Tuesday, July 12, 2016

Livro eletrônico

Pedro J. Bondaczuk

Há quem entenda que o livro eletrônico, editado e distribuído apenas na internet (ou seja, o não-impresso), seja boa solução para uma estréia literária, face às dificuldades (que já foram muitíssimo maiores) de se conseguir uma editora que livre o escritor principiante do ineditismo.

Essa pode vir a ser, até, boa saída, mas no futuro (talvez até muito mais próximo do que se acredita). A tendência é que, em mais algumas décadas, desapareçam todos os impressos (jornais, revistas, livros etc.), dada a crescente escassez de papel. A procura é cada vez maior e a oferta nem sempre é suficiente para atender toda a demanda. Ademais, esse produto, de tamanha utilidade nos tempos atuais, traz uma série de inconvenientes na sua produção. O maior, é a tremenda poluição ambiental que produz.

No presente, por maior que seja o seu círculo de amigos, o escritor principiante conseguirá vender um livro eletrônico (se conseguir, claro), quando muito o suficiente para recuperar o investimento (pois esse tipo de edição não é gratuito). É verdade que o valor despendido é relativamente baixo e acessível à maioria dos bolsos. A maior parte das pessoas, porém, ainda não se habituou a ler livros na telinha do computador. Um dia, certamente, haverá de se habituar.

O sonho de todo o escritor principiante, porém, é o de publicar sua obra em papel, em encadernação de luxo e, se possível, em uma grande editora, em que não tenha qualquer despesa com a edição. São muito raros, no entanto, os que conseguem isso, mesmo os que já tenham nome firmado no mercado editorial e gozem de amplo prestígio, não raro com cadeira cativa na Academia Brasileira de Letras que o torne “imortal” (enquanto dure, parodiando Vinícius).

Sugiro que em vez de partir para o livro eletrônico (embora não me oponha a ele), o escritor novato divulgue, isto sim, o máximo que puder, seus textos, quer no jornal da sua cidade, quer no do sindicato, quer na internet etc. Ou seja, que aprenda a “vender” sua imagem e, sobretudo, seu nome. Isso, sem dúvida, facilitará bastante suas futuras negociações com editoras, embora não sejam garantias de sucesso (essas sequer existem).

Se o escritor novato tiver perseverança, um pouquinho de sorte e, sobretudo, muito talento, conseguirá, quem sabe, que lhe abram as portas e talvez consiga se firmar na atividade. Se não tiver nada disso... De pouco (na verdade de nada) adiantará lanças um, dez, cem, mil livros eletrônicos, pois não conseguirá atrair leitores dada a imperfeição do seu texto. E sem estes...

A educação é o único caminho possível para o desenvolvimento econômico, político e social sustentável do País. Esse é um dos poucos pontos em que há consenso nacional, sem que haja nenhuma voz discordante. Não se educa, porém, nenhuma pessoa (ou povo) sem livros. E nesse aspecto, ou seja, no da difusão desse fundamental meio de instrução e de cultura, o Brasil deixa, ainda, muito a desejar.

Recentes estudos revelam que, dos quase seis mil municípios do País, somente pouco mais de cem contam com livrarias. E estas existem só em grandes cidades e em algumas de porte médio. Nas pequenas... nem pensar.

Ademais, o preço dos livros é ainda muito alto para os padrões de renda do brasileiro. Poderiam e deveriam ser mais baratos, para que todos tivessem condições de comprá-los, por se tratar de produto essencial à sobrevivência da civilização.

Além disso, as aulas de literatura, nas escolas, carecem de atratividade. Professores despreparados e desmotivados não sabem, por sua vez, como para motivar os alunos a lerem, mesmo que apenas as obras fundamentais da nossa literatura. Fica, para o estudante, a falsa impressão de que ler é um exercício enfadonho e chato. Não é.

Tudo isso dificulta o exercício de que as pessoas mais necessitam em seu processo educativo: a leitura. A internet, todavia, poderá solucionar – se não no curto, pelo menos no médio prazo – esse problema. De olho nesse filão ainda pouco explorado, mas de potencial quase infinito, as editoras investem, mais e mais, no chamado e-commerce de livros, “criando” uma livraria virtual onde quer que exista um computador.

Além disso, há, hoje, inúmeros sebos espalhados pelo País, que contam com sites destinados a divulgar catálogos e vender esse nobre produto a preços de custo (ou até menos). À medida que a cultura digital se expande, aumentam, pois, as possibilidades das editoras e, sobretudo, de quem as abastece de novidades, os escritores, de chegar mais rápida e comodamente aos seus destinatários potenciais: os leitores.

Dadas as dimensões do País, será a internet, com certeza, a grande semeadora de cultura e educação, concretizando o sonho do poeta Castro Alves que escreveu, em determinado trecho do poema “O livro e a América”:

“Ó bendito o que semeia
livros, livros à mancheia
e manda o povo pensar...”



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