Futebol, política e economia
Pedro J. Bondaczuk
O
mês que ora se encerra marca o ponto de partida dos três grandes acontecimentos
do ano no País: a Copa do Mundo dos Estados Unidos, a entrada em vigor do Real
e as eleições, em especial as presidenciais. Tratam-se de três aspectos
importantes na vida do brasileiro, apaixonado por futebol, angustiado com a
economia e desencantado com a política, embora mantendo uma certa esperança de
fazer a escolha mais adequada nas urnas, para que o Brasil inicie aquela virada
que a população tanto espera e rompa o círculo-vicioso do atraso e da injustiça
social, instalando o círculo-virtuoso do desenvolvimento.
Quanto
ao nosso selecionado, ele já está em Los Gatos, levando toda a confiança do
torcedor de que agora o tetracampeonato perseguido nos derradeiros seis
mundiais será conquistado. É possível que o time não seja o ideal, pelo menos
não o preferido da maioria.
Porém,
por tudo o que foi possível observar, e à exceção da Alemanha, nosso
selecionado parece estar muitos furos acima dos demais. A conquista do título
viria em boa, em ótima hora, até para rebater a tristeza e a comoção que todos
sentimos, no início deste mês, com a morte de Ayrton Senna.
Sobre
o Real, o que existe é muita apreensão, misturada com esperança, de que
finalmente esse imposto indireto, que penaliza com dureza as camadas mais
desfavorecidas, que é a inflação, será suprimido ou, na pior das hipóteses,
atenuado e baixado para taxas em torno de 4% a 5% mensais.
Como
acontece todas as vezes em que há dinheiro envolvido na questão, determinados
grupos tentam se aproveitar da situação, elevando seus preços muito além dos
limites da lógica e da prudência. Este comportamento, no entanto, também era
esperado.
O
brasileiro não consegue mais raciocinar, economicamente, sem o fator
inflacionário. Essa disfunção da economia tornou-se uma espécie de segunda
natureza das pessoas. Se o novo plano vai dar certo ou não, é coisa para ser
conferida, digamos, dentro de um ano.
Quanto
à política, homologadas as principais candidaturas à Presidência, o quadro
sucessório começa a ganhar contornos definidos. Neste último dia do mês expira
o prazo para que os pequenos partidos registrem seus candidatos à sucessão do
presidente Itamar Franco. A partir de agora, não tenham dúvidas, vai ser uma
verdadeira guerra.
A
expectativa do eleitorado é que, desta vez, as campanhas primem pela
objetividade. Que não se caracterizem por truques de marketing e ataques
pessoais. Espera-se dos principais postulantes ao Palácio do Planalto
programas, propostas e soluções para os graves problemas nacionais. O eleitor
quer saber o que cada um pensa da educação, da saúde, da segurança pública, da
fome e do caos social que ameaça a estabilidade do País.
A
expectativa é que nesses três setores, futebol, economia e política, o
brasileiro seja agradavelmente surpreendido. Que nos campos norte-americanos,
nossos rapazes não ajam como mercenários e honrem a camisa canarinho, voltando
a encantar o mundo com seu talento. Que o Real devolva racionalidade à
economia, para que nossa vida deixe de ser a sucessão de angústias e de
incertezas em que se tornou. E que, o eleitor, num lance de divina inspiração,
escolha os nomes mais adequados para compor os Executivos e os vários postos
legislativos do País. Sonhar com o melhor, afinal de contas, não é pecado.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 28 de maio de 1994).
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