Negociar é preciso
Pedro J. Bondaczuk
O
Congresso deu, esta semana, um "cheque em branco" ao ministro da
Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, ao aprovar, em segundo turno, a emenda
constitucional que cria o Fundo Social de Emergência, tido como fundamento do
plano de estabilização econômica. Aliás, dar não é bem o termo.
Os
parlamentares foram convencidos, pressionados, encostados contra a parede.
Tratou-se de uma longa jornada, de verdadeira saga, com lances dramáticos,
entre a apresentação do projeto e sua aprovação final. O assunto foi e está
sendo fartamente discutido pela sociedade, gerando esperança de sucesso no
combate à inflação em poucos e um profundo ceticismo na maioria.
Ressalte-se,
na tramitação do projeto, a habilidade política de Fernando Henrique. Fosse
outro o ministro da Fazenda, com certeza não conseguiria a aprovação da emenda.
Principalmente se for levado em conta que estamos num ano eleitoral.
Esse
fator tornou os debates mais quentes, as negociações mais necessárias e as
concessões indispensáveis. Se o plano de estabilização vai ou não dar certo, é
coisa para se conferir mais adiante. Mas não se pode negar o talento
parlamentar de Fernando Henrique, que conhece de sobejo como o Congresso
funciona e sabe usar com maestria esse conhecimento. Aliás, desde que assumiu o
cargo é ele quem vem, virtualmente, presidindo o País.
O
ministro tem se mostrado incansável em dar explicações, em apagar
"incêndios" ditados por boatos e distorções de notícias, impedindo
que mais crises ocorram e contribuindo para o fim das que explodem. Sua
responsabilidade, com o programa de ajuste, não se esgota, porém, apenas com
sua aprovação. Estende-se à sua execução, o que vai exigir dele um talento, uma
habilidade e uma capacidade de diálogo dobrados em relação ao que demonstrou
durante a tramitação do projeto de emenda constitucional criando o Fundo Social
de Emergência.
Será
que Fernando Henrique consegue pôr em prática o que na teoria parece
consistente e até 2 de abril, data limite para a desincompatibilização dos que
pretendem concorrer às eleições? O prazo parece extremamente exíguo. Seus
adversários torcem para que não consiga. O País espera que ele acerte. O plano
põe em risco a própria carreira do ministro.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de fevereiro de
1994).
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