Sunday, July 03, 2016

Futebol, política e economia


Pedro J. Bondaczuk


O mês que ora se encerra marca o ponto de partida dos três grandes acontecimentos do ano no País: a Copa do Mundo dos Estados Unidos, a entrada em vigor do Real e as eleições, em especial as presidenciais. Tratam-se de três aspectos importantes na vida do brasileiro, apaixonado por futebol, angustiado com a economia e desencantado com a política, embora mantendo uma certa esperança de fazer a escolha mais adequada nas urnas, para que o Brasil inicie aquela virada que a população tanto espera e rompa o círculo-vicioso do atraso e da injustiça social, instalando o círculo-virtuoso do desenvolvimento.

Quanto ao nosso selecionado, ele já está em Los Gatos, levando toda a confiança do torcedor de que agora o tetracampeonato perseguido nos derradeiros seis mundiais será conquistado. É possível que o time não seja o ideal, pelo menos não o preferido da maioria.

Porém, por tudo o que foi possível observar, e à exceção da Alemanha, nosso selecionado parece estar muitos furos acima dos demais. A conquista do título viria em boa, em ótima hora, até para rebater a tristeza e a comoção que todos sentimos, no início deste mês, com a morte de Ayrton Senna.

Sobre o Real, o que existe é muita apreensão, misturada com esperança, de que finalmente esse imposto indireto, que penaliza com dureza as camadas mais desfavorecidas, que é a inflação, será suprimido ou, na pior das hipóteses, atenuado e baixado para taxas em torno de 4% a 5% mensais.

Como acontece todas as vezes em que há dinheiro envolvido na questão, determinados grupos tentam se aproveitar da situação, elevando seus preços muito além dos limites da lógica e da prudência. Este comportamento, no entanto, também era esperado.

O brasileiro não consegue mais raciocinar, economicamente, sem o fator inflacionário. Essa disfunção da economia tornou-se uma espécie de segunda natureza das pessoas. Se o novo plano vai dar certo ou não, é coisa para ser conferida, digamos, dentro de um ano.

Quanto à política, homologadas as principais candidaturas à Presidência, o quadro sucessório começa a ganhar contornos definidos. Neste último dia do mês expira o prazo para que os pequenos partidos registrem seus candidatos à sucessão do presidente Itamar Franco. A partir de agora, não tenham dúvidas, vai ser uma verdadeira guerra.

A expectativa do eleitorado é que, desta vez, as campanhas primem pela objetividade. Que não se caracterizem por truques de marketing e ataques pessoais. Espera-se dos principais postulantes ao Palácio do Planalto programas, propostas e soluções para os graves problemas nacionais. O eleitor quer saber o que cada um pensa da educação, da saúde, da segurança pública, da fome e do caos social que ameaça a estabilidade do País.

A expectativa é que nesses três setores, futebol, economia e política, o brasileiro seja agradavelmente surpreendido. Que nos campos norte-americanos, nossos rapazes não ajam como mercenários e honrem a camisa canarinho, voltando a encantar o mundo com seu talento. Que o Real devolva racionalidade à economia, para que nossa vida deixe de ser a sucessão de angústias e de incertezas em que se tornou. E que, o eleitor, num lance de divina inspiração, escolha os nomes mais adequados para compor os Executivos e os vários postos legislativos do País. Sonhar com o melhor, afinal de contas, não é pecado.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, da Folha do Taquaral, em 28 de maio de 1994).


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