Poetas da moda
Pedro
J. Bondaczuk
Você já notou como em
cada época há um poeta que fica na moda? A imprensa fala dele, os namorados
valem-se dos seus versos para expressarem amor, nos círculos estudantis mais
intelectualizados seus poemas são recitados a todo o momento e vai por aí
afora. Parece que cada geração elege os seus.
O chato é que, passado
certo tempo, eles vão sendo esquecidos aos poucos e, quando se percebe, ninguém
mais fala deles. O ideal é que nunca os apreciadores de poesia os esquecessem.
Que seus versos fossem imortalizados e estivessem sempre na mente e nos
corações de todos. Afinal, a vida, sem poesia, torna-se de uma chatice atroz.
Ao longo da minha vida,
já vi muitos poetas entrarem e saírem de moda. Essa é a vantagem de se viver
muitos anos, sem perder, jamais, o interesse pelas artes e coisas do espírito.
Já vi Castro Alves, Olavo Bilac, João Cruz e Sousa, Mário de Andrade, Oswald,
Guilherme de Almeida, Paulo Bonfim, Cecília Meirelles, Augusto Frederico
Schmidt, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Paulo
Setúbal, Mário Quintana, J. G. de Araújo Jorge e tantos outros serem recitados
com naturalidade por adolescentes, recém entrados na adolescência.
Muitos, vira e mexe,
retornam à moda. Outros tantos, jamais voltam a ser lembrados. Quem perde mais
com esse esquecimento, evidentemente, é quem os esquece ou, pior, que sequer
toma conhecimento de quem foram e do que escreveram.
Os casos dos que nunca
saem de evidência são muito comuns (felizmente). Nem é preciso citar, pois
todos os amantes de poesia têm seus nomes (e seus poemas) na ponta da língua:
Bandeira, Drummond, Vinícius, Quintana, Cecília...
Aprendi muito com esses
poetas. Fiz muito sucesso com as meninas (quando adolescente, claro), recitando
seus versos. Conheço de cor pelo menos uma centena de poesias desses meus
ídolos de sempre. Não raro, quando estressado e quero desabafar, saio pela casa
declamando (para desespero e constrangimento da mulher e dos filhos), versos
como:
“Eu, filho do carbono e
amoníaco,
Monstro de escuridão e
rutilância,
Sofro, desde a
epigênesis da infância
A influência má dos
signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco
Este ambiente causa-me
repugnância
E sobe-me à boca uma
ânsia análoga à ânsia
Que se escapa à boca de
um cardíaco.
Já o verme, este
operário das ruínas
Que o sangue podre das
carnificinas
Come e à vida em geral
declara guerra
Anda a espreitar meus
olhos para roê-los
E há de deixar-me
apenas os cabelos
Na frialdade inorgânica
da terra”.
Sabem quem é o autor deste soneto? É Augusto dos
Anjos, médico que foi, também, professor de Português no prestigioso Colégio
Dom Pedro II, do Rio de Janeiro. Foi um dos poetas da moda nos chamados “Anos
Dourados”, de meados dos anos 50 a meados dos anos 60 do século XX. Seus poemas
eram recitados a todo o momento e a preferência recaía nos mais trágicos,
tétricos e pessimistas.
Ganhei muito cartaz com
as meninas recitando seus versos, com pose de rebelde, por causa dos cabelos
compridos (que na época eram o máximo de transgressão que um jovem poderia
cometer) e conquistei, rapidinho, fama de poeta, embora meus poemas de então
fossem pífios e quadrados. Creio que cada um de vocês, queridos leitores, teve
(e espero que ainda tenha) o seu poeta da moda. Que bom seria se eles nunca
fossem esquecidos, geração após geração! Mas...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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