Tuesday, July 12, 2016

Bush quer conferir reformas


Pedro J. Bondaczuk


As reformas que empolgam boa parte do Leste europeu e, mais do que elas, a velocidade com que os acontecimentos estão se verificando, têm deixado perplexos e aturdidos não somente os analistas políticos do Ocidente, mas, e principalmente, seus principais líderes.

A maioria ainda permanece relutante, sem saber se ajuda ou não (financeiramente) a “perestroika” soviética e os projetos reformistas da Hungria e da Polônia. Tais dirigentes temem estar fortalecendo um “monstro” combalido, que assim que se sentir mais robusto, pode vir a ser uma ameaça muito maior do que foi no pós-guerra.

Há setores, no entanto, que acham que esta autêntica revolução sem armas na “galáxia vermelha” deve ser rigorosamente apoiada. São os que acreditam na sinceridade de propósitos de Mikhail Gorbachev e que o têm como o grande estadista mundial deste quarto final de milênio.

É para conferir isto, aliás (ou para tentar tal proeza) que o presidente norte-americano, George Bush, se dispôs a realizar uma insólita reunião de cúpula, a bordo de dois cruzadores, ao largo da costa da Ilha de Malta, no Mar Mediterrâneo. Esta é a primeira vez na história da Marinha dos Estados Unidos que um encontro dessa natureza vai ocorrer num navio de guerra.

Os supersticiosos vêem augúrios nesse fato. Os otimistas, logicamente, enxergam os bons presságios. Acreditam que um diálogo mantido em tais circunstâncias demonstra o grau de confiança que uma superpotência deposita na outra, após quatro décadas de hostilidades, que quase as levaram a uma conflagração total.

Já os pessimistas entendem que a reunião efetuada numa belonave pode ter conotações proféticas. Ou seja, que a única forma dos dois gigantes mundiais resolverem suas diferenças é terçando armas.

De qualquer forma, a motivação que levou Bush a solicitar tal conversação foi a mesma que tem deixado tanta gente perplexa com o que está ocorrendo na Europa Oriental. Ou seja, a de descobrir algum indício, por menor que seja, acerca da sinceridade ou não de Gorbachev em liberar os seus satélites (ou ex?) para que sigam os seus próprios caminhos. Para que decidam seus destinos como melhor lhes aprouver.

Fica difícil, portanto, para o analista, pelo retrospecto anterior da própria União Soviética (Nikita Kruschev, na metade da década de 50, também foi tido como reformista) prever se as mudanças são agora para valer ou se não passam de bem urdida manobra propagandística. Se são uma “cirurgia plástica” em profundidade ou se configuram-se em mera “maquilagem”. Oxalá os otimistas tenham razão...

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 2 de novembro de 1989).


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