Sunday, July 17, 2016

Líder carismático


Pedro J. Bondaczuk


O Partido Democrata dos Estados Unidos tem, em suas fileiras, um político com um perfil muito parecido com o do atual presidente norte-americano, Ronald Reagan. Em seu Estado goza de grande popularidade, que vem crescendo à medida em que se desenvolve a sua administração, marcada pela competência e pela probidade.

Pode-se afirmar, inclusive, que em termos de aceitação junto ao eleitorado, ele supera, juntos, todos os demais pré-candidatos do seu partido à corrida pela Casa Branca. Só que ele não está nesta disputa, por uma decisão pessoal, anunciada ainda em janeiro do ano passado, quando as candidaturas mal estavam sendo esboçadas. Trata-se do governador novaiorquino Mário Cuomo.

Muitos observadores nos Estados Unidos entendem que a sua manifestação pública de que ficaria afastado da luta sucessória de 1988 não passa de uma hábil estratégia. Estaria baseada na sua constatação da ausência de lideranças nacionais dentro do Partido Democrata.

De acordo com o entendimento desses analistas, o político estaria numa espécie de “regra de três”. Ou seja, esperaria que as pesquisas, que certamente vão ser feitas em grande profusão neste ano, mostrassem que nenhum dos pré-candidatos tem cacife para enfrentar o possível postulante republicano à Casa Branca, o vice-presidente George Bush, que além de sua própria habilidade, conta com os recentes sucessos, em termos de entendimento com a URSS, do presidente Ronald Reagan. Se isso viesse a acontecer, o nome do governador de Nova York surgiria como a salvação dos democratas aos olhos dos convencionais.

Mário Cuomo, no entanto, nega que seja essa a sua intenção. Afirmou, em várias ocasiões, que a máxima magistratura do país não o atrai, pelo menos neste momento. Caso ele se mantenha aferrado a essa posição, o partido terá que apostar, mesmo, no ex-senador pelo Colorado, Gary Hart, que está visivelmente desgastado diante dos eleitores, por causa do escândalo extraconjugal em que se envolveu, quando teria mantido um romance com a atriz e modelo Donna Rice, fartamente explorado pela imprensa.

Há quem diga que este é o momento dos democratas ousarem e investirem no pastor Jesse Jackson, o único outro nome que o partido dispõe no momento que é conhecido nacionalmente. Estes entendem que o país evoluiu muito no que diz respeito a direitos civis. E que o fato do pregador ser negro, não irá influenciar na escolha do eleitorado.

De qualquer forma, pode estar surgindo um outro Reagan, pelo menos com um carisma idêntico ao do ex-governador da Califórnia, só que num outro partido. Dificilmente Cuomo resistirá e ficará fora desta parada.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 12 de janeiro de 1988).


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