Literatura e vida
Pedro
J. Bondaczuk
Sugiro-lhes, para uma
semana inspiradora, que vocês leiam algum livro de poesia e que deixem a
imaginação voar ao sabor dos versos. É gostoso. É relaxante. É uma forma, suave
e doce, de catarse. Mas meu tema, hoje, não tem nada a ver com poesia. Chamo
sua particular atenção para o conto (pouco conhecido, mas fantástico) de
Monteiro Lobato, intitulado “O colocador de pronomes”. Trata-se de história
bem-humorada e apropriada para quem tem como atividade a redação.
O autor, ao mesmo tempo
em que enfatiza o perigo de se expressar de forma errada, em nosso idioma,
sobretudo por escrito, tece sutil e indireta crítica aos que sacrificam tudo e
todos em nome de uma pretensa “pureza” gramatical.
Moderação é
indispensável em tudo o que se faz na vida. O único exagero (se é que isso seja
possível) permitido, e, sobretudo, desejável, é o de amar. Ame muito, sempre,
com paixão e sem reservas. No mais... Seja comedido, mas feliz.
Há, principalmente
“candidatos a escritores”, que acham que devam sacrificar tudo pela Literatura.
Que em dias de luz e de sol devam ficar encerrados em um quarto escuro, que
mais parece uma masmorra, escrevendo furiosamente. Impõem esse rigor como norma
e abrem mão de vida social, de família, de diversões e de descanso em favor das
letras. Acabam não produzindo nada que preste e se frustram.
Para escrever bem,
todavia, é indispensável, antes de tudo, “viver bem”. Afinal, o que você irá
transmitir aos leitores – que sequer sabe quem, e de que tempo, são – são as
suas impressões sobre a vida, posto que mediante personagens que sua
inventividade criar.
Se não usufruir das
delícias da existência, como irá sequer sugeri-las aos que vierem a ler o que
você escreveu? Seus textos, não importa de que gênero, nessas circunstâncias,
serão sempre amargos, sombrios, tétricos e aterrorizantes.
Claro que, mesmo
vivendo bem, você não irá (e nem pode) se furtar da transmissão da dor, da
infelicidade, da angústia e da violência. Desgraçadamente, esta é a realidade
do mundo e compete-nos transmiti-la com fidelidade e rigor.
Mas para que aquilo que
você escreve seja minimamente verossímil, tem que mostrar, também, o outro lado
da vida. Ou seja, o aspecto benigno, amável, doce e feliz que ela também tem. E
como você fará isso se for apostador convicto e renitente na infelicidade? Não
fará jamais!
Reitero (e creia que
não exagero): que para escrever bem, é preciso, antes de tudo, “viver bem”. É
indispensável conhecer tanto o que é amargo, ácido e desagradável, quanto o
doce, delicioso e desejável. Portanto, viva!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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