Bush quer conferir reformas
Pedro J. Bondaczuk
As reformas que empolgam
boa parte do Leste europeu e, mais do que elas, a velocidade com que os
acontecimentos estão se verificando, têm deixado perplexos e aturdidos não
somente os analistas políticos do Ocidente, mas, e principalmente, seus
principais líderes.
A
maioria ainda permanece relutante, sem saber se ajuda ou não (financeiramente)
a “perestroika” soviética e os projetos reformistas da Hungria e da Polônia.
Tais dirigentes temem estar fortalecendo um “monstro” combalido, que assim que
se sentir mais robusto, pode vir a ser uma ameaça muito maior do que foi no
pós-guerra.
Há
setores, no entanto, que acham que esta autêntica revolução sem armas na
“galáxia vermelha” deve ser rigorosamente apoiada. São os que acreditam na
sinceridade de propósitos de Mikhail Gorbachev e que o têm como o grande
estadista mundial deste quarto final de milênio.
É
para conferir isto, aliás (ou para tentar tal proeza) que o presidente
norte-americano, George Bush, se dispôs a realizar uma insólita reunião de
cúpula, a bordo de dois cruzadores, ao largo da costa da Ilha de Malta, no Mar
Mediterrâneo. Esta é a primeira vez na história da Marinha dos Estados Unidos
que um encontro dessa natureza vai ocorrer num navio de guerra.
Os
supersticiosos vêem augúrios nesse fato. Os otimistas, logicamente, enxergam os
bons presságios. Acreditam que um diálogo mantido em tais circunstâncias
demonstra o grau de confiança que uma superpotência deposita na outra, após
quatro décadas de hostilidades, que quase as levaram a uma conflagração total.
Já
os pessimistas entendem que a reunião efetuada numa belonave pode ter
conotações proféticas. Ou seja, que a única forma dos dois gigantes mundiais
resolverem suas diferenças é terçando armas.
De
qualquer forma, a motivação que levou Bush a solicitar tal conversação foi a
mesma que tem deixado tanta gente perplexa com o que está ocorrendo na Europa
Oriental. Ou seja, a de descobrir algum indício, por menor que seja, acerca da
sinceridade ou não de Gorbachev em liberar os seus satélites (ou ex?) para que
sigam os seus próprios caminhos. Para que decidam seus destinos como melhor
lhes aprouver.
Fica
difícil, portanto, para o analista, pelo retrospecto anterior da própria União
Soviética (Nikita Kruschev, na metade da década de 50, também foi tido como
reformista) prever se as mudanças são agora para valer ou se não passam de bem
urdida manobra propagandística. Se são uma “cirurgia plástica” em profundidade
ou se configuram-se em mera “maquilagem”. Oxalá os otimistas tenham razão...
(Artigo
publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 2 de novembro de
1989).
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