Livro
eletrônico
Pedro J. Bondaczuk
Há quem entenda que o livro
eletrônico, editado e distribuído apenas na internet (ou seja, o não-impresso),
seja boa solução para uma estréia literária, face às dificuldades (que já foram
muitíssimo maiores) de se conseguir uma editora que livre o escritor
principiante do ineditismo.
Essa pode vir a ser, até, boa
saída, mas no futuro (talvez até muito mais próximo do que se acredita). A
tendência é que, em mais algumas décadas, desapareçam todos os impressos
(jornais, revistas, livros etc.), dada a crescente escassez de papel. A procura
é cada vez maior e a oferta nem sempre é suficiente para atender toda a
demanda. Ademais, esse produto, de tamanha utilidade nos tempos atuais, traz
uma série de inconvenientes na sua produção. O maior, é a tremenda poluição
ambiental que produz.
No presente, por maior que seja o
seu círculo de amigos, o escritor principiante conseguirá vender um livro
eletrônico (se conseguir, claro), quando muito o suficiente para recuperar o
investimento (pois esse tipo de edição não é gratuito). É verdade que o valor
despendido é relativamente baixo e acessível à maioria dos bolsos. A maior
parte das pessoas, porém, ainda não se habituou a ler livros na telinha do
computador. Um dia, certamente, haverá de se habituar.
O sonho de todo o escritor
principiante, porém, é o de publicar sua obra em papel, em encadernação de luxo
e, se possível, em uma grande editora, em que não tenha qualquer despesa com a
edição. São muito raros, no entanto, os que conseguem isso, mesmo os que já
tenham nome firmado no mercado editorial e gozem de amplo prestígio, não raro
com cadeira cativa na Academia Brasileira de Letras que o torne “imortal”
(enquanto dure, parodiando Vinícius).
Sugiro que em vez de partir para
o livro eletrônico (embora não me oponha a ele), o escritor novato divulgue,
isto sim, o máximo que puder, seus textos, quer no jornal da sua cidade, quer
no do sindicato, quer na internet etc. Ou seja, que aprenda a “vender” sua
imagem e, sobretudo, seu nome. Isso, sem dúvida, facilitará bastante suas
futuras negociações com editoras, embora não sejam garantias de sucesso (essas
sequer existem).
Se o escritor novato tiver
perseverança, um pouquinho de sorte e, sobretudo, muito talento, conseguirá,
quem sabe, que lhe abram as portas e talvez consiga se firmar na atividade. Se
não tiver nada disso... De pouco (na verdade de nada) adiantará lanças um, dez,
cem, mil livros eletrônicos, pois não conseguirá atrair leitores dada a
imperfeição do seu texto. E sem estes...
A educação é o único caminho
possível para o desenvolvimento econômico, político e social sustentável do
País. Esse é um dos poucos pontos em que há consenso nacional, sem que haja
nenhuma voz discordante. Não se educa, porém, nenhuma pessoa (ou povo) sem
livros. E nesse aspecto, ou seja, no da difusão desse fundamental meio de
instrução e de cultura, o Brasil deixa, ainda, muito a desejar.
Recentes estudos revelam que, dos
quase seis mil municípios do País, somente pouco mais de cem contam com
livrarias. E estas existem só em grandes cidades e em algumas de porte médio.
Nas pequenas... nem pensar.
Ademais, o preço dos livros é
ainda muito alto para os padrões de renda do brasileiro. Poderiam e deveriam
ser mais baratos, para que todos tivessem condições de comprá-los, por se
tratar de produto essencial à sobrevivência da civilização.
Além disso, as aulas de
literatura, nas escolas, carecem de atratividade. Professores despreparados e
desmotivados não sabem, por sua vez, como para motivar os alunos a lerem, mesmo
que apenas as obras fundamentais da nossa literatura. Fica, para o estudante, a
falsa impressão de que ler é um exercício enfadonho e chato. Não é.
Tudo isso dificulta o exercício
de que as pessoas mais necessitam em seu processo educativo: a leitura. A
internet, todavia, poderá solucionar – se não no curto, pelo menos no médio
prazo – esse problema. De olho nesse filão ainda pouco explorado, mas de
potencial quase infinito, as editoras investem, mais e mais, no chamado
e-commerce de livros, “criando” uma livraria virtual onde quer que exista um
computador.
Além disso, há, hoje, inúmeros
sebos espalhados pelo País, que contam com sites destinados a divulgar
catálogos e vender esse nobre produto a preços de custo (ou até menos). À
medida que a cultura digital se expande, aumentam, pois, as possibilidades das
editoras e, sobretudo, de quem as abastece de novidades, os escritores, de
chegar mais rápida e comodamente aos seus destinatários potenciais: os
leitores.
Dadas as dimensões do País, será
a internet, com certeza, a grande semeadora de cultura e educação,
concretizando o sonho do poeta Castro Alves que escreveu, em determinado trecho
do poema “O livro e a América”:
“Ó bendito o que semeia
livros, livros à mancheia
e manda o povo pensar...”
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