Gosto
do leitor
Pedro J. Bomdaczuk
É possível a um escritor detectar
o gosto da maioria dos leitores? E, vou mais longe em minha indagação: caso a
resposta seja afirmativa, é válido que ele se deixe pautar por essa
preferência, de olho, apenas, nas possíveis vendas da sua produção?
Quanto à primeira pergunta,
entendo que podemos ter uma idéia aproximada do que o leitor gosta de ler.
Contudo, certeza, certeza mesmo, não acredito que possamos ter. Sequer sabemos
quantos e quem são esses leitores. Não há estatísticas confiáveis a respeito. E
o único recurso que nos resta é o utilizadíssimo, mas sempre furado
“chutômetro”.
Mesmo que soubéssemos das
preferências desse personagem central e decisivo da nossa atividade (o que não
sabemos), entendo que estas não deveriam, nunca, nos servir de parâmetro, e
muito menos de pauta, para não nivelarmos o mundo das letras e da cultura por baixo.
O livro não é, e nem pode ser tratado, como mera mercadoria, dessas vendidas em
supermercados, ou em balcões de armazéns de secos e molhados, embora inúmeras
editoras estejam agindo assim, de olho exclusivamente no faturamento.
Há aquelas cujo departamento de
marketing é ativíssimo e cujas obras literárias selecionadas para publicação
recebem, antes, o crivo e o aval desse setor, além do mesmíssimo tratamento que
receberiam uma geladeira, um fogão ou um microondas qualquer. Claro que não
podemos remar a vida toda contra a maré. Não podemos deixar todo o espaço
editorial disponível à mercê, apenas, dos que fazem da literatura (ou pelo
menos tratam-na assim) como mero ramo de comércio.
Quando recomendo ao escritor que
se mobilize e divulgue, o quanto puder, suas idéias, portanto, não estou
pensando em cifrões, em recordes de venda ou em outras coisas do gênero, para
mim triviais e secundárias. Não raro, não são nem isso. Até porque, como bem
lembrou o escritor Daniel Santos em comentário a um dos meus tantos textos,
nosso papel não é o de mascates a venderem produtos banais de porta em porta. Somos a mente
e a alma de um povo. Somos os legítimos guardiões do idioma e das artes.
A divulgação se faz necessária,
mas para pelo menos tentarmos “moldar” o gosto dos leitores, que sequer sabemos
quem são, onde vivem e quantos são. Trata-se de um empenho para nivelar a
cultura, sim, mas por cima. É impossível? Não sei! Mesmo que seja, somos Dons
Quixotes contemporâneos por excelência e não nos cansamos de lutar contra
moinhos da burrice e do mau-gosto.
Leio, todas as semanas, e
pesquiso cuidadosamente, a relação dos livros mais vendidos no País. Dá para
extrair, por ela, a média do gosto do leitor? Entendo que, de uma parcela (da
que tem poder aquisitivo para comprar), sim. E, embora não me sinta habilitado
a arbitrar o gosto de ninguém, o que detecto me decepciona e preocupa.
Com todo respeito aos
campeoníssimos de vendas, como Dan Brown, Stephenie Meyer, William Young e L.
J. Smith, entre outros, as preferências do público consumidor de livros,
balizadas pela propaganda, são deprimentes e desanimadoras. E a influência do
marketing fica mais clara ainda se atentarmos para o fato de que astros e
estrelas da TV, que se aventurem a publicar suas “reflexões” (mereceriam este
nome?), num piscar de olhos se transformam em best-sellers, em detrimento dos
verdadeiros escritores.
Que proveito estas “abobrinhas”
vão trazer para a vida do cidadão que deixa importâncias consideráveis no caixa
das livrarias? Acredito que nenhum. Fico mais preocupado ainda quando não vejo,
nas relações dos mais vendidos, nenhum livro de poesias, ou de ensaios, ou do
que considero autêntica e genuína literatura.
Reitero que não tenho o direito
(e, mesmo se tivesse, não aceitaria a tarefa) de arbitrar o gosto de ninguém.
Mas, a julgar pelas escassas e precárias formas de aferição disponíveis, que
este não é dos mais refinados (e uso essa expressão apenas para ser educado),
isso não é mesmo. Sei que estas colocações tendem a me tornar “persona non grata”
para muitos editores. Azar deles!
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