Ouro
que não reluz
Pedro J. Bondaczuk
A atividade de garimpo no Brasil, da maneira como
está dimensionada, só traz problemas para o País, sem apresentar qualquer
vantagem à população. A produção de ouro dos 1.800 locais de garimpagem
espalhados, por exemplo, pela Amazônia legal e outras regiões, não está sob o
controle do governo. E dificilmente poderia estar, dada a extensão da área
explorada e as dificuldades naturais existentes numa selva.
O Departamento Nacional de Produção Mineral estima
que entre janeiro e julho deste ano, foram produzidas 153,2 toneladas do metal.
Todavia, se 10% dessa quantidade entraram no cômputo oficial, foram muito. A
maior parte dessa riqueza acaba sendo surrupiada dos brasileiros através do
contrabando. Fica claro, portanto, que o País não lucra nada com o garimpo.
Por outro lado, os garimpeiros, sujeitos a toda a
sorte de privações, arriscados a contrair malária e outras tantas doenças
tropicais, ao confronto com os índios e a todos os perigos imagináveis,
naturais a uma selva, além da intoxicação quase sempre mortal pelo mercúrio,
também não auferem vantagens. Vivem o sonho da fortuna fácil, que em pouco
tempo acaba se transformando em pesadelo e até em morte para muitos e muitos
deles.
Quem lucra, então, com o garimpo? São os donos do
equipamento, em geral de São Paulo e do Rio de Janeiro, que apenas se deslocam
para a selva para contabilizar os seus ganhos. Enquanto isso, tribos outrora
orgulhosas e saudáveis, entram num processo de rápida deterioração, correndo
riscos iminentes de extinção, como é o caso específico dos ianomâmis.
Porções consideráveis da floresta são postas abaixo,
de forma desordenada e caótica, contribuindo para o fim de uma das maiores
reservas do Planeta. Rios repletos de peixes são contaminados pelo mercúrio, às
vezes de forma até irreversível, ameaçando, sabe-se lá, quantos.
E tudo isso para quê? Para que um punhado de maus
brasileiros, indiferente ao destino de seus semelhantes e de seu país, lucrem,
tirando miraculosos tesouros do patrimônio comum de toda a população. Ainda se
o ouro extraído fosse parar no Banco Central, para aumentar as reservas
nacionais do metal, com tudo o que a atividade tem de perniciosa, ainda seria
tolerável. Mas sabe-se lá quais negócios essa fortuna, que custa a desgraça de
tanta gente, acaba por financiar!
Suspeita-se, inclusive, que o precioso metal desses
garimpos acaba indo parar nas mãos de narcotraficantes, para ajudar a
consolidar o império do mal que eles querem implantar no extremo Norte do nosso
continente. É preciso, pois, mobilizar esforços para pôr fim a essa rapina, que
não interessa, evidentemente, à grande maioria da população.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 12 de agosto de 1990)
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