizam o primeiro
ano do governo Itamar (que parece estar no poder há 20): a dança de ministros,
os anúncios de planos econômicos e a sua contundente inércia.
Fala-se muito, criam-se comissões de todos os tipos,
chovem entrevistas, mas providências mesmo...Nada! Outra palavrinha maldita,
que não sai do noticiário há pelo menos três anos, é “ajuste fiscal”. O
ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Ariosvaldo Mattos
Filho, por exemplo, trabalhou meses na elaboração de um projeto para a
modernização do sistema tributário nacional. Não deu em nada. Acabou sendo
atropelado pelas sucessivas crises políticas.
No final do ano passado rolou a emenda
constitucional, que objetivava obter o ajuste fiscal. A votação, em dois
turnos, acabou ficando para este ano. A falta de cacife do governo, porém, fez
com que o ousado, embora discutível projeto fosse esvaziado e transformado no
ridículo caça-níqueis do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (o
malfadado IPMF). E os tributos continuaram sendo a bagunça que sempre foram.
Agora, fala-se na reforma, via revisão
constitucional, emperrada por causa da CPI dos “sete anões” do Orçamento. Pelo
andar da carruagem, o assunto vai ficar novamente para as Calendas. Dá, até,
para qualquer um ser futurólogo. Não haverá plano algum, no ano que vem, o
mercado irá especular pelo menos cinco vezes sobre algum pacote e a inflação
prosseguirá deglutindo os salários dos trabalhadores que lograrem se manter no
emprego.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 28 de novembro de 1993)
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