Monday, July 18, 2016

Aproxima-se "a mãe das batalhas"


Pedro J. Bondaczuk


A qualquer momento, certamente sem nenhum aviso prévio, deve começar a fase decisiva da guerra do Golfo Pérsico, aquela que o presidente iraquiano Saddam Hussein vem chamado de "a mãe de todas as batalhas", com resultados previsíveis --- os aliados vão vencer --- mas sem que haja uma previsão quanto à quantidade de mortos que irá deixar.

Outra incógnita é quanto aos estragos que serão produzidos, não especificamente nos bens econômicos do Iraque e do Kuwait, mas no já tão judiado Planeta. É lamentável que as coisas tenham chegado ao ponto que chegaram, por pura incompetência política das partes. Os militares não merecem reprovação, de parte a parte. Afinal, estão realizando o seu "serviço".

Reprovável foi, e continuará sendo (sabe-se até quando) a intransigência dos dois lados. A falta de tato para negociar, a insensibilidade quanto à dor alheia, o próprio desconhecimento da história, que mostra que jamais qualquer guerra foi solução definitiva para as pendências surgidas.

Os presidentes dos Estados Unidos e do Iraque esquecem-se que são transitórios, meros acidentes temporais. Ambos irão passar, mais dia menos dia, encobertos pelas brumas da história. E o que deixarão de lembrança no mundo? Cidades destruídas, epidemias grassando por todas as partes e danos ao ecossistema do Golfo Pérsico, com reflexos no restante do mundo, que podem ser até irreversíveis.

Quantas famílias israelenses e kuwaitianas não irão exorcizar, através de gerações, o nome de Saddam Hussein, responsável por tantas aflições que ele lhes causou! Quantas mães iraquianas, por outro lado, não irão maldizer os nomes de George Bush, John Major, François Mitterrand e outras personagens desta lamentável guerra que lhes suprimiram filhos, maridos, irmãos e amigos, por causa da incapacidade de negociar até o fim!

Não somente pessoas, como até mesmo nações, passam, são transitórias. O cemitério da história está repleto delas. O que permanece são as obras, não no sentido material porquanto estas igualmente se revestem de enorme efemeridade.

Palácios, monumentos e mansões construídos com muita pompa e desperdício em pouco tempo envelhecem e são demolidos para dar lugar a outras edificações. O que fica é o empenho de humanização desse animal que no dizer do escritor italiano Pitigrilli é "o mais ávido dos parasitas. Certos animais vivem à custa de outros animais, certas plantas sugam a linfa de outras plantas; o homem é parasita dos animais, das plantas, dos minerais e dos outros homens".


(Artigo publicado na página 13, A Guerra do Golfo, do Correio Popular, em 20 de fevereiro de 1991).

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