Mortalidade infantil
Pedro J.
Bondaczuk
A mortalidade infantil, especialmente no Terceiro Mundo,
está em níveis alarmantes. Enquanto isso, o mundo gasta US$ 1 trilhão por ano
para fabricar armas. A quantidade de óbitos entre as crianças atingiu, conforme
as últimas informações do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, a
extraordinária cifra de 40 mil por dia.
Isso vem a ser a metade dos
mortos norte-americanos durante os 14 anos de duração da guerra do Vietnã. É,
portanto, um massacre digno de Hitler. Só que, ao contrário das vítimas desse
ditador, tal carnificina não ocorre no calor de uma feroz batalha, mas é
perpetrada, cotidianamente, pela miséria. E, o que é pior, pelo descaso dos que
poderiam fazer alguma coisa para evitar essa perda de precioso potencial
humano, mas não o fazem.
Metade das vítimas, todas com
menos de cinco anos de idade, poderia, todavia, ser salva, com programas de
custo bastante baixo e de resultados imediatos. Essas mortes não são causadas
por doenças incuráveis. Ocorrem em virtude da fome, da subnutrição, da falta de
higiene e de suas seqüelas, como a diarréia, o sarampo e outros males até mais
simples de serem curados.
Tão ruim, todavia, quanto essas
cifras (ou, quem sabe, até pior), é a cínica e desavergonhada exploração que se
faz, para diversos fins (e nenhum deles nobres), nos mais variados recantos
mundiais, desses pequeninos.
É verdade que eles são protegidos
por leis nacionais e internacionais. Simpósios, conferências e reuniões são
realizados, periodicamente, defendendo os seus direitos. Até um Ano
Internacional da Criança foi instituído em 1979. Mas, pelo visto, tudo, ou boa
parte, não passou de autopromoção de políticos, sequiosos por notoriedade.
Milhares de crianças são
maculadas, diariamente, de maneira precoce, em sua inocência. Algumas, até, são
usadas como buchas de canhão, por fanáticos irresponsáveis, que envergonham a
própria condição humana. Um número incalculável acostuma-se a formas
disfarçadas de escravidão desde tenra idade, para servir aos poderosos.
Uma espécie que escraviza,
degrada, sevicia e deixa morrer à míngua sua própria descendência, está, mesmo,
muito doente. Deve parar, urgentemente, para pensar e reciclar sua compreensão
do mundo e seus anseios de vida, antes que seu mal se torne absolutamente
incurável.
Desceu, na escala animal, ao mais
baixo grau de racionalidade, ou, talvez, de desencanto para com os semelhantes.
Nenhuma outra besta, por mais bronca e degenerada que seja, age dessa forma.
Milhares de bandidos, frios e
desumanos, e de prostitutas, amargas e infelizes, estão sendo fabricados,
dia-a-dia, sob as vistas indiferentes de quem poderia evitar esse processo
degenerativo. A verdade é que o mundo está jogando fora, pelo esgoto de uma
cobiça crescente e sem sentido, e de uma insensibilidade incompreensível, a sua
derradeira reserva. Seu patrimônio mais valioso e preservável: a infância.
E o que será deste planeta sem as
crianças, que são, ou exterminadas, ou tornadas compulsoriamente adultas, com
os vícios e contradições inerentes a essa condição? Sim, o que será?!!
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 14
de maio de 1985).
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