Guerra
favorece líderes da aliança
A relação dos políticos e países que colheram
vantagens, de uma forma ou de outra, em decorrência da guerra do Golfo Pérsico,
desde a invasão das tropas iraquianas ao Kuwait até a expulsão dos soldados de
Saddam Hussein do emirado, é bastante extensa.
Um beneficiário óbvio da crise foi o presidente
norte-americano George Bush, que fez valer a sua liderança no mundo e restaurou
sua popularidade interna, em franca baixa. O mesmo ocorreu com o sucessor de
Margaret Thatcher, o primeiro-ministro britânico John Major, que acabou ficando
mais popular até do que sua protetora quando da expulsão dos argentinos das
Ilhas Malvinas.
A população da Grã-Bretanha chegou a esquecer,
momentaneamente, sua repulsa ao “Poll Tax”, o impopularíssimo imposto predial
per capita, para voltar toda a sua atenção para o drama que se desenvolvia nas
areias da Arábia Saudita, Kuwait e Iraque.
Nessa mesma linha de raciocínio, outro beneficiado
foi o presidente francês, François Mitterrand, que dominou, por muito tempo, as
manchetes dos meios de comunicação ao divergir dos aliados quanto à questão
palestina e propor, nas Nações Unidas, em setembro de 1990, que a questão de
uma conferência internacional para debater a ocupação israelense da Cisjordânia
e Faixa de Gaza fosse incluída nas negociações com Saddam Hussein para que este
retirasse pacificamente suas tropas do emirado invadido.
É claro que sua proposta não tinha chances de êxito
naquela oportunidade, como a discussão desse problema, no âmbito pretendido,
não as tem agora e possivelmente jamais terá. Israel nunca irá devolver essas
terras tomadas numa guerra, a dos Seis Dias de 1967 e muito menos admitir a
criação de um Estado hostil ali. É impossível que um estadista tarimbado não
saiba disso.
Mikhail Gorbachev também não deixou de lucrar.
Aliás, a crise toda lhe foi providencial. Talvez, se ela não existisse, o
mentor da Perestroika há tempos já estaria afastado da vida pública, escrevendo
suas memórias.
A Operação Tempestade do Deserto serviu, sobretudo,
de biombo, para esconder da opinião pública internacional a repressão militar
contra os lituanos, com a intempestiva ocupação, por parte dos Boinas Negras,
dos retransmissores de televisão da Lituânia, em Vilnius, que redundou em
mortos e feridos.
É verdade que houve protestos internacionais contra
essa demonstração extemporânea e desnecessária de força. Mas estes não foram
nem sombra do que seriam se a guerra não estivesse em andamento no Golfo
Pérsico.
Ademais, o líder do Cremlin reforçou sua imagem de
pacifista, ao propor sucessivos planos para a retirada iraquiana do Kuwait, sem
que fosse necessária a operação militar terrestre para isso. Embora suas
propostas não houvessem sido aceitas, ele ficou bem com todo o mundo.
O Ocidente expressou gratidão pela tentativa e por
Gorbachev não mudar de opinião quanto ao apoio incondicional à ação aliada para
dar uma lição em Saddam Hussein. O regime iraquiano, por outro lado, vislumbrou
no gesto do presidente soviético um sinal da antiga “amizade” que teria ligado
os dois povos, embora não suficiente para apagar a sensação de traição que
ficou, na cúpula militar do Iraque, em relação à posição oportunista da União
Soviética.
(Artigo publicado na página 19, Internacional, do
Correio Popular, em 1º de maio de 1991)
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