Líder, agora, terá que ouvir reprimenda
Pedro J.
Bondaczuk
O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, após permanecer
por 63 horas em Cuba, quando reverteu uma recepção relativamente fria das
autoridades cubanas, transformando-a numa triunfal despedida, ontem,
desembarcou em Londres, onde foi recebido com as honras normalmente dispensadas
pelos ingleses somente a seus mais estreitos aliados.
Nessa sua nova visita, contudo, o
dirigente vai encontrar uma realidade diferente da anterior. Em Cuba, ele é que
partiu para a ofensiva, embora com toda a diplomacia que já demonstrou possuir,
fazendo críticas sutis, mas objetivas, ao anacronismo econômico cubano e à sua
rigidez ideológica.
Na Grã-Bretanha, todavia, terá
que ouvir certas reprimendas. Ou seja, precisará “engolir” algumas pílulas amargas, em
especial no que se refere aos direitos humanos em seu país. É verdade que neste
aspecto Gorbachev já tem algo de positivo (muito positivo se comparado com o
que acontecia antes, nesse campo, na época dos seus antecessores) para
apresentar.
Não há quem não admita que na
União Soviética de agora há bem mais liberdade do que na de 1985. Mas ainda
existem determinados focos de resistência, que precisam ser eliminados. Há,
ainda, presos políticos no país, que convém que sejam postos em liberdade.
Subsistem alguns campos de trabalhos forçados, que precisam ser fechados. E
Gorbachev deve estar consciente disso.
Por tal razão, não deverá se
assustar muito com as críticas, até porque já manifestou, em várias ocasiões,
estar disposto a acabar com todos os abusos que porventura existam. Essa
posição foi manifestada, por exemplo, recentemente, em Genebra e em Viena. Isso
levou, inclusive, o ex-secretário de Estado dos Estados unidos, George Shultz,
em geral frio e comedido, a, num arroubo de entusiasmo, propor que o próximo
congresso acerca dos Direitos Humanos seja realizado em Moscou.
Todavia, enquanto existir uma
pessoa oprimida por causa de suas idéias; enquanto um único cidadão for
encaminhado a manicômios, como se fosse louco, por divergir das diretrizes do
Partido Comunista; enquanto um só dissidente passar pelo vexame dos
interrogatórios agressivos e da estreita vigilância da KGB, convém que o
presidente soviético seja, de fato, chamado às falas.
É verdade que a visita de
Gorbachev à Grã-Bretanha terá também amenidades. Afinal, jamais, no pós-guerra
(e mesmo antes disso), as relações anglo-soviéticas (talvez desde 1917),
estiveram tão boas. Facilitou isso a amizade pessoal que o dirigente do Cremlin
fez com a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, mesmo antes de chegar
ao poder.
Recorde-se que quando Constantin
Chernenko estava às portas da morte, o homem que viria a ser seu sucessor se
encontrava em Londres. E que “a dama de ferro” prognosticou um grande futuro
para ele. E acertou em cheio em suas previsões.
(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 6
de abril de 1989).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment