Monday, July 11, 2016

Literatura e vida

Pedro J. Bondaczuk

Sugiro-lhes, para uma semana inspiradora, que vocês leiam algum livro de poesia e que deixem a imaginação voar ao sabor dos versos. É gostoso. É relaxante. É uma forma, suave e doce, de catarse. Mas meu tema, hoje, não tem nada a ver com poesia. Chamo sua particular atenção para o conto (pouco conhecido, mas fantástico) de Monteiro Lobato, intitulado “O colocador de pronomes”. Trata-se de história bem-humorada e apropriada para quem tem como atividade a redação.

O autor, ao mesmo tempo em que enfatiza o perigo de se expressar de forma errada, em nosso idioma, sobretudo por escrito, tece sutil e indireta crítica aos que sacrificam tudo e todos em nome de uma pretensa “pureza” gramatical.

Moderação é indispensável em tudo o que se faz na vida. O único exagero (se é que isso seja possível) permitido, e, sobretudo, desejável, é o de amar. Ame muito, sempre, com paixão e sem reservas. No mais... Seja comedido, mas feliz.

Há, principalmente “candidatos a escritores”, que acham que devam sacrificar tudo pela Literatura. Que em dias de luz e de sol devam ficar encerrados em um quarto escuro, que mais parece uma masmorra, escrevendo furiosamente. Impõem esse rigor como norma e abrem mão de vida social, de família, de diversões e de descanso em favor das letras. Acabam não produzindo nada que preste e se frustram.

Para escrever bem, todavia, é indispensável, antes de tudo, “viver bem”. Afinal, o que você irá transmitir aos leitores – que sequer sabe quem, e de que tempo, são – são as suas impressões sobre a vida, posto que mediante personagens que sua inventividade criar.

Se não usufruir das delícias da existência, como irá sequer sugeri-las aos que vierem a ler o que você escreveu? Seus textos, não importa de que gênero, nessas circunstâncias, serão sempre amargos, sombrios, tétricos e aterrorizantes.

Claro que, mesmo vivendo bem, você não irá (e nem pode) se furtar da transmissão da dor, da infelicidade, da angústia e da violência. Desgraçadamente, esta é a realidade do mundo e compete-nos transmiti-la com fidelidade e rigor.

Mas para que aquilo que você escreve seja minimamente verossímil, tem que mostrar, também, o outro lado da vida. Ou seja, o aspecto benigno, amável, doce e feliz que ela também tem. E como você fará isso se for apostador convicto e renitente na infelicidade? Não fará jamais!

Reitero (e creia que não exagero): que para escrever bem, é preciso, antes de tudo, “viver bem”. É indispensável conhecer tanto o que é amargo, ácido e desagradável, quanto o doce, delicioso e desejável. Portanto, viva!


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