Friday, July 08, 2016

Negociar é preciso


Pedro J. Bondaczuk


O Congresso deu, esta semana, um "cheque em branco" ao ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, ao aprovar, em segundo turno, a emenda constitucional que cria o Fundo Social de Emergência, tido como fundamento do plano de estabilização econômica. Aliás, dar não é bem o termo.

Os parlamentares foram convencidos, pressionados, encostados contra a parede. Tratou-se de uma longa jornada, de verdadeira saga, com lances dramáticos, entre a apresentação do projeto e sua aprovação final. O assunto foi e está sendo fartamente discutido pela sociedade, gerando esperança de sucesso no combate à inflação em poucos e um profundo ceticismo na maioria.

Ressalte-se, na tramitação do projeto, a habilidade política de Fernando Henrique. Fosse outro o ministro da Fazenda, com certeza não conseguiria a aprovação da emenda. Principalmente se for levado em conta que estamos num ano eleitoral.

Esse fator tornou os debates mais quentes, as negociações mais necessárias e as concessões indispensáveis. Se o plano de estabilização vai ou não dar certo, é coisa para se conferir mais adiante. Mas não se pode negar o talento parlamentar de Fernando Henrique, que conhece de sobejo como o Congresso funciona e sabe usar com maestria esse conhecimento. Aliás, desde que assumiu o cargo é ele quem vem, virtualmente, presidindo o País.

O ministro tem se mostrado incansável em dar explicações, em apagar "incêndios" ditados por boatos e distorções de notícias, impedindo que mais crises ocorram e contribuindo para o fim das que explodem. Sua responsabilidade, com o programa de ajuste, não se esgota, porém, apenas com sua aprovação. Estende-se à sua execução, o que vai exigir dele um talento, uma habilidade e uma capacidade de diálogo dobrados em relação ao que demonstrou durante a tramitação do projeto de emenda constitucional criando o Fundo Social de Emergência.

Será que Fernando Henrique consegue pôr em prática o que na teoria parece consistente e até 2 de abril, data limite para a desincompatibilização dos que pretendem concorrer às eleições? O prazo parece extremamente exíguo. Seus adversários torcem para que não consiga. O País espera que ele acerte. O plano põe em risco a própria carreira do ministro.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de fevereiro de 1994).


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