Moderno ou eterno?
Pedro
J. Bondaczuk
Carlos Drummond de
Andrade, nos primeiros versos do poema “Eterno”, desabafa:
“E como ficou chato ser moderno
Agora serei eterno”.
Há, principalmente
entre os escritores novos (e alguns aspirantes a escritor) uma obsessão pela
modernidade. Muitos, que nem sabem o que ela, de fato, signifique, findam por
produzir textos caricatos, autênticas “conversas de louco”, eivados de
neologismos desnecessários, de galicismos sempre dispensáveis e de anglicismos
macaqueados do inglês falado nos EUA, a pretexto de serem “modernos” ao
escreverem dessa forma. Evidentemente, não são. Sem que se apercebam,
descambam, na verdade, para o ridículo.
O que escritores (não
importa de que tempo) precisam é criar um estilo próprio de escrever. Após
criado, compete-lhes aperfeiçoá-lo e manterem-se fiéis a ele. A boa literatura
não é nem moderna e muito menos arcaica: é eterna. Sobrevive ao tempo, à
efemeridade e ao esquecimento. Encanta gerações e mais gerações e se perpetua.
A modernidade justifica-se, sim, mas nos meios de difusão do que se escreve. Ou
seja, nos avanços tecnológicos que tornam possível o máximo de alcance das
idéias produzidas que se queiram veicular.
Curiosamente, justo
este tipo de “novidade”, que deveria ser recebido, sempre, com festas e com
entusiasmo, é o que desperta maiores temores em algumas pessoas. A informática,
por exemplo, que veio facilitar a vida de todo o mundo, ainda é encarada com
reservas (quando não, com pavor) por alguns, que temem não se adaptar a ela.
Por isso, utilizam-se de meios hoje arcaicos e nada práticos para produzir e
difundir seus textos.
Mas o que está
ocorrendo, atualmente, em relação à eletrônica, sequer é novo. Nem nisso a
atual geração consegue ser original. É o mesmo que já ocorreu no século XIX,
por exemplo, com o avanço da tipografia, que significou um salto notável na
indústria gráfica, popularizando o livro e ensejando o surgimento da imprensa
diária.
Victor Hugo descreveu
da seguinte forma o que se pensava na época: "Trata-se, antes de mais
nada, de um pensamento de padre. Do assombro do sacerdote diante de um novo
agente, a tipografia. Do espanto e do deslumbramento do homem do santuário
diante da imprensa de Guttenberg. Foi o encontro entre o púlpito e o
manuscrito, a palavra falada e a palavra escrita, alarmando-se com a palavra
impressa; algo comparável ao estupor de um passarinho que visse o anjo legião
abrir suas seis milhões de asas. Foi o grito do profeta que ouve já zurrar e
pulular a humanidade emancipada, que vê no futuro a inteligência minar a fé, a
opinião destronar a crença, o mundo livrar-se de Roma". Evidentemente,
isto não aconteceu.
A tecnologia, seca e
fria, jamais matará a arte e a
criatividade. Se alguém acalenta esses terrores, precisa se conscientizar, e
logo, que eles são insanos e injustificáveis em relação ao o que é novo. Não se
deve, pois, confundir “meio” com “mensagem”. Este, convém que seja sempre o
mais moderno, prático e racional que puder ser. Aquela, contudo, não pode se
submeter a nenhuma limitação, nem temática, nem formal, nem de tempo e nem da
moda, porquanto é desejável que seja eterna.
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