Hábil equilibrista
Pedro J. Bondaczuk
O
"equilibrista" Mikhail Gorbachev, mostrando suas habilidades de andar
na "corda-bamba", logrou obter, ontem, mais uma vitória política.
Conseguiu que o Soviete Supremo aprovasse a criação de uma presidência forte,
nos moldes da norte-americana, para que doravante possa governar de fato o
país, sem precisar pedir "autorização" na tomada das grandes
decisões, aos burocratas do Partido Comunista. De quebra, obteve a regalia de
ser eleito por vias indiretas para um mandato de cinco anos (ao contrário dos
seus sucessores, que terão que enfrentar as urnas), garantindo o tempo e os
instrumentos de que prescindia para implantar o seu projeto reformista.
No
nosso entender, embora sejamos avessos a quaisquer exceções, concordamos que
Gorbachev precisava deste crédito de confiança. Se tivesse que enfrentar
eleições agora, fatalmente seria derrotado. E o "criador" do novo
sistema político, de reordenamento jurídico-institucional e até moral da União
Soviética, acabaria sendo destruído pela sua própria "criação".
Um
projeto reformista como é o seu não pode ser colocado em execução na
sistemática atual de divisão do poder. Até aqui, ele vinha ficando somente com
os ônus do processo mudancista, que não são poucos, entre os quais os mais
sensíveis são a imensa escassez de gêneros de toda a sorte e uma tendência ao
desemprego, diante da exigência legal das empresas doravante se
autofinanciarem.
Os
burocratas dos grandes complexos estatais não podem mais recorrer aos cofres do
Tesouro para encobrir gestões desastradas à frente de empreedimentos ineficazes
e arcaicos. Por isso demitem empregados improdutivos e desmotivados. Até mesmo
a responsável pelo programa espacial soviético, a Glavkosmos, tem a obrigação,
agora, de financiar seus próprios gastos, quando não produzir lucros. Tanto é
que o recente lançamento da Soyuz, levando dois novos cosmonautas para
substituir a equipe anterior na estação espacial "Mir", foi custeado
por uma empresa.
Esta,
por sua vez, terá um retorno financeiro, com a produção, no complexo orbital,
de determinados produtos cuja eficiência é maior, e portanto se tornam mais
valiosos, quando elaborados na ausência de gravidade. Se alguém pensava que
Gorbachev é ingênuo, pode ficar tranqüilo que ele não é. Se fosse, não teria
resistido por tanto tempo às pressões vindas de todos os lados, que seriam
capazes de derrubar qualquer outro político que não tivesse o carisma e a visão
de futuro que este homem intrigante demonstra possuir.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 28 de fevereiro
de 1990)
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