Grande
desafio
Pedro J. Bondaczuk
Muitos escritores consideram a
redação de um romance como o grande desafio de suas vidas. Às vezes, têm, há
anos, uma boa história na cabeça e não sabem como desenvolvê-la. Entendem que
colocá-la em forma de conto, ou de novela, seria um desperdício. Há os que
arregaçam as mangas e partem para a luta. Às vezes conseguem concluir o
romance, publicá-lo e vê-lo se transformar em sucesso de vendas. Outras vezes,
no entanto... desistem no meio do caminho, desanimados diante de tanto
trabalho.
Salvo exceções, esse é um gênero
que nos consome um tempo enorme. Dizem que Camilo Castelo Branco, premido por
dívidas, para acalmar os credores, escreveu dois livros (e que livros!), “Amor
de salvação” e “Amor de perdição” em irrisórias 48 horas. Se for verdade (e não
há razões objetivas para colocar isso em dúvida), é um caso raro. Raríssimo.
Caso o escritor seja organizado e
se dedique exclusivamente à literatura, o tempo médio para a redação de um
romance é por volta de seis meses. Destaque-se que a parte mais árdua da tarefa
não é a redação em si. É o processo que se segue a ela, ou seja, o da
“des-redação” (perdoem o neologismo um tanto deselegante), do corte de tudo o
que for supérfluo e desnecessário, da retirada da escória, da ganga bruta que
impede o glorioso brilho do pequenino diamante. É bastante comum que as 600
páginas que você escreveu, em seu ímpeto criativo, se reduzam, ao cabo desse
processo, a 200, se tanto. Quem já escreveu algum romance sabe do que estou
falando.
Há métodos e métodos para contar
uma boa história nos parâmetros desse gênero literário. Alguns, desenvolvem-na
do começo ao fim, num só sopro, e só depois fazem as devidas correções,
reparando as inevitáveis contradições, paradoxos e, sobretudo, absurdos. Não
recomendo esse procedimento. É muito mais trabalhoso do que parece.
Da minha parte, prefiro agir como
os bons arquitetos. Faço, antes, um “projeto” da história a ser narrada, ou
seja, um bom resumo, como a planta de uma casa. Depois, vou desenvolvendo a
construção, meticulosamente, parte por parte, do alicerce ao teto. Funciona.
Há quem se coloque na pele do
principal personagem e faça toda a narrativa na primeira pessoa. Outros, porém,
preferem assumir a postura quase que de uma divindade, que tudo vê (até os
pensamentos e sentimentos alheios) e tudo sabe, e desenvolvem suas histórias
dessa maneira.
Há quem faça a narrativa em linha
reta, com começo, meio e fim. Por outro lado, há os que comecem as narrativas
por onde deveria ser o final, retroagindo depois ao princípio, para desembocar
exatamente onde começaram. Minha opção, com múltiplas variações, é pelo que
alguns chamam de “ação em média ré”. Ou seja, a história começa com determinado
acontecimento, volta ao princípio para explicá-lo, com a devida apresentação
dos antecedentes e finda com as conseqüências.
Claro que um tema dessa natureza
não se esgota em ligeiras considerações como estas. Exorto-o, todavia, escritor
amigo, a aceitar o desafio que você, certamente, a cada dia, faz a si próprio e
a pôr no papel aquela grande história que você tem, há anos, na cabeça. Mas não
relute. Comece já, e boa sorte. Quem sabe você não será o best-seller da vez!!!
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