Necessidade de acordo
Pedro J. Bondaczuk
As
superpotências estão muito próximas de um acordo para a eliminação de mísseis
de médio alcance (e talvez, dependendo do andamento das negociações de Genebra,
também de curta distância), em âmbito global, embora o Cremlin venha se negando
a demonstrar a mesma euforia que a Casa Branca não consegue esconder.
Os
soviéticos, certamente, querem valorizar a próxima reunião de cúpula, que
provavelmente vai acontecer em Washington, na última semana de novembro deste
ano, para colher o máximo de promoção possível para o seu líder, Mikhail
Gorbachev.
Moscou,
com certeza, vai agir como no ano passado, em Reykjavik. Vai
divulgar obstáculos mil para a conferência e é capaz de arranjar até uma crise
semelhante ao affaire Zakharov-Daniloff, como ocorreu em 1986, para despistar a
opinião pública e manter o mundo na expectativa.
Mas
na última hora, seu dirigente máximo irá, comportadamente, aos Estados Unidos e
vai firmar, não tenham dúvidas, o histórico documento. Por que tanta certeza?
Por uma razão muito simples: tanto Reagan, quanto Gorbachev, precisam,
desesperadamente, desse pacto, para acalmar as respectivas oposições internas e
resgatar o prestígio político perdido junto aos aliados.
No
caso do presidente norte-americano, o seu empenho é para apagar a péssima
imagem que o escânedalo “Irã-contras” deixou dele em seu país e no seio da
Organização do Tratado do Atlântico Norte. O líder soviético, por seu turno,
precisa desviar a atenção dos velhos burocratas do Partido Comunista, que vêem
na sua “glasnost” uma verdadeira heresia aos postulados marxistas. E para
recuperar a liderança sobre os satélites do Leste europeu, abalada com o
enfoque que ele vem dando em sua gestão aos problemas de ordem interna, em
detrimento da política exterior.
Para
ambos os dirigentes, um fracasso na obtenção desse acordo desarmamentista será
um desastre. E os dois, ademais, não têm muito tempo. Precisam se entender, no
máximo, até dezembro. Em janeiro, as atenções nos Estados Unidos estarão voltadas
para a campanha sucessória. E Reagan, por não poder se reeleger, será carta
fora do baralho.
O
líder russo, por seu turno, pode enfrentar dificuldades com a implementação das
reformas econômicas que vão reduzir, certamente, salários de muitos trabalhadores
inoperantes e relapsos. O momento, portanto, é aqui e agora, como se costuma
dizer. E os dois dirigentes, como bons políticos que são, não vão querer perder
o bonde da história.
(Artigo
publicado na página 20, Internacional, do Correio Popular, em 30 de agosto de
1987)
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